sexta-feira, 29 de março de 2013

A luta pelos fosfatos: 1.250 milhões de euros por ano




A luta que, desde há quase quatro décadas, Marrocos iniciou pelo controlo de Sahara espanhol tem causas muito mais tangíveis das que o ideário aluíta tende a outorgar-lhe. Uma densa rede de interesses históricos, económicos e geoestratégicos permitem a Marrocos uma ampla margem de impunidade no seu constante impulso anexionista sobre o Sahara Ocidental. O Reino de Marrocos aufere cerca de 1.250 milhões de euros por ano com os fosfatos saharauis. Ao preço atual dos fosfatos, em três décadas estamos a falar de 38.000 milhões de euros.

O que está por trás desta bomba-relógio em que se converteu o Sahara Ocidental é, como mencionámos, o controlo de seus abundantes recursos naturais por parte Marrocos. E, entre eles, um se destaca: a fosforite.

As fosforites são rochas que contêm pentóxido de fósforo, componente fundamental do ácido fosfórico. Este produto é de grande interesse para a agricultura, na produção dos fosfatos utilizados na elaboração de fertilizantes.

Assim, quando Espanha, no ano de 1947, descobriu as primeiras jazidas de fosfatos, dava o disparo de partida para uma guerra pelo seu controlo. A descoberta da mina de BuCraa (uma das mais grandes do mundo), em 1963, acabou por atrair o interesse global. O regime de Franco realizou investimentos importantes para a sua exploração. De facto, a ainda existente cinta transportadora que leva os fosfatos de BuCraa até ao porto (a maior do mundo, com 100 km de extensão) data desses anos. Atualmente, e pese as reiteradas queixas e denúncias dos saharauis, a mina é explorada por uma empresa estatal marroquina encarregada das extrações, processamento e venda.

Que rendimentos económicos obtêm Marrocos das jazidas de BuCraa?

É deveras complicado conhecer com exatidão o valor dos lucros que resultam para Marrocos a extração das fosfatinas.

Fizeram-se estudos e, segundo os cálculos menos ambiciosos, entre 1975 e 2006, terão sido extraídos de Bucraa um total de 40 milhões de toneladas.

Nos últimos anos, é muito possível que esta cifra tenha disparado já que se estima que houve um aumento muito significativo na produção, tendo atingido os quatro milhões de toneladas por ano. Hoje, Marrocos é o maior exportador de fosfatos do mundo (com uma produção anual aproximada de 30 milhões de toneladas).

E enquanto Marrocos é o principal exportador, os Estados Unidos são o principal importador.
Nos últimos dez anos, 99 por cento dos fosfatos importados pelos EUA provêm de Marrocos e do Sahara Ocidental. O esgotamento que estão a sofrer as suas jazidas de fosfatos tem levado a que os dois maiores produtores (EUA e China) venham a preferir refrear as suas exportações.

Com o aumento da produção de alimentos e também de biocombustíveis, a mudança da dieta da população mundial e a luta pelas reservas mundiais de fosfatos vão levar a que os preços conheçam aumentos consideráveis.

Segundo o estimado, as jazidas de BuCraa têm uma vida à sua frente de 30 ou 40 anos. Depois, ficarão esgotadas. Mas, ao preço atual, sabemos que os fosfatos provenientes das minas saharauis fazem aumentar os cofres do Reino alauita em cerca de 1.250 milhões de euros por ano. Uma cifra que justificaria a luta pela anexação do Sahara. Considerando apenas o preço atual dos fosfatos, em três décadas estamos a falar de 38.000 milhões de euros.

…e  outras matérias-primas

Mas não são só os fosfatos a única fonte de interesse para Marrocos, já que também a indústria pesqueira constitui um motivo de anexação.

Com o litoral mediterrânico sobreexplorado, a costa saharaui representa um objetivo estratégico para Marrocos. De facto, e segundo algumas estimativas, entre 70 por cento e 90 por cento das capturas marroquinas têm origem no Sahara. Cerca de 100 companhias estrangeiras participam neste setor atualmente.

Mas, para além dos fosfatos e da pesca, existem outras indústrias no Sahara que merecem menção. Desde há algum tempo, a região converteu-se num importante exportador de areia (utilizada na construção). De referir também as exportações de certos metais e minerais (ferro e zircónio), e, inclusive, o aproveitamento de urânio das próprias minas de fosfatos.

Fonte: síntese de um artigo publicado no eleconomista.es

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