quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Peixe, legumes, fosfatos exportados para a Europa: O tão rico Sahara Ocidental




O artigo, da autoria de Olivier Quarenta, é publicado na última edição do reputado «Le Monde Diplomatique» - março 2014

A questão do Sahara Ocidental tem cada vez mais a ver com o desenvolvimento económico de Marrocos. Os territórios que Rabat apelida de "províncias do sul" contribuem significativamente para as receitas de exportação do reino. Os partidários da independência contestam a legalidade da exploração.

Na estrada principal que liga a maior cidade do norte do Sahara Ocidental – El Aaiún – a Dakhla, mais de 500 quilómetros para sul, existem inúmeros camiões que transportam polvo e peixe branco. A região possui 1.200 km de litoral, e as suas águas estão entre mais ricos os pesqueiros do mundo. De acordo com um relatório do Conselho Económico, Social e Ambiental (CESE ) de Marrocos,  o setor das pescas representa 64 mil postos de trabalho, a que há que acrescentar uma importante atividade não declarada, representando 17% do produto interno bruto (PIB) do território, 31% dos postos de trabalho locais e 78 % das capturas de Marrocos. A pesca nas " províncias do sul " – como é oficialmente conhecido por Marrocos o Sahara Ocidental - gera uma enorme riqueza. O Reino apropriou-se dele em 1975, quando anexou o território considerado " não-autónomo" pela resolução 2072 da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em 1965.

Por esta estrada única e perigosa, passam outros veículos, que podem levar tomates, pepinos e melões produzidos perto de Dakhla. De acordo com a organização não-governamental (ONG) Western Sahara Resource Watch, nos arredores da cidade existem onze centros de produção agrícola, incluindo o da sociedade Tawarta. A estufa desta sociedade estende-se ao longo da estrada, pelo menos quinhentos metros. Nesta unidade agrícola, produzem-se tomate e cerejas vendidos sob o nome de "Estrela do Sul", marca de propriedade da empresa francesa Idyl. Injustamente carimbados com "Produzido em Marrocos" essas culturas, que cobriam cerca de seiscentos hectares em 2008, são em seguida exportados para a Europa via Agadir (Marrocos), a 1200 km de distância.


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