A
Fundação José Saramago vai iniciar uma campanha para criação de
uma biblioteca nos campos de refugiados do Sahara Ocidental, apelando
à entrega de livros na sua sede, em Lisboa.
“Uma
parte da nossa atividade, ou um dos objetivos da fundação, é a
defesa dos Direitos Humanos e é neste âmbito que estamos nesta
campanha de solidariedade, não esquecendo direitos elementares e
básicos que são a autodeterminação e a independência de um
povo”, afirmou, em declarações à Lusa, Idália Thiago, da
Fundação José Saramago.
A
campanha FOI apresentada ONTEM, ao final do dia na sede, “dia do
aniversário da República Árabe Democrática Saharaui”, que
reivindica soberania sobre todo o território do Sahara Ocidental, “a
única colónia ainda ocupada em África, ocupada por Marrocos”.
“É
uma questão que queremos levantar, porque se trata de uma questão
de Direitos Humanos básica e que está desde 1976 nesta situação.
Uma parte da população está nos territórios que estão ocupados,
com grandes dificuldades e pressão, e outra parte está refugiada em
acampamentos numa área de terreno cedida pela Argélia”, referiu
Idália Thiago.
Nos
acampamentos, os refugiados “criaram uma espécie de país”, com
o nome de cada um a “corresponder ao nome das cidades principais da
terra deles”.
Desde
1976 que estas populações “sobrevivem com apoio solidário, de
vários países europeus”.
“Sendo
que ali falta quase tudo, nós lembrámo-nos que esta coisa dos
livros, não sendo uma coisa prioritária para a sobrevivência,
também é uma coisa que faz falta para quem está o ano inteiro ali.
Portanto, lembrámo-nos que este podia ser um bom contributo nosso”,
explicou Idália Thiago.
José Saramago quando visitou a saharaui Aminetou Haidar em greve de fome |
A
apresentação de hoje servirá para “lançar a proposta, para que
as pessoas façam chegar livros, de preferência em espanhol, porque
é a segunda língua da maioria dos miúdos, e que depois serão
entregues” nos acampamentos.
“É
a partir daqui que vamos fazer o apelo a toda a gente, estruturas,
associações, quem quiser, que se junte à campanha para a recolha
dos livros. Depois iniciamos o processo para fazermos a entrega lá”,
referiu Idália Thiago.
A
criação da biblioteca não passa pela construção de um edifício,
“até porque não há edifícios, há casas construídas em adobe
nos acampamentos”.
“O
nosso papel é entregar a biblioteca completa”, disse, referindo
prever que essa entrega seja feita “no início de dezembro”.
Quanto
ao número de livros que podem vir a compor a “biblioteca
completa”, Idália Thiago referiu que “aquilo que se conseguir
recolher será de certeza bem-vindo, para um sítio onde não há
nada”.
Segundo
a fundação, em 2009 José Saramago, à chegada a Lanzarote, “fez
questão de visitar” Aminetu Haidar, ativista pelos direitos do
povo Saaraui, que cumpria no aeroporto daquela ilha das Canárias,
Espanha, uma greve de fome que durou 32 dias.
Dessa
forma, o Nobel da Literatura manifestou “o seu apoio à sua luta e
à luta de todo aquele povo”.
A
fundação lembra ainda que José Saramago disse que “Marrocos em
relação ao Sahara transgride tudo aquilo que são as normas de boa
conduta”.
“Desprezar
os Saarauis é a demonstração de que a Carta dos Direitos Humanos
não está enraizada na sociedade marroquina, que não se rebela com
o que se faz ao seu vizinho, e que é a prova de que Marrocos não se
respeita a si próprio - quem está seguro do seu passado não
necessita expropriar quem lhe está próximo para expressar uma
grandeza que ninguém jamais reconhecerá”, defendeu.
“Porque
se o poder de Marrocos alguma vez acabasse por vergar os saharauis,
esse país admirável por muitas e muitas coisas, teria obtido a mais
triste vitória, uma vitória sem honra, nem glória, erguida sobre a
vida e os sonhos de tanta gente, que apenas quer viver em paz na sua
terra, em convivência com os seus vizinhos para que, em conjunto,
possam fazer desse continente um lugar mais feliz e habitável”,
acrescentou.
Lusa
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