24 de Junho de 2020 - PUSL.- Nos últimos 10 dias chegaram várias “pateras” (embarcações clandestinas que transportam migrantes) às
Ilhas Canárias originárias do Sahara Ocidental Ocupado com 62 infectados com Covid-19.
Segundo a agência EFE só nos últimos dias, houve 25 infectados entre os 68 ocupantes de dois barcos que partiram de El Aaiún e que chegaram a Fuerteventura.
Estes são apenas os casos conhecidos, visto que muitos migrantes não sobrevivem à travessia do Atlântico de cerca 110km e outros chegam sem serem detectados.
A rota é conhecida e é utilizada tanto por migrantes subsaarianos como por Saharauis que fogem do clima de terror e apartheid nos territórios ocupados pelo regime
Marroquino.
A chantagem sobre Espanha
Todo o processo é conhecido tanto pelas autoridades como do próprio governo Marroquino que fecha os olhos e utiliza a migração ilegal como um meio de
pressão sobre a União Europeia.
No dia 23 de Junho numa entrevista à rádio, García-Margallo, que foi Ministro dos Assuntos Estrangeiros e Cooperação do Governo da Espanha do PP
de 2011 a 2016, reconheceu em entrevista no programa “En Cerrados” apresentado por Alberto Benzaquén, o uso da imigração ilegal por de Marrocos e pressão na fronteira para chantagear
Espanha e condicionar sua política externa na África.
Canárias: destroços de uma «patera» oriunda do Sahara Ocidental ocupado |
A Rota
Vários países africanos não necessitam de vistos de entrada para Marrocos. Os africanos destes países e outros chegam a Casablanca e Marraquexe onde contactam
com os traficantes de pessoas conhecidos como “intermediários”
Esses intermediários têm contactos em El Aaiun, Dakhla, Bojador, nos territórios ocupados do Sahara Ocidental.
Mohamed, um activista de direitos humanos explica-nos todo o trajeto.
“Os migrantes ilegais são transportados para os territórios ocupados desde Agadir, escondidos em viaturas dos intermediários, passam os inúmeros
check-points com subornos à Gendarmarie e aos policias.
Este transporte só é feito após se confirmarem as condições atmosféricas favoráveis e as peças para os barcos “pateras”
estarem já nos territórios ocupados.
As peças de madeira para construir os barcos vêm de Esaouira para Agadir e são transportadas em camiões relacionados com a pesca para os territórios
ocupados onde são montados em locais secretos.
Depois da travessia que demora cerca de 24 horas mas pode demorar mais se tiverem que esperar pelo cair da noite, as “pateras” são incendiadas ou destruídas.
Os que sobrevivem à travessia dizem que entraram na Europa com “um visto de Deus”.
Tudo isto é feito com o conhecimento e conivência de Marrocos para além dos funcionários que recebem subornos, o próprio Estado marroquino fecha
os olhos.
Marrocos “deixa” migrantes ilegais chegarem às costas de Espanha continental e Ilhas como uma forma de pressionar a UE a dar mais subvenções mas
também de “castigar” a UE sempre que há decisões desfavoráveis a Marrocos na questão do Sahara Ocidental.
Covid-19 nos territórios ocupados
Os verdadeiros números de infectados com Covid-19 nos territórios ocupados do Sahara Ocidental não são conhecidos e há manipulação
da realidade por parte do Governo Marroquino não só no Sahara Ocidental como no território legitimo de Marrocos.
Estes casos de migrantes infectados mostram que há cadeias de transmissão activas e que os infectados estiveram em contacto com traficantes, motoristas e nos locais
de espera com um número significativo de pessoas que se movimentam nas cidades dos territórios ocupados.
Para além destes casos existem os “Casos oficiais” como o foco publicado ontem pelo Ministério de Saúde Marroquino de 12 infectados em El Marsa uma
localidade perto de El Aaiun num empresa ligada às pescas.
Segundo um activista Saharaui dos territórios ocupados:
“Marrocos alegou tomar medidas preventivas antes que a quarentena fosse levantada, mas isso foi apenas propaganda falsa.
Marrocos é responsável pela propagação do Covid 19 no Sahara Ocidental desde o primeiro momento.
Deixaram entrar colonos e pescadores sem qualquer tipo de controle. Marrocos é responsável por difundir informações falsas, colocando em risco a população
saharaui e não preparando os hospitais e médicos além de não ter realizado testes.
Os hospitais, principalmente o hospital central dos territórios ocupados em El Aaiun parecem mais aterros sanitários do que hospitais. Não há higiene,
não há desinfecção.
Na minha opinião Marrocos deve ser acusado de querer espalhar o vírus intencionalmente nos territórios ocupados.
A população está com medo.”
Fonte: Por Un Sahara Libre
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