sábado, 30 de março de 2024

Tensão frente às costas do Sahara Ocidental e Canárias


 

Correo Diplomático Saharaui - março 30, 2024 

Para os observadores, estas manobras navais marroquinas são uma mensagem dirigida aos membros da União Europeia, que pretende reafirmar "a sua soberania" sobre o território ocupado do Sahara Ocidental.

A tensão é grande nas águas próximas das ilhas Canárias, no Atlântico. Marrocos vai efetuar unilateralmente manobras militares navais nas águas do Sahara Ocidental ocupado. Estas operações da marinha marroquina tiveram início esta sexta-feira e deverão prolongar-se por três meses consecutivos.

Estes exercícios terminarão no próximo dia 28 de junho e terão lugar ao largo da costa sul do território saharaui. Este anúncio provocou reacções em Espanha, em particular nas Ilhas Canárias. O vice-ministro da presidência do governo autónomo das Canárias alertou o governo central espanhol, presidido por Pedro Sánchez, para as manobras militares que Marrocos pretende levar a cabo.

O governo regional exprimiu também a sua "preocupação" junto do Ministério dos Negócios Estrangeiros pela importância destas manobras militares marroquinas em águas próximas das Ilhas Canárias, mas sobretudo pela sua projeção e duração.

Durante a conferência de imprensa que se seguiu ao Conselho do Governo, Cabello afirmou que Marrocos estava a realizar estas manobras "unilateralmente", sem ter consultado o seu vizinho ibérico.

Para os espanhóis, a preocupação é particularmente dirigida aos pescadores, que foram proibidos de se deslocar às zonas visadas pelas manobras marroquinas. A informação foi divulgada pela imprensa espanhola, nomeadamente pelo jornal de língua espanhola El Confidencial, que publicou um comunicado do Ministério da Agricultura marroquino dirigido aos pescadores que pescam nas zonas afectadas pelos exercícios.

O documento emitido pelas autoridades marroquinas informa os pescadores e os profissionais dos exercícios marítimos iminentes. O documento indica as zonas geográficas exactas onde se realizarão os exercícios da marinha marroquina, bem como as datas previstas, e insta os pescadores interessados a evitarem essas regiões durante esse período e a tomarem todas as medidas de segurança necessárias.

De acordo com as informações fornecidas, estes exercícios serão realizados todos os dias, das 7h às 20h, e cobrirão três zonas costeiras das cidades de Agadir, e especialmente as cidades saharauis ocupadas, como El Aaiún e Dakhla, e estender-se-ão por uma distância de 2 milhas náuticas, ou seja, cerca de 3.704 quilómetros.

O que é mais curioso neste anúncio é o facto de estas manobras terem sido praticamente decididas apenas dois dias antes da publicação das conclusões da advogada-geral do Tribunal de Justiça da União Europeia, Tamara Carpeta, sobre o processo em curso entre a Comissão Europeia, o Conselho da União Europeia e o movimento independentista Frente Polisario, relativamente ao acordo de comércio e pescas entre a União Europeia e o Reino de Marrocos.

É evidente que Rabat procura já antecipar-se a qualquer decisão judicial e quer manter a todo o custo o seu controlo sobre o território e os recursos naturais saharauis. Para os observadores, estas manobras navais marroquinas são uma mensagem aos membros da União Europeia, que pretende reafirmar "a sua soberania" sobre o território ocupado.

Perante esta notícia, o Partido Popular de Canárias, partido político liberal-conservador de Espanha, não tardou a manifestar a sua preocupação com a realização destes exercícios navais em águas territoriais saharauis. Consequentemente, a direita espanhola pediu esclarecimentos ao governo espanhol sobre estas manobras, sublinhando a sua consternação perante o silêncio do executivo espanhol.

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