quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Marrocos pagou a abertura de consulados no Sahara Ocidental

 


06-01-2021 - Marrocos pagou a alguns países para abrir representações diplomáticas nos territórios saharauis ocupados, afirmou esta quarta-feira a secretária-geral da Associação Francesa para a Amizade e a Solidariedade com os Povos de África (AFSPA), Michèle Decaster.

“Marrocos pagou a abertura dos consulados em Dakhla e Laâyoune sabendo-se que nenhuma comunidade pertencente a esses países (que abriram estes consulados) vive nessas zonas”, declarou ao canal 3 da Rádio da Argélia.

Esta atitude revela "a vontade do Reino de Marrocos de influenciar de forma deformada as instâncias da ONU", afirmou, lembrando que as Nações Unidas consideraram a organização de um referendo sobre a autodeterminação do povo saharaui como o melhor solução para a resolução do problema na região.

Michèle Decaster expressou a sua satisfação com a posição dos membros do Conselho de Segurança, apesar do reconhecimento, em dezembro, pelo presidente americano cessante, Donald Trump, da alegada soberania marroquina sobre o Sahara Ocidental.

Disse desejar ver o governo Biden - que assumirá funções em 20 de janeiro -, reverter a decisão de Trump, cujo anúncio ameaça pôr fim a três décadas de apoio americano ao direito do povo saharaui à autodeterminação através da implementação da resolução 690 do Conselho de Segurança de 1991.

Em 9 de dezembro, o jornal online marroquino, Le Desk, revelou que 16 países, principalmente africanos, abriram representações diplomáticas nas ocupadas Laayoune e Dakhla em troca de ajuda financeira ou material.

Entre os países que beneficiaram de ajuda marroquina, o Le Desk cita a Guiné-Bissau, cuja abertura do consulado em Dakhla em Outubro passado foi precedida do envio de uma comissão técnica marroquina para a construção de um nova sede do Ministério das Relações Exteriores da Guiné-Bissau.

“É aliás o chefe da diplomacia deste país que o anunciou, com toda a transparência, à imprensa”, indica o site que evoca também o projecto de realização de três escolas de formação profissional no país, mais a dragagem do porto de Bissau a título gracioso.

A abertura do consulado de Djibouti em Dakhla em fevereiro de 2020 foi seguida pela assinatura de um contrato "para o estabelecimento e desenvolvimento de um cais de petróleo no parque industrial Damerjog" em Djibouti.

De acordo com o mesmo site de Marrocos, as empresas marroquinas foram responsáveis ​​pela construção da sede de um ministério na Gâmbia, projectos imobiliários nas Ilhas Comores e habitação social no Haiti em troca do estabelecimento de consulados nos territórios saharauis ocupados.

No dia 23 de Janeiro, São Tomé e Príncipe abriu também um consulado em Laayoune, um mês depois de uma promessa marroquina de contribuir para o orçamento deste país na ordem de um milhão de dólares por ano, segundo Le Desk.

Abolição de vistos, concessão de bolsas de estudo, reforço de investimentos, formação de especialistas e estudantes, também estão entre as ajudas concedidas pelo Marrocos em benefício de países que abriram representações diplomáticas em Dakhla e Laâyoune, informou mesmo site.

Agência APS

 

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