Centenas de pessoas, de várias raças, género e idades, desceram este sábado a Avenida da Liberdade, em Lisboa, na primeira Marxa Cabral em Portugal organizada pelo Movimento Negro.
"Amílcar Cabral, unidade e luta. Contra o racismo e a xenofobia", foram as palavras com que a Marxa (marcha, em crioulo) Cabral arrancou da Praça do Marquês de Pombal animada por batucadeiras, fortes sons de tambores, muitos gritos e vivas a Cabral, o líder africano e anticolonialista que faria este ano 100 anos de idade.
Em 1972 Amílcar Cabral afirmava na IV Comissão (sobre Descolonização) da Assembleia Geral da ONU:
Amílcar Cabral (1924-1973)
"A resolução sobre a descolonização [1960] (...) comprometeu a própria ONU a fazer todo o possível para acabar com a dominação colonial onde quer que ela se encontre, a fim de facilitar o acesso de todos os povos colonizados à independência nacional".
(nascido em Bafatá, na então Guiné Portuguesa, actual Guiné-Bissau, a 12 de setembro de 1924), Amílcar Cabral foi um lúcido político, tendo-se formado em Agronomia em Lisboa. Conhecia profundamente o seu país colonizador, o regime ditatorial que então o governava e o povo português. Nunca confundiu um e outro. Ao contrário, considerava o povo português um aliado. E afirmava:
"(...) nós temos uma longa caminhada juntamente com o povo português. Não foi decidido por nós, não foi decidido pelo povo português, foi decidido pelas circunstâncias históricas do tempo da Europa das Descobertas e pela classe de "antanho", como se diz em português antigo; mas é verdade, é isso! Há essa realidade concreta! Eu estou aqui falando português, como qualquer outro português, e infelizmente melhor do que centenas de milhares de portugueses que o Estado português tem deixado na ignorância e na miséria. [...] Nós marchamos juntos e, além disso, no nosso povo, seja em Cabo Verde seja na Guiné, existe toda uma ligação de sangue, não só de história mas também de sangue, e fundamentalmente de cultura, como o povo de Portugal. [...] Essa nossa cultura também está influenciada pela cultura portuguesa e nós estamos prontos a aceitar todo o aspecto positivo da cultura dos outros".[in Tomás Medeiros (2012). “A Verdadeira Morte de Amílcar Cabral”]
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