quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Desde o cessar-fogo no Sahara Ocidental em 1991, Espanha vendeu a Marrocos mais 385 milhões de euros em armamento



Madrid (ECS). 10-02-2022 – Entre 1991 e 2020, Espanha vendeu armas e material militar a Marrocos por mais de 385 milhões de euros, dos quais quase metade corresponde ao fornecimento de veículos todo-o-terreno, de acordo com uma resposta parlamentar a que a agência Europa Press teve acesso.

O senador de Compromís Carles Mulet (partido de centro-esquerda de origem Valenciana que conta actualmente com um deputado e um senador. Tem sob sua gestão uma série de concelhos em toda a Comunidad Valenciana, entre elas a sua capital) havia perguntado ao governo sobre a "quantidade de armamento, material de guerra, bombas, veículos militares, etc." que a Espanha tinha vendido anualmente desde 1991 a Marrocos e o custo destas vendas.

Numa primeira resposta, o governo tinha-se limitado a referir as estatísticas de exportação de material de defesa, outros materiais e produtos e tecnologias de dupla utilização publicadas pelo Ministério do Comércio, o que levou Mulet a insistir na sua pergunta.

Agora, na sua nova resposta, o Governo forneceu ao senador do Compromís os dados solicitados sob a forma de dois quadros com números anuais, esclarecendo que estes não estão disponíveis de forma desagregada antes de 2005.


VEÍCULOS, MUNIÇÕES E BOMBAS

De acordo com os gráficos fornecidos pelo Executivo, o montante total nestes quase 30 anos ascende a 385.763.165 euros, dos quais 164.041.756 euros correspondem a veículos terrestres. O segundo maior item é munições e dispositivos, com 98.799.414 euros, seguido de bombas, torpedos, foguetes e mísseis, com 33.693.606 euros.

A Espanha também vendeu ao reino aluita "aviões, veículos aéreos não tripulados" por 10.652.626 euros, e equipamento de produção por quase 6,6 milhões de euros.

Outros fornecimentos referem-se a materiais energéticos e substâncias relacionadas por 1.386.120 euros; armas de cano liso de calibre igual ou superior a 20 mm, outras armas ou armamento de calibre superior a 12,7 mm por 912.800 euros; equipamento eletrónico, naves espaciais por 465.310 euros e equipamento e construções blindadas ou de proteção por 25.922 euros.

 

2008, O ANO COM AS VENDAS MAIS ELEVADAS

De todo o período para o qual os dados estão disponíveis, 2008 foi o ano com o maior volume de vendas, com mais de 113,9 milhões de euros, exclusivamente relacionado com o fornecimento de veículos terrestres.

Globalmente, as vendas de armamento e outro material militar a Marrocos registaram um claro aumento a partir de 2014, quando ascenderam a mais de 9,7 milhões, e isto tem sido mais ou menos sustentado desde então, com alguns picos como 2016, quando subiram para mais de 30,2 milhões, incluindo 22,2 milhões em munições e dispositivos e 7,7 milhões em bombas, torpedos, foguetes e mísseis.

Em 2019, o montante total foi de 23,24 milhões de euros, incluindo mais de 13,2 milhões de euros para munições e 8,5 milhões de euros para bombas, torpedos e outros artigos, enquanto em 2020, o último ano para o qual existem dados disponíveis, o total ascendeu a mais de 12,5 milhões de euros. Mais uma vez, o item principal foi munições (mais de 10,27 milhões), mas também foram fornecidos veículos terrestres por 1,34 milhões.

 

COMPROMÍS CRITICA O GOVERNO

O partido Compromís criticou o governo por ter vendido armas a Marrocos desde 1991, quando foi assinado o acordo de cessar-fogo entre Marrocos e a Frente Polisario no conflito sobre o Sahara Ocidental, que continua por resolver até aos dias de hoje.

O partido denunciou que durante este tempo o país vizinho tem "assediado a Espanha" e cita como exemplos "bases militares perto das cidades autónomas, drones com bombas que chegariam a estas cidades, invasão contínua de terras e águas espanholas; o caso das ilhas Chafarinas ou Perejil, encerramentos de fronteiras, a prospeção de petróleo perto das Ilhas Canárias".

"Se Marrocos é hoje uma ameaça à integridade do Estado, ou se continua a massacrar o povo saharaui, é graças à venda de armas espanholas", conclui Compromís.

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