Jira Bulahi, máxima dirigente da Frente Polisario em Espanha |
Com o conflito
enquistado há mais de 40 anos, a representante da Frente Polisario em Espanha confia
que, em breve, o seu povo possa decidir o seu futuro, «dê Marrocos ou não o seu
braço a torcer»
Jira Bulahi é
o equivalente a embaixadora dos saharauis em Espanha. Participou recentemente na
Universidade de Alicante nas III jornadas sobre o Sahara Ocidental e as universidades
públicas valencianas.
Qual neste momento a situação da causa
saharaui?
Estamos num
dos melhores momentos, já que ocorreram uma série de avanços e conquistas. A nível
de África, foi-se consolidando a posição dos estados africanos em diferentes
linhas. Por um lado, para a resolução do conflito, uma vez que perceberam que o
Sahara é a última colónia e, portanto, é uma questão de soberania, uma mancha
no avanço do território africano. Os estados africanos estão também preocupados
com a situação política e a questão dos direitos humanos no Sahara.
Contam também com o respaldo da Europa?
Na Europa as
várias sentenças dos tribunais de justiça deixaram patente as questões-chave que
perpetuam esta violação dos direitos humanos. Estas sentenças deixam bem claro
que qualquer pacto com Marrocos é aceitável sempre que não abarque os territórios
saharauis. Deixa também claro que quem tem a soberania sobre os recursos desses
territórios é o povo saharaui e que o representante desse povo é a Frente Polisario.
Acha que Marrocos irá dar o braço a
torcer para acabar com este conflito que remonta há mais de 40 anos?
Este
conflito vai ser resolvido. Se, finalmente, Marrocos vai dar o braço a torcer é
algo em que não entramos, já que persiste em não querer ouvir e conta com o
beneplácito de muitos países europeus. É uma questão de justiça e um exemplo
para todos aqueles que pensaram que este conflito ia durar 4 dias e não há já 42
anos transitando de geração em geração. Por outro lado, o Marrocos tem muitos
problemas internos. É um regime decadente que em 1975 procurou os recursos do
Saara, não para o benefício do povo mas da própria monarquia.
Qual o papel da Espanha?
Espanha
fomentou este conflito ao não concluir um processo de descolonização ou ao não entregar
o território às Nações Unidas. Portanto, Espanha deve ser parte da solução e
não do problema, porque a paz no Magrebe passa pela solução do conflito saharaui.
Mas há uma Espanha oficial e depois há a cidadania, que é quem alivia o
sofrimento da população refugiada, compensando o deficit da ajuda humanitária, a
que infunde uma dose de incentivo à população. É a cidadania quem ajuda a a salvaguardar
valores, como a língua, e é ela quem acolhe as crianças saharauis em suas casas,
superando o tema da guerra.
Qual a situação atual do povo
saharaui?
A crise
afetou muito a ajuda humanitária e o desenvolvimento, o que afeta diretamente a
cesta básica das famílias, embora os saharauis tenham aprendido que os reveses se
convertem em vitórias, na medida em que ao fim e cabo saem sempre reforçados.
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