O Presidente
da República Árabe Saharaui Democrática (RASD) e Secretário-geral da Frente
Polisário, Brahim Ghali, concedeu uma entrevista ao Jornal Tornado e ao
Porunsaharalibre, durante a sua visita de Estado a Moçambique.
No final de
um programa intenso de contactos institucionais em Maputo a todos os níveis,
ficou claro que o Estado e povo moçambicano defendem os princípios de respeito
pelo direito da autodeterminação dos povos e assim continuarão o seu apoio
incondicional ao povo saharaui como foi reafirmado em todas as intervenções por
parte do Presidente Filipe Nyusi, assim como por parte da Frelimo, de todos os
representantes dos partidos com assento parlamentar e de organizações que
representam a sociedade civil.
Brahim Ghali
é um homem calmo, com uma presença forte, um líder por natureza, recebe-me
vestido com a Daraa branca, traje tradicional saharaui que envergou durante
toda a visita de Estado, e que é a afirmação de identidade nacional e cultural.
O chá
saharaui não falta, fonte de energia e ao mesmo tempo símbolo de partilha. A
voz tranquila e forte do líder militar que agora é o líder do seu povo
transmite uma convicção absoluta na vitória da justiça, a autodeterminação do
povo saharaui e a edificação de um Estado.
A recente
adesão de Marrocos à União Africana (UA) foi tema transversal em todos os
encontros e discursos onde ficou claro que muitos países se opuseram ao facto,
que o país que ocupa o Sahara Ocidental de forma ilegal, fosse admitido antes
de se solucionar o conflito e a descolonização fosse terminada. Não obstante
foi também referido que agora que o Reino Alauita se encontra no seio da UA o
quadro político foi alterado e Marrocos deve respeitar o texto fundador da
organização continental respeitando as fronteiras herdadas do colonialismo
europeu.
Sr. Presidente, num quadro político
novo, com Marrocos no seio da UA, o que espera da Comunidade Internacional?
Estou seguro
que a UA saberá conduzir Marrocos de forma a respeitar a acta constitutiva que
assinou, apesar de que é conhecido por sempre violar os seus compromissos
internacionais, e não acatar as suas responsabilidades reiteradas e confirmadas
a que se comprometeu com as Nações Unidas e a União Africana.
A pedido do
Equador, estado membro do Conselho de Segurança (CS), foi convocada uma reunião
do CS sobre a situação no Sahara Ocidental, esperamos que António Guterres, SG
da ONU, consiga dar o impulso necessário e obter o apoio do CS para avançar na
aplicação da missão das Nações Unidas na região (MINURSO -Missão das Nações
Unidas para a realização do Referendo do Sahara Ocidental) que é levar a cabo,
de uma vez por todas, a descolonização da ultima colónia de África e permitir
ao povo saharaui a sua autodeterminação, independência e construção do seu
próprio estado à semelhança de todos os Estados deste continente.
A entrada de
Marrocos na União Africana criou uma nova atmosfera que deve ser aproveitada
pelo Conselho de Segurança e desta forma evitar o pior para a região.
A impaciência da juventude saharaui
perante o status quo da situação que
se arrasta há mais de duas décadas, desde o cessar fogo, é evidente. O Sr.
Presidente está em contacto constante e direto com o exército e com a sua
população, gostaria de saber se sente que o povo saharaui continua unido e se
esta união transborda os campos de refugiados para os territórios ocupados,
territórios libertados e a diáspora?
Diria que
não é só a juventude… a inquietude e a preocupação abarca toda a sociedade
saharaui, claro que se diferencia entre os jovens e os mais velhos, adultos que
acumulam mais experiencia. Mas estamos a falar de uma juventude consciente,
organizada e que segue as orientação da Frente Polisario, estamos muito
decepcionados com a atuação das Nações Unidas e do Conselho de Segurança que
deveriam ter cumprido e assumido a sua responsabilidade de organizar o
referendo para a autodeterminação, coisa que não fizeram até ao momento, mas
isso não afecta o apego do nosso povo aos seus direitos. Todo o povo Saharaui
esta organizado na sua vanguarda, a Frente Polisario e recebe e respeita as
orientações do seu governo e do seu movimento de libertação nacional. Estou
seguro que o povo Saharaui está mais unido que nunca e mais apegado aos seus
direitos que nunca, ansioso de poder exercer a sua autodeterminação o mais
rapidamente possível e construir o seu Estado independente. Este Estado será um
factor de paz e estabilidade na região. Todo o povo Saharaui está muito
preocupado com a falta de atuação da comunidade internacional sobretudo do CS,
do qual se esperava que pusesse fim à rebeldia de Marrocos contra a lei
internacional.
Existem mais de 70 presos políticos
saharauis nas prisões marroquinas, a 13 de Março continuará o julgamento do
Grupo conhecido por Gdeim Izik, qual a mensagem para eles?
A nossa
solidariedade com eles é total, a RASD tem um comité de acompanhamento do
processo. Iniciou-se uma campanha nacional e internacional de solidariedade com
estes presos políticos e esta campanha continuará até ao dia da sua liberdade,
a liberdade deles e a liberdade do povo Saharaui.
Todos os
Saharauis estão solidários com os seus presos políticos e é o nosso desejo que
saiam destas prisões injustas marroquinas o mais rapidamente possível.
A nível pessoal
transmito-lhes a minha solidariedade e desejo que tenham ânimo.
A nossa
vitória é certa, é uma questão de tempo e o povo saharaui alcançara os seus
objectivos, a independência e a construção do seu Estado. Estes presos estarão
presentes nessa vitória.
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