terça-feira, 8 de outubro de 2013

A paixão saharaui de Javier Bardem

 

O ator espanhol Javier Bardem fez sua a causa dos saharauis porque, diz, sendo espanhol sente-se responsável pela sorte desse povo.

Bardem esteve esta segunda-feira em Londres para a projeção do seu documentário “Hijos de las nubes” no âmbito do Festival de cinema espanhol de Londres e um dia antes da película estar disponível para ser visto online, na plataforma iTunes.

“Há muitas coisas más no mundo. Que razões me levaram a escolher esta? Porque sou espanhol”, explicou o ator – vencedor do Óscar em 2007 pelo seu papel em "No Country for Old Men" – depois de uma exibição privada do filme em Londres.

O documentário, de 2012, narra a relação de Bardem com o Sahara Ocidental, antiga colónia espanhola no noroeste de África, situada frente às ilhas Canárias, assim como o enfrentamento do seu povo com Marrocos e a situação dos mais de 200.000 refugiados saharauis na Argélia.



“Como espanhóis, somos responsáveis pela situação”, insiste, em referência à saída precipitada das forças espanholas do Sahara em 1975, sem defender os saharauis da invasão marroquina.

No seguimento da tomada do território seguiram-se 16 anos de combates entre a Frente Polisario saharaui e as forças marroquinas, até ao cessar-fogo de 1991, que previa a realização de um referendo em que os saharauis decidiriam se queriam juntar-se a Marrocos ou ser independentes.

O referendo não se realizou porque a Marrocos não lhe interessa – segundo os testemunhos do documentário, entre os quais o do ex-ministro francês dos Negócios Estrangeiros Roland Dumas ou do antigo embaixador norte-americano na ONU, John Bolton.

Bardem nasceu nas ilhas Canárias a 1 de março de 1969, tem 44 anos. “mas com 3 anos parti e cresci em Madrid”. No entanto, “tenho consciência” do problema saharaui “ quase desde o dia em que nasci, porque a mina mãe (a atriz Pilar Bardem) é uma ativista”.

“Em 2008 visitei um campo de refugiados”, por ocasião de um festival de cinema, o FISahara, que se realiza anualmente. E daí desenvolveu-se um interesse que se cristalizou no documentário.



“Nãoé o Doutor Jivago, mas levou quatro anos” a fazê-lo, recorda sobre o documentário dirigido por Álvaro Longoria. Ao contrário do que se poderia esperar, “houve gente que não se incomodava em responder ao telefonema porque sabiam que os chamava ” para serem entrevistados.

Porquê? “Porque sabiam que lhe ia perguntar pelo Sahara”. O silêncio que mais lhe dói é o das autoridades marroquinas, porque pensa que isso retira equilíbrio ao documentário, mas também o das autoridades espanholas, ainda que, afirme, “seu silêncio fala por si mesmo”.

Bardem visitou em diversas ocasiões os refugiados, mas nunca os saharauis que ficaram nas cidades do antigo Sahara espanhol, agora sob controlo marroquino, como El Aaiún ou Smara.
 
Javier Bardem e Penélepe Cruz, dois militantes da causa saharaui
“Procurámos ir mas foi impossível. Quando surgiu uma possibilidade, sabíamos que estaríamos em perigo. Não era medo, ainda que seja humano e tenha medo, mas pensámos que poderíamos fazer perigar o projeto”, argumenta o ator espanhol, pai de dois filhos da sua colega e compatriota Penélope Cruz.

O ator – e seu documentário– é particularmente critico com França e, em menor medida, com os Estados Unidos por porem-se do lado de Marrocos no conflito, por interesses económicos e velhas alianças da guerra fria, afirma.

De facto, a película não foi ainda exibida em França. “Nota-se que eles não gostam” que trates este tema.

Bardem não se importa do que possam pensar sobre a sua implicação na defesa dos saharauis. “As reações são o que menos me importa. Há tempo que não leio nada sobre o que dizem de mim”.


Fonte: terra.com / AFP

Sem comentários:

Enviar um comentário