quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Espanha entregou o ativista saharaui Faisal Bahloul aos seus carrascos em Marrocos



As autoridades do Estado espanhol cometeram mais um ato ignóbil contra o Povo Saharaui ao entregar às forças policiais marroquinas de ocupação da sua antiga colónia um ativo militante da causa da autodeterminação e independência.

Trata-se, como refere o artigo aqui reproduzido, de uma atitude já recorrente das autoridades de Madrid, que avilta e revolta. Sobretudo num momento em que Marrocos chantageia e amesquinha há meses a fio o Governo de Pedro Sanchez para que tome uma posição abertamente favorável à ocupação do Sahara, ao ponto de o levar a “invadir”, a 17 de maio, o território de Ceuta com um exército de deserdados e crianças (mais de 10.000 segundo a imprensa de Espanha), muitos dos quais morreram afogados no Mediterrâneo.

Embora então o protesto de Espanha se tenha manifestado - cauteloso e muito comedido como habitualmente -, oficial e publicamente ele não foi mais violento do que aqueles que tem sido alvo agora o Presidente da Bielorússia, Aleksandr Lukashenko, alegadamente causador da pressão migratória clandestina na fronteira com a Polónia.

O Palácio da Moncloa e o ministério de Relações Exteriores de Espanha não se dão ao respeito com um regime policial e corrupto como é o de Mohamed VI e ignoram, apunhalam e espezinham os anseios de liberdade e de independência de um povo que colonizaram durante séculos e que abandonaram e entregaram ao seu algoz em novembro de 1975.

A Associação das Famílias dos Presos e Desaparecidos Saharauis (AFAPREDESA) afirma que a Espanha violou a IV Convenção de Genebra e a Convenção contra a Tortura ao entregar a Marrocos o ativista saharaui Faisal Bahloul. Nada mais certo.

Uma nota última. As alegações policiais de Marrocos, e pelos vistos também das autoridades de segurança do Estado espanhol, são sempre “… de aliciamento ao terrorismo, bla,bla,bla…”. Mas há que dizer bem claro e com toda a frontalidade: nunca a Frente Polisario, desde a sua criação em 10 de maio de 1973, defendeu qualquer tipo de ideologia de terror ou desencadeou qualquer tipo de ações terroristas, ou visou alvos e populações civis. Embora podendo-o fazer e ter meios para tal…

A luta de libertação que desencadeou e continua a travar há quase 50 anos, restringe-se ao plano militar, visando objetivos estritamente militares. Foi assim no princípio contra o exército colonial de Espanha e a sua Legion e é hoje contra as Forças Armadas Reais marroquinas. A saudosa poetisa portuguesa Natália Correia gostava sempre de o sublinhar.


O ministro do Interior espanhol, o “socialista” Grande-Marlaska


(ECS) 17-11-2021. - A delegação de agência noticiosa espanhola EFE em Rabat assegurou que o ativista saharaui, Faisal Baloul, foi detido em março na cidade espanhola de Basauri por instar a cometer "ações terroristas" contra os interesses e pessoas marroquinas.
A EFE cita fontes familiarizadas com o caso que, segundo a agência, é uma expulsão administrativa e que Faisal já aterrou esta quarta-feira no aeroporto de Casablanca acompanhado por agentes da polícia espanhola que o tinham entregue às autoridades.
Após a entrega do ativista saharaui na terça-feira à tarde às autoridades policiais marroquinas, a imprensa de Marrocos retomou o caso, expressando a sua satisfação e saudando o gesto de Espanha. "Hoje, as unidades da polícia judiciária prenderam o separatista pró-Polisário, Faisal Baloul, no aeroporto de Casablanca", assim rezava uma nota emitida pelo núcleo duro da propaganda do Majzen: Le360 e o Hesspres.
No seu artigo, o Le360 congratula-se com a decisão espanhola de entregar, segundo o digital marroquino, “um inimigo separatista da integridade territorial”, um pró-Polisário e defensor da causa saharaui.
Para Faisal, esperam-no a tortura e a prisão por criticar publicamente o regime marroquino. Este militante há muito que denuncia nas redes sociais a repressão marroquina no Sahara Ocidental, as prisões injustas, lançando luz sobre a agitação social em Marrocos e a corrupção naquele país.
Segundo a EFE-Rabat, na altura da detenção, o Ministério do Interior espanhol, dirigido pelo “socialista” Grande Marlaska, informou que Faisal, que foi preso em Espanha por ordem do tribunal, foi altamente radicalizado e utilizou os seus perfis em redes sociais para encorajar ações "terroristas e violentas" contra o povo e instituições marroquinas em Espanha e no estrangeiro. No entanto, nunca houve declarações do ministro d Interior, nem o caso foi discutido. Espanha tem mais de 120 marroquinos acusados de terrorismo, ou que cometeram ações terroristas contra a população espanhola, mas que nunca foram deportados para o seu país. Como é então possível que a Espanha expulse um saharaui procurado por Marrocos alegando ações terroristas que o visariam?
Não é a primeira vez. Há cinco anos, outro jovem saharaui foi preso em Sevilha pela polícia espanhola por ter criticado duramente o regime de Mohamed VI nos grupos WhatsApp, as autoridades espanholas fizeram as mesmas acusações; "preparando ações terroristas contra os interesses marroquinos em Espanha e ameaçando a vida do próprio rei Mohamed VI".
Num outro caso semelhante mas ainda mais grave, a 17 de janeiro de 2019, o governo espanhol entregou às autoridades marroquinas outro ativista saharaui que chegou às Ilhas Canárias de barco fugindo das forças de repressão e que estava detido num centro de detenção em Lanzarote (Canárias).
Este ativista saharaui, que solicitou proteção e asilo político em Espanha, foi transferido a 17 de janeiro para a cidade marroquina de Nador (norte de Marrocos), onde foi diretamente para o tribunal. O conhecido ativista saharaui Husein Uld Bachir Uld Brahim (alias Saddam), do grupo Uali, tinha um pedido de asilo político pendente em Espanha, ele não podia acreditar no que estava a acontecer. A polícia espanhola expulsou-o e foi entregue às autoridades marroquinas onde permanece numa prisão marroquina por ter participado em manifestações pela a autodeterminação do povo saharaui.
A investigação, sempre segundo a EFE-Rabat, pois nunca houve um veredito ou sentença sobre o caso, começou em dezembro de 2020, quando agentes espanhóis "tomaram conhecimento da atividade" de um indivíduo que publicou ameaças extremamente graves e violentas através de redes sociais contra o regime de Mohamed VI.
Esta operação, acrescenta a EFE, foi realizada por agentes da Polícia Geral de Informação sob a coordenação do Ministério Público da Audiência Nacional e a supervisão de um tribunal em Basauri, e teve a colaboração das brigadas de informação das localidades de Las Palmas de Gran Canaria, Tenerife, San Sebastián e Bilbao.


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