CARTÃO VERMELHO ÀS VIOLAÇÕES DOS DIREITOS HUMANOS NO CAMPEONATO MUNDIAL DE FUTEBOL 2030!
Condenámos a participação do Reino de Marrocos na organização do Campeonato do Mundo de Futebol 2030, cuja candidatura tripartida, com Espanha e Portugal, antecipadamente vencedora, é formalmente apresentada hoje. Reiteramos essa condenação, porque no desporto não pode haver lugar para países cujos regimes violam sistematicamente os Direitos Humanos e se servem dele para lavar a sua imagem.
Num tempo em que provamos todo o horror e amargura que um conflito sem fim é capaz de criar, estamos, com este gesto de branqueamento consentido, a incorrer no mesmo erro.
A FIFA, entidade máxima responsável pelo evento, afirma: ”Dois continentes – África e Europa – unidos não só numa celebração do futebol, mas também numa coesão social e cultural única. Que grande mensagem de paz, tolerância e inclusão”. Sem corar de vergonha, os nossos governos, de Espanha e Portugal, já o tinham afirmado antes e insistem em repeti-lo.
Em que coesão social e cultural entre dois continentes pensam, quando duas democracias, arduamente saídas de duas prolongadas ditaduras, se aliam a uma ditadura que perdura e se afadiga na construção da sua impunidade?
De que paz falam quando Marrocos mantém uma ocupação ilegal do território não-autónomo do Sahara Ocidental desde 1975, apesar de todas as resoluções das Nações Unidas que proclamam o princípio inalienável do direito à autodeterminação dos povos? Território onde recomeçou a guerra em novembro de 2020, por falta justamente de perspectivas de um acordo de paz.
A que tolerância e inclusão se referem quando as execuções extra-judiciais, os raptos e desaparecimentos forçados, as prisões arbitrárias e julgamentos ilegais, os cercos prolongados a casas de famílias, a intimidação e a violência, são o dia a dia dos saharauis na sua terra ocupada, e também dos marroquinos que não desistem do seu país?
Não podemos dizer que ignoramos as consequências dos conflitos que a comunidade internacional finge que não existem, nem das políticas de “dois pesos e duas medidas”, nem da passadeira vermelha estendida aos regimes que cometem crimes sancionados pelo Direito Internacional. O amor e o entusiasmo pelo desporto não justificam que sejamos cúmplices, pelo contrário, exigem que sejamos coerentes.
Não podemos olhar para o lado perante a falta de defesa dos Direitos Humanos e de coerência nas abordagens que, após anos e anos de incapacidade por parte da comunidade internacional, conduzem a conflitos armados como o que opõe a República Saharaui ao Reino de Marrocos, actualmente em guerra, e com a correspondente dor, sofrimento e morte.
Não nos cansaremos por isso de denunciar não só as práticas ilegais e lesivas dos Direitos Humanos do Reino de Marrocos, mas também a cobertura que os governos dos nossos países cinicamente lhes dão. Nunca será em nosso nome!
28 Outubro 2023
Coordenadora Estatal das Associações Solidárias com o Sahara Ocidental (CEAS) - Espanha Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental (AAPSO)
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