domingo, 27 de janeiro de 2019

A luta pacífica do povo saharaui tem rosto de mulher





Fonte e fotos: El Diario / Por Maialen Ferreira (@maialenferreira) - Raabub fugiu da sua terra natal, o Sahara Ocidental, nos braços dos seus pais enquanto eram bombardeados pelo Exército marroquino. Antes de saber falar, jé era uma refugiada saharaui. Muitos deles não sobreviveram aos bombardeamentos. Os que o conseguiram, tiveram que construir do nada os acampamentos de refugiados.

Aichetu Yeslem nasceu nesses acampamentos. Com 25 anos, uma das coisas que mais lamenta tal como muitos outros jovens saharauis, é nunca ter pisado o solo do Sahara Ocidental.

Ambas puderam desenvolver as suas carreiras profissionais com êxito. Raabub, com apenas 12 anos foi estudar para Cuba sem saber quando voltaria a ver a sua família e agora, com 44 anos, é médica no Hospital Universitário Araba, em Vitória. (nota da tradução: Após ter acabado a sua licenciatura em Cuba, Raabub veio para Portugal com o apoio de uma família portuguesa. Aqui estudou arduamente para realizar o exame na Ordem dos Médicos que a possibilitou exercer a Medicina em Portugal e no Espaço Europeu, beneficiando da possibilidade que muitos refugiados tiveram por abertura do Estado Português e pela intervenção determinante da Fundação Calouste Gulbenkian nesse processo. Exerceu a sua profissão durante alguns anos no Hospital de Almada onde deixou muitas saudades entre pacientes, colegas e enfermeiros, e todos aqueles que tiveram o privilégio de com ela privar e com a sua adorada família).

Aichetu, acaba de graduar-se em Ciências Políticas na UPV (Universidade do País Basco) e não descarta a possibilidade de tirar um Mestrado no próximo ano na mesma universidade. Mas o que têm em comum é que, apesar dos seus êxitos académicos e profissionais num país estrangeiro, não perdem de vista a sua responsabilidade e compromisso para com a luta do seu povo.

"Exercer a sua profissão, seja médico, enfermeiro, engenheiro, mas não deixar de ajudar o povo saharaui em determinadas situações. Se vês que podes exercer naquilo em que estudaste mas, ao mesmo tempo, empenhando-te na ajuda pessoal de alguma forma ao teu povo, contribuindo com o que está ganhando, na saúde, na educação, então perfeito. Claro, desde que haja médicos e professores e que não estejamos todos aqui enquanto nos campos não há médico que possam ajudar", explicou Aichetu durante a palestra Sahrawi Women: dignity and resistance, que se realizou em Bilbao.

As mulheres construíram a maioria dos campos de refugiados e administram toda a sua organização. Os pilares das estruturas dos campos são mulheres e também entre os que ficaram nos territórios ocupados desempenham um papel importante:

“São torturadas, são violadas, são presas, mas elas prosseguem porque estão convencidas de que estão a lutar por uma causa justa. Não queremos nada de ninguém, queremos o que nos corresponde por direito. Roubaram-nos o mais importante, que é ter um lugar no mundo”, afirma Raabub.

"É muito claro de que lado está a política espanhola"

“O compromisso de Espanha com o Sahara Ocidental desde sempre foi nulo. Em 1975, quando falavam do então referendo, abandonam-no debaixo da mesa firmando os Acordos Tripartidos de Madrid, abandonando o povo saharaui no meio do nada, fazendo um tratado ilegítimo com Marrocos. A primeira viagem que fez o novo Rei foi a Marrocos e a primeira viagem que efectuou o atual presidente do Governo de Espanha também foi a Marrocos, fica pois claríssimo de que lado está a política espanhola. A nível das bases dão-nos apoio, mas a cúpula do poder vira-nos as costas”, assegura Aichetu, que integra também a Associação de Jovens Saharauis de Euskadi.

O que esta jovem pede é que as Nações Unidas supervisionem a violação dos direitos humanos sofridos pela população saharaui nos Territórios Ocupados, uma vez que eles são "constantes e sistemáticos", como refere. Atentados que, como diz, são vistas e sentidos por toda a população saharaui e que vão desde a impossibilidade de se manifestarem, até não poderem se encontrar em suas próprias casas por serem ativistas. Além disso, exige que se investigue como está o Território Ocupado militarizado, já que 90% dos observadores internacionais que vão ao Sahara Ocidental não podem entrar porque Marrocos os proíbe de entrar.

"O que mais teme Marrocos é o resultado final. Que um referendo seja realizado e que nós escolhamos o nosso destino. Mas o que tem sido demonstrado em todos esses anos é que o seu papel é o de impedir para que ele nem sequer possa ser realizado ", atalha Raabub.

Raabub é presidente da Associação Humanitária Doutora Behitua, que apoia mulheres atingidas pelo conflito no Sahara Ocidental e gostaria que a União Europeia fizesse um acordo a três e que a Frente Polisario fizesse parte desse acordo. Além disso, sublinha que os saharauis não teriam nenhum problema no futuro em se relacionar com outros países e muito menos com "países a que estiveram ligados quase um século", como a Espanha.

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