Naama-asfari no campo da dignidade de Gdeim Izik em 2010 |
Correo Diplomatico Saharaui - 17-05-2024 | Figura da luta do povo do Sahara Ocidental pelo seu direito à autodeterminação nos territórios ilegalmente ocupados por Marrocos desde 1975, Ennaâma Asfari está "arbitrariamente detido desde 2010 em Marrocos", afirma o diário francês "L'Humanité" que lhe dedicou, na quarta-feira, um artigo sob o título "Ennaâma Asfari, detido há 14 anos sem provas por Marrocos".
"O preso político saharaui, militante do direito à autodeterminação, está detido arbitrariamente desde 2010 em Marrocos", afirma o jornal, que conseguiu contactá-lo na prisão de Kenitra.
Sublinhando que "há catorze anos que está cercado por muros intransponíveis", o jornal recorda que Ennaâma Asfari foi raptado em El Ayoun ocupado a 7 de novembro de 2010, na véspera do desmantelamento violento pelas autoridades marroquinas do acampamento de protesto organizado pela sociedade civil saharaui em Gdeim Izik.
"Juntamente com 24 dos seus companheiros, foi acusado do assassínio de vários polícias implicados nesta operação repressiva, embora já não se encontrasse no local", revela o diário francês.
Em 2013, no final de um processo injusto, continua o jornal, "um tribunal militar condenou estes activistas sem provas a penas que vão de vinte anos de prisão a prisão perpétua".
2010, Gdeim Izik, Sahara Ocidental: o maior protesto civil nos territórios ocupados por Marrocos
"Três anos mais tarde, esta sentença foi anulada em virtude de uma reforma que proíbe a comparência de civis perante um tribunal militar", indica o jornal, que recorda, neste contexto, que o Comité contra a Tortura da ONU condenou Marrocos no caso Asfari, assinalando uma sentença proferida com base em confissões obtidas sob tortura.
"Novo julgamento, desta vez civil, e nova farsa jurídica.
Veredicto: trinta anos de prisão para Naâma Asfari e penas severas para os seus companheiros. Todos proclamam a sua inocência. Espalhodas por sete prisões, são objeto de torturas físicas e psicológicas, de perseguições e de novos isolamentos. A sua saúde está a deteriorar-se", lamenta "L'Humanité".
Segundo este jornal, as conversas telefónicas destes detidos "são restringidas" e "as chamadas para os seus advogados são controladas".
Claude Mangin-Asfari, a esposa do preso saharaui, durante
a greve de fome que rrealizou em 2018
"No ano passado, o Grupo de Trabalho sobre Detenções Arbitrárias do Conselho dos Direitos do Homem das Nações Unidas apelou ao governo marroquino para que libertasse imediatamente estes detidos e remeteu o assunto para o Relator Especial sobre a tortura e outras penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.
Descrevendo o quotidiano "monótono" dos prisioneiros e a disciplina intelectual e física a que está sujeito "para aguentar, para continuar", Ennaâma Asfari, que pôde falar com "L'Humanité" por telefone, afirma ter passado o tempo a ler "muitos estóicos e existencialistas".
"Gosto de Sartre e Camus. Neste momento, estou imerso em “O Ser e o Nada” (de Jean-Paul Sartre). A partir daí, fiquei com a ideia de que a existência é menos um problema a resolver do que uma forma de vida. Escolhi viver como um homem livre.
É por isso que tento viver esta experiência com coragem, paciência e consciência", declarou a partir da prisão de Kenitra, afirmando que os seus companheiros de prisão têm dificuldade em lidar com a provação psicológica do confinamento. "É difícil. Cada um lida com a sua depressão da melhor forma possível", acrescentou.
Referindo-se à separação da sua família, em particular da sua mulher Claude Mangin-Asfari, que está proibida de permanecer em Marrocos, Ennaâma Asfari diz que "é um teste para ela também. Mas transformou-a, tal como me transformou a mim. Reforça a nossa convicção de que estamos no bom caminho, num mundo que está longe de dar valor a este tipo de luta que estamos a travar e a viver, ela e eu".
Em 2018, esta professora, eleita em Ivry-sur-Seine (Val-de-Marne), fez uma greve de fome de trinta dias para denunciar esta violação do seu direito de visita. Envergonhadas, as autoridades francesas chegaram a um compromisso com Rabat que lhe permitiu viajar para Kenitra.
Mas desde então, nada.
Além disso, os presos políticos saharauis estão isolados do mundo exterior, segundo Ennaâma Asfari, que defende que eles estão "pouco informados" mas apercebem-se "da desordem, do caos que reina no mundo".
"O que está a acontecer agora em Gaza mostra que o caminho para a libertação de um povo não é fácil. O preço a pagar é elevado", disse ao jornal francês, afirmando, no entanto, que "apesar da repressão nos territórios ocupados, do exílio, da indiferença da comunidade internacional, temos de continuar a lutar com todos os meios possíveis para sair deste status quo que dura há cinquenta anos".
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