"Você já sabe o suficiente. Eu também. Não é de informação que precisamos. O que nos falta é a coragem para compreender o que sabemos e tirarmos conclusões".
Sven Lindqvist (1932-2019) em “Exterminem todas as bestas”
Sabemos há muito tempo que processos de injustiça prolongados e que nunca mais se resolvem não podem correr bem. Sabemos que neles há maior tendência para se criarem dinâmicas explosivas e lesivas dos direitos das pessoas e dos povos.
Sabemos que o Direito Internacional é um edifício imperfeito, mas que se fosse cumprido o mundo seria mais justo. O seu não cumprimento e as políticas de “dois pesos, duas medidas” que frequentemente o iludem, viram-se contra ele e enfraquecem-no, robustecendo a lei da força.
Sabemos que nas instituições internacionais e na comunicação que se espalha pelo globo há quem seja visível e quem se mantenha invisível, menorizado, preterido.
Toda esta sabedoria pesa sobre nós, na medida em que não impediu que civis fossem chacinados pelo Hamas em Israel e que, mais uma vez, o governo israelita, na sua mentalidade colonialista, tivesse lançado uma operação de “castigo colectivo” sobre a população de Gaza, prelúdio do genocídio do povo da Palestina e de mais um intento de expulsão dos sobreviventes do seu território.
Conhecemos este tipo de situações, acompanhamos solidariamente o povo do Sahara Ocidental, que há meio século luta pelo fim de um processo de descolonização que o Direito Internacional consagra com toda a clareza. Todos os povos merecem ser ouvidos, os seus direitos precisam de ser reconhecidos, tudo o que se faça contra eles passará por tragédias impensáveis, já sabemos.
Denunciamos o acordo entre Marrocos e Israel, selado contra a vontade da maioria do povo marroquino, apenas com o objectivo de ganhar os favores dos EUA no âmbito da questão do Sahara Ocidental, em detrimento do povo saharaui e do povo da Palestina. Uma aliança entre uma ditadura e um regime de apartheid nunca é uma boa notícia, e constitui um perigo para todos os povos da região norte-africana.
Enquanto gota de água no oceano, mas porque compreendemos o que sabemos, e nos juntamos a outras pessoas e organizações de todo o mundo, que também compreendem, e querem tirar as devidas conclusões, solidarizamo-nos com o povo da Palestina, o seu sofrimento e a sua tenacidade, e desejamos que mais cedo do que tarde os seus direitos sejam restabelecidos e reconhecidos.
AAPSO
16 Outubro 2023
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