Fonte
e fotos: El
Diario / Por Maialen Ferreira (@maialenferreira) - Raabub
fugiu da sua terra natal, o Sahara Ocidental, nos braços dos seus
pais enquanto eram bombardeados pelo Exército marroquino. Antes de
saber falar, jé era uma refugiada saharaui. Muitos deles não
sobreviveram aos bombardeamentos. Os que o conseguiram, tiveram que
construir do nada os acampamentos de refugiados.
Aichetu
Yeslem nasceu nesses acampamentos. Com 25 anos, uma das coisas que
mais lamenta tal como muitos outros jovens saharauis, é nunca ter
pisado o solo do Sahara Ocidental.
Ambas
puderam desenvolver as suas carreiras profissionais com êxito.
Raabub, com apenas 12 anos foi estudar para Cuba sem saber quando
voltaria a ver a sua família e agora, com 44 anos, é médica no
Hospital Universitário Araba, em Vitória. (nota da tradução: Após
ter acabado a sua licenciatura em Cuba, Raabub
veio para Portugal com o apoio de uma família portuguesa. Aqui
estudou arduamente para realizar o exame na Ordem dos Médicos que a
possibilitou exercer a Medicina em Portugal e no Espaço Europeu,
beneficiando da possibilidade que muitos refugiados tiveram por
abertura do Estado Português e pela intervenção determinante da
Fundação Calouste Gulbenkian nesse processo. Exerceu a sua
profissão durante alguns anos no Hospital de Almada onde deixou
muitas saudades entre pacientes, colegas e enfermeiros, e todos
aqueles que tiveram o privilégio de com ela privar e com a sua
adorada família).
Aichetu,
acaba de graduar-se em Ciências Políticas na UPV (Universidade do
País Basco) e não descarta a possibilidade de tirar um Mestrado no
próximo ano na mesma universidade. Mas o que têm em comum é que,
apesar dos seus êxitos académicos e profissionais num país
estrangeiro, não perdem de vista a sua responsabilidade e
compromisso para com a luta do seu povo.
"Exercer
a sua profissão, seja médico, enfermeiro, engenheiro, mas não
deixar de ajudar o povo saharaui em determinadas situações. Se vês
que podes exercer naquilo em que estudaste mas, ao mesmo tempo,
empenhando-te na ajuda pessoal de alguma forma ao teu povo,
contribuindo com o que está ganhando, na saúde, na educação,
então perfeito. Claro, desde que haja médicos e professores e que
não estejamos todos aqui enquanto nos campos não há médico que
possam ajudar", explicou Aichetu durante a palestra Sahrawi
Women: dignity and resistance, que se realizou em Bilbao.
As
mulheres construíram a maioria dos campos de refugiados e
administram toda a sua organização. Os pilares das estruturas dos
campos são mulheres e também entre os que ficaram nos territórios
ocupados desempenham um papel importante:
“São
torturadas, são violadas, são presas, mas elas prosseguem porque
estão convencidas de que estão a lutar por uma causa justa. Não
queremos nada de ninguém, queremos o que nos corresponde por
direito. Roubaram-nos o mais importante, que é ter um lugar no
mundo”, afirma Raabub.
"É
muito claro de que lado está a política espanhola"
“O
compromisso de Espanha com o Sahara Ocidental desde sempre foi nulo.
Em 1975, quando falavam do então referendo, abandonam-no debaixo da
mesa firmando os Acordos Tripartidos de Madrid, abandonando o povo
saharaui no meio do nada, fazendo um tratado ilegítimo com Marrocos.
A primeira viagem que fez o novo Rei foi a Marrocos e a primeira
viagem que efectuou o atual presidente do Governo de Espanha também
foi a Marrocos, fica pois claríssimo de que lado está a política
espanhola. A nível das bases dão-nos apoio, mas a cúpula do poder
vira-nos as costas”, assegura Aichetu, que integra também a
Associação de Jovens Saharauis de Euskadi.
O
que esta jovem pede é que as Nações Unidas supervisionem a
violação dos direitos humanos sofridos pela população saharaui
nos Territórios Ocupados, uma vez que eles são "constantes e
sistemáticos", como refere. Atentados que, como diz, são
vistas e sentidos por toda a população saharaui e que vão desde a
impossibilidade de se manifestarem, até não poderem se encontrar em
suas próprias casas por serem ativistas. Além disso, exige que se
investigue como está o Território Ocupado militarizado, já que 90%
dos observadores internacionais que vão ao Sahara Ocidental não
podem entrar porque Marrocos os proíbe de entrar.
"O
que mais teme Marrocos é o resultado final. Que um referendo seja
realizado e que nós escolhamos o nosso destino. Mas o que tem sido
demonstrado em todos esses anos é que o seu papel é o de impedir
para que ele nem sequer possa ser realizado ", atalha Raabub.
Raabub
é presidente da Associação Humanitária Doutora Behitua, que apoia
mulheres atingidas pelo conflito no Sahara Ocidental e gostaria que a
União Europeia fizesse um acordo a três e que a Frente Polisario
fizesse parte desse acordo. Além disso, sublinha que os saharauis
não teriam nenhum problema no futuro em se relacionar com outros
países e muito menos com "países a que estiveram ligados quase
um século", como a Espanha.
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