Já o afirmei muitas vezes neste blog: a agência oficial de imprensa
marroquina, a tristemente famosa MAP, não é fiável. O dar fiabilidade a uma
"informação" da MAP, sem a confirmar, levou o correspondente e Rabat
da prestigiada agência espanhola, EFE, a cometer um gravíssimo erro informativo
que, espero, possa ser reparado no interesse dos seus leitores. Em síntese: a
MAP primeiro e depois outros meios marroquinos, publicaram que o Secretário de
Estado norte-americano, John Kerry, teve no dia 30 de abril uma reunião com uma
delegação marroquina de alto nível. O problema é que o correspondente em Rabat
da agência EFE também se fez eco desta informação que, no entanto, é FALSA.
I. A MAP, UMA AGÊNCIA
OFICIAL DE IMPRENSA MUITO PARTICULAR
Os media críticos do majzen,
como o "Demain" recordam que a MAP é uma agência, mas não
precisamente da imprensa informativa. As relações entre a MAP e os serviços secretos
são notórias, basta dizer que o atual chefe do serviço secreto exterior foi antes
diretor da MAP. O problema reside no facto de ainda, ainda…!!, haver meios que continuam
a dar credibilidade a uma agência como esta.
II. A ÚLTIMA (POR AGORA)
INTOXICAÇÃO DA MAP: JOHN KERRY RECEBE UMA DELEGAÇÃO DE ALTO NÍVEL MARROQUINA
A MAP (dirigida
agora por um dos maiores aduladores de Mohamed VI, acusado também de participar
em tarefas "informativas" não precisamente jornalísticas), voltou
a intoxicar a opinião pública "informando" sobre um encontro do Secretário
de Estado norte-americano, John Kerry, com uma delegação marroquina de alto nível
composta por Taieb Fassi-Fihri (ex-ministro de Negócios Estrangeiros e conselheiro
do rei), Yasín Mansuri (chefe do serviço secreto exterior marroquino, e ex-diretor
da MAP) e Yusef Amrani (formalmente vice-ministro dos Negócios Estrangeiros mas,
de facto, ministro dos Exteriores por ser da confiança de Mohamed VI).
Segundo a MAP, a 30 de abril, Kerry recebeu estas três personalidades
que se encontravam de visita a Washington.
A "informação" foi publicada também por algumas publicações
alegadamente ou realmente críticas e independentes (como LAKOME - a 30
de abril-; YABILADI e
DEMAIN ONLINE- a 1 de maio-).
III. A INTOXICAÇÃO É
DIFUNDIDA PELO CORRESPONDENTE DA AGÊNCIA EFE EM RABAT
O problema é quando a agência EFE faz de megafone às
"informações" fabricadas pela MAP.
A 30 de abril, a
EFE publica isto:
Rabat, 30 abr (EFE).- Uma delegação marroquina foi recebida
hoje em Washington pelo secretário de Estado dos EUA, John Kerry, após as
divergências entre ambos países quanto à situação dos direitos humanos no Sahara
Ocidental.
Segundo a agência oficial marroquina MAP, a delegação era
composta pelo conselheiro real Tayeb Fassi Fihri, o ministro delegado dos
Negócios Estrangeiros, Youssef Amrani, e pelo chefe dos serviços de inteligência
exteriores, Yasin Mansuri.
IV. UMA INTOXICAÇÃO, COMPROVADA CONTRASTANDO
COM A INFORMAÇÃO
Parece desnecessário recordar que um jornalista deve confirmar
a informação, sobretudo quando a fonte tem um longo historial de intoxicações e
falsificações. Que jornalistas que têm que viver sob a dominação do majzen possam fazer o jogo da MAP não parece
justificável mas é humanamente compreensível. Mais difícil é compreender que um
jornalista espanhol caia nisso. Porque suponho que o correspondente da EFE em Rabat
é espanhol...
O único problema em toda esta história é... que esse encontro
de Kerry com a delegação marroquina nunca teve lugar. Assim o desmascarou uma publicação
saharaui, "La Tribune du
Sahara", no dia 2 de maio.
Mas se alguém quer as provas, tem-nas aqui.
Esta é a página OFICIAL do Departamento de Estado norte-americano
com a agenda de
John Kerry do dia 30 de abril.
A leitura da página oficial do Departamento de Estado norte-americano
deixa claro, CLARÍSSIMO, que NÃO HOUVE NENHUMA REUNIÃO DE JOHN KERRY COM UMA DELEGAÇÃO
MARROQUINA A 30 DE ABRIL DE 2013.
V. UMA MENTIRA QUE
COMPLICA MAIS AINDA AS RELAÇÕES DOS EUA COM A DINASTIA ALAUITA
A dinastia alauita obteve, sem dúvida, uma vitória
diplomática com a aprovação da resolução 2099 do Conselho de Segurança que não atribui
à MINURSO competências de supervisão do respeito dos direitos humanos no Sahara
Ocidental.
Uma vitória que não é um triunfo final.
O facto de falsificar a agenda do Secretário de Estado norte-americano
é um ato gravíssimo e, que eu saiba, sem precedentes.
Mas pode ser sinal de que esta vitória está tendo um alto custo
para a dinastia alauita e seus acólitos.
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