segunda-feira, 5 de junho de 2017

Marrocos procura apropriar-se da cultura saharaui para a diluir na ocupação


Diario La Realidad Saharaui, DLRS    2 de junho de 2017

Tradução para o hassania do لمير اصغير O Principezinho – a enganadora e asquerosa política marroquina nos territórios ocupados do Sahara Ocidental.

"Os Saharauis estão convencidos de que لمير اصغير Principezinho traduzido em Hassania - muito embora o significado não exista no Hassania - nunca será lido por um marroquino que viva no Sahara Ocidental ocupado e muito menos em Marrocos.

“Costumamos dizer neste caso مهدنك يناك لهي يحلبك شلح  “que bem domada está essa camela que é ordenhado por um marroquino”, assim reza o provérbio saharaui. Marrocos trata de se apropriar dos símbolos e elementos culturais saharauis com o objetivo de diluir o Sahara Ocidental em Marrocos, um intento que jamais logrará. O uso dos trajes tradicionais das mulheres e dos homens saharauis (melhfa e darraá) por colonos marroquinos, significa a procura de apropriação dos referenciais culturais saharauis.

É por isso que estão tentando assimilar como se fossem marroquinos personagens e estórias saharauis, como é o caso dos contos Shertat. Também procuram roubar figuras históricas saharauis e, agora, até mesmo a própria língua Hassania. Se olharmos para o lado bom da tradução de O Principezinho em Hassania, então constataremos que do trabalho realizado vão desfrutar as crianças saharauis na parte ocupada do território, que assim ficarão a saber que algo muito grande, como é a língua, os diferencia dos marroquinos e irão confirmar a sua identidade face à ocupação e ao ocupante. Um sonho que irá fazer acordar ainda mais a sua consciência e lutar por aquilo que é seu, a sua língua, a sua identidade e sua terra natal saharaui usurpada.

Trata-se de um trabalho de sabotagem cultural levado a cabo pelas autoridades marroquinas, muito perigoso, e que procura deturpar o conflito exercendo esforços de "culturicídio".

“O Principezinho” traduzido para o dialeto árabe hassania - língua e literatura do Sahara Ocidental e Mauritânia.

A agência espanhola EFE, publicou a 31 de maio um despacho em que afirma que a célebre obra de Antoine de Saint-Exupery “O Principezinho” foi traduzida para o dialeto árabe hassania, hasaniya, falado no Sahara Ocidental e na Mauritânia.

Trata-se de uma iniciativa marroquina, realizada conjuntamente pelo Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), a Fundação Saint-Exupery e a Fundação Fosbucrá (minas de fosfatos saharauis exploradas pela ocupação marroquina), que promove projetos de desenvolvimento na parte do Sahara administrada por Marrocos, segundo informou hoje o CNDH em comunicado.

A célebre obra de Saint-Exupery, uma das mais traduzidas no mundo (conta com 300 versões) será distribuída na próxima semana de forma gratuita nos estabelecimentos escolares marroquinos de todas as regiões saharauis onde se fala o hassania, incluindo a região de Tarfaya (*), fora do Sahara Ocidental.

Na verdade, a distribuição foi anunciada para coincidir com o 90º aniversário da viagem que Saint-Exupery fez a Tarfaya (então chamada Cabo Juby), onde viveu por alguns meses como delegado da companhia aérea Aéropostale.

Tarfaya: Monumento a Antoine Saint-Exupéry 


Nota da tradução portuguesa:

(*) – Em 1958, Espanha entregou a região a Marrocos. Até então a região tinha sido um protetorado espanhol e as populações que a habitavam eram saharauis. A região foi entregue a Marrocos pela “boa colaboração” prestada na operação militar “Ecouvillon” (Vassourada), quando em fevereiro de 1958 tropas francesas penetraram no Sahara Ocidental com a colaboração das tropas coloniais franquistas para reprimir os nacionalistas.
Do lado francês a operação envolveu 5.000 homens, 600 veículos, 70 aviões e contou com o apoio logístico de 9.000 soldados espanhóis.

O propósito da operação visava aniquilar os «irregulares» marroquinos e saharauis do chamado Exército de Libertação Nacional que, com o apoio de várias tribos locais, fustigavam a guarnição espanhola e obrigavam-na a permanecer confinada a três cidades costeiras, Villa-Cisneros (hoje Dakhla), El-Ayoun e Cabo Juby. 

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