segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Face a dezenas de vídeos de violência policial contra Sultana Khaya, Marrocos... acena com uma imagem tirada da cartola!

 

Omar Hilale: O embaixador de Marrocos na ONU que, com uma imagem, quer ocultar  todo o cortejo de violência de que Sultana Khaya e a sua família tem sido vítimas por parte das forças policiais marroquinas de ocupação.

(APS) 22-11-2021 - O representante permanente de Marrocos junto da ONU, Omar Hilale, atacou na quarta-feira a ativista saharaui Sultana Khaya, acusando-a de trabalhar para uma "organização separatista", referindo-se à Frente Polisario, dando assim pouca consideração ao facto de a ONU considerar há décadas o Sahara Ocidental como um território a ser descolonizado, e de o tribunal da União Europeia ter reconhecido desde Setembro passado a Frente Polisario como o único representante do povo saharaui.

Relativamente à pessoa de Sultana Khaya, em prisão domiciliária desde novembro de 2020 na sua casa em Bojador, nos territórios saharauis ocupados, o diplomata marroquino que se dirigiu aos membros do Conselho de Segurança, através de uma carta oficial, brandiu uma fotografia mostrando a activista em uniforme militar, com uma arma na mão, para provar a sua alegada "impostura".
O diplomata está certamente consciente de que é virtualmente impossível convencer uma audiência com uma simples fotografia. A história conta-nos que uma das primeiras imagens tratadas data de 1860, quando Abraham Lincoln, o 16º Presidente dos Estados Unidos, decidiu colocar o seu retrato no busto de outra pessoa. Mais de 160 anos mais tarde, a manipulação de imagem fez certamente grandes progressos.
A "prova" apresentada por Omar Hilale requer assim, ela própria, provas para a apoiar ou, no mínimo, a opinião de peritos imparciais.
E perante a fotografia de uma Sultana Khaya "militarizada", há vídeos que não enganam. São os vídeos da violência policial que a ativista tem sofrido diariamente desde que foi colocada sob prisão domiciliária. Dezenas de vídeos que mostram a polícia a abusar da ativista e dos seus familiares e que já correram mundo nas redes sociais.
No entanto, independentemente do que as autoridades marroquinas possam estar a acusar Sultana Khaya, é inconcebível que a sua casa seja regularmente invadida pelas forças de segurança e que ela e os membros da sua família sejam sujeitos a atos de violência.

Sultana Khaya: espancada e violada pelos esbirros marroquinos

Convencer a ONU e o seu Conselho de Segurança com uma simples imagem é uma tarefa difícil, para dizer o mínimo, quando as redes sociais estão cheias de vídeos que relatam exatamente o oposto da versão marroquina.
E é igualmente difícil convencer a ONU de que a Frente Polisario é uma organização "separatista", quando várias resoluções da própria ONU consideram o Sahara Ocidental como um território não autónomo, e por isso a ser descolonizado e, portanto, não sob a autoridade de Marrocos.
Por outro lado, a Frente Polisario é oficialmente considerada, desde 29 de Setembro, pelo Tribunal da União Europeia como o legítimo representante do povo saharaui. Uma decisão que apoia um veredicto que distingue claramente o Sahara Ocidental do Reino de Marrocos.
Finalmente, a República Árabe Saharaui Democrática (RASD) foi reconhecida por 80 países em todo o mundo e é um membro fundador da União Africana (UA). Todos estes dados se alinham para que a palavra "separatista" soe inequivocamente falsa.


Nota: Omar Hilale tem um vasto currículo como mandatário do regime de Mohamed VI na compra de favores e no suborno de altos funcionários das Nações Unidas. Em particular quando desempenhou o cargo de embaixador em Genebra. O vastíssimo lote de centenas e centenas de documentos confidenciais marroquinos divulgados pelo misterioso internauta Chris Coleman há uns anos e que podem ser consultados no website da organização de solidariedade suíça ARSO (https://www.arso.org/ColemanPaper.htm) comprovam a insidiosa ação do diplomata marroquino na compra de pessoas, através de compensações monetárias ou outras de todo o género, como sexuais por exemplo.

A imagem, seja ela verdadeira ou resulte de uma montagem em Photoshop, não prova coisíssima nenhuma nem desmente todo o cortejo de violência de que Sultana, a sua mãe de 84 anos, e as suas irmãs têm sido alvo.

É sabido que Sultana já visitou os acampamentos onde mais de 170 mil dos seus compatriotas vivem em condições muito difíceis há espera do tão ansiado Referendo que a ONU se comprometeu realizar. Que tenha empunhado uma “Kalashnikof” de um combatente saharaui durante essa estadia parece verosímil e o tempo só veio infelizmente demonstrar que por mais pacifistas que possam ser os ativistas saharauis, todos - diríamos sem excepção - ao longo de décadas de inércia da ONU se convenceram que só pelas armas será possível alcançar a liberdade e a independência e levar Marrocos a abdicar da sua pretensão colonial sobre o território do Sahara Ocidental e o seu povo.

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