Brahim Ghali |
Acampamentos de refugiados - Dakhla (ECS/SPS/AAPSO).- Brahim Ghali, líder histórico e um dos fundadores da Frente POLISARIO, foi reeleito esta sexta-feira para um terceiro mandato como secretário-geral do referido movimento e presidente da República Árabe Saharaui Democrática (RASD).
Ghali, considerada uma das vozes mais duras e influentes da liderança saharaui, obteve 69% dos votos dos 2.097 congressistas reunidos desde sexta-feira passada no campo de refugiados de Dakhla.
Segundo a Comissão Eleitoral, Ghali recebeu 1.253 votos a favor (69%) e zero contra, enquanto o seu oponente na disputa pela liderança da Frente POLISARIO, Bachir Mustafá Sayed - também ele um histórico do movimento e irmão do líder icónico El-Ouali, morto em combate em 9 de junho de 1976 - , obteve 563 dos votos dos congressistas. Dos 2097 delegados ao Congresso, votaram 1870, e registaram-se 54 votos nulos.
O relator da Comissão Eleitoral, Mohamed Mohamed Ismail, destacou que a Comissão não registou entraves que pudfessem impedir os congressistas e delegados de cumprir seu dever e direito eleitoral.
Bachir Mustapha Sayed obteve 31% dos votos dos congressistas |
A Frente Popular de Libertação de Saguía el Hamra e Río de Oro (POLISARIO) iniciou a 13 de Janeiro o seu XVI Congresso Ordinário na “wilaya de Dakhla”, Campo de Refugiados Saharauis. Um acontecimento de transcendente importância no futuro da causa saharaui por se tratar do primeiro Congresso desde o regresso à guerra num contexto internacional e regional em reconfiguração geopolítica.
O Congresso, instância máxima de decisão do povo saharaui, realizou-se sob o lema "Pela intensificação da luta armada para expulsão da ocupação e plena soberania", reflexo da convicção da Frente Polisario na conquista da plena independência de todo o território nacional. O conclave recorda também a figura do mártir Mhamed Jadad, destacado militante e diplomata saharaui falecido em abril de 2020.
A maratona de debates que marcou o Congresso da Frente Polisário empurrou para hoje, à tarde, a eleição da nova direção do movimento de libertação do Sahara Ocidental, cujos trabalhos deveriam ter terminado terça-feira passada.
Os delegados aprovaram quarta-feira por maioria emendas à Constituição da Polisario, que continua a incluir como requisito a “experiência em combate” dos candidatos a secretário-geral do movimento que luta pela independência do Sahara Ocidental desde 1975.
Entre as emendas ao estatuto da Frente Polisario figuram a redução de 29 para 27 os membros da diretoria (secretaria-geral) e a exclusão, por inerência, das organizações de massas na direção da Polisario.
Os delegados votaram também o "programa nacional" para os próximos três anos, com a estratégia focada na luta armada contra Marrocos e a atualizada Constituição da RASD.
O congresso deu como prioridade a intensificação da luta contra a ocupação marroquina, posição que obteve um amplo consenso, além de avançar na diplomacia e melhorar a gestão da situação nos campos de refugiados.
Que desafios o Ghali enfrenta?
Nos últimos anos, o conflito saharaui sofreu uma mudança qualitativa, mas agora enfrenta uma situação grave devido aos contínuos bloqueios do Processo de Paz liderado pela ONU para encontrar uma solução permanente que garanta o direito do povo saharaui à autodeterminação e independência.
Por isso, os observadores concordam que no âmbito interno da Frente Polisario, o principal desafio que Ghali enfrenta é esse bloqueio no Plano de Resolução. Durante os dois anteriores mandatos de Ghali, a questão saharaui sofreu alterações qualitativas; declarou guerra a Marrocos sem a desaprovação do Conselho de Segurança, melhorou a dinamização diplomática da RASD no estrangeiro e conseguiu abrir várias embaixadas na América Latina, bem como consolidar a posição da República Saharaui em África, entre outras coisas.
Quanto aos desafios externos, o reeleito presidente saharaui vai adoptar uma postura dura face a Marrocos, nomeadamente no que diz respeito à guerra em curso no território.
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