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Contramutis / Por Alfonso Lafarga - As reações às
duras penas contra os saharauis do processo de Izik Gdeim foram contundentes:
ausência de provas, declarações obtidas sob tortura e um tribunal marroquino
sem jurisdição para julgar eventos ocorridos num território pendente de descolonização,
o Sahara Ocidental; uma pantomima um julgamento farsa, e pedem ao Governo da
Espanha que se pronuncie.
A maioria
dos partidos políticos espanhóis foram unânimes em rejeitar a sentença do
Tribunal de Recurso de Salé - oito condenações
a prisão perpétua; três a 30 anos de prisão; cinco a vinte e cinco anos de
prisão; três a vinte anos, e a outros dois detidos penas de seis anos e meio e
quatro, respectivamente – uma sentença semelhante àquela que, em 2013, impôs um
tribunal militar em Rabat pelos eventos que ocorreram durante o desmantelamento
por forças de segurança marroquinas do acampamento que 20.000 saharauis levantaram
para exigir melhorias sociais em outubro de 2010, a cerca de 15 km de El Aaiun,
e onde alegadamente 11 agentes marroquinos terão morridos, para além de dois
saharauis. Esta decisão foi anulada pelo Tribunal de Cassação.
Nas reações espanholas
houve, no entanto, uma ausência significativa: o Partido Popular, ao qual se
soma aquele que sempre se mantem calado quando se trata do Sahara Ocidental e
Marrocos: o Governo de Mariano Rajoy.
Deputados de
Podemos, IU, En Comú Podem, En Marea, Equo, ERC, Compromís e Bildu subscreveram
uma declaração pedindo a anulação do julgamento, que o Executivo procure que
Marrocos indulte os condenados e que a ONU investigue se os condenados sofreram
torturas ou maus-tratos; os deputados do PP, PSOE e Ciudadanos abstiveram-se
por considerar que o Intergrupo para o Sahara não tem capacidade regulamentar
para fazer declarações, já que os deputados membros não podem vincular os seus respectivos
grupos parlamentares e que se queriam aprovar uma posição política deveriam
propor uma declaração institucional ou uma proposta de lei.
O PSOE afirmou
que antes de emitir a sua posição política tinha que falar com os observadores
internacionais, precisamente aqueles que não enviou ao julgamento como o
fizeram outras formações políticas, e o Ciudadanos alegou que preparava perguntas
parlamentares.
Um dia após
a declaração do Intergrupo, PSOE e Ciudadanos denunciaram irregularidades e
falta de garantias no julgamento e, citando os observadores internacionais, que
não ficou provada a autoria material das 11 mortes de agentes marroquinos, assim
como ficou patente os obstáculos ao exercício da defesa e que haviam sido
admitidas confissões obtidas sob tortura.
A eurodeputada Marina Albiol |
Que também não
enviou observadores foi o Governo da Espanha, embora isso tenha sido solicitado
pela responsável federal de Relações Internacionais e porta-voz da IU no Parlamento
Europeu, Marina Albiol ao ministro das Relações Exteriores, Alfonso Dastis, e ao
embaixador da Espanha em Marrocos, Ricardo Díez-Hochleitner, que deu como
exemplos a Dinamarca, Finlândia, Países Baixos, Noruega, Suécia e Suíça, que
enviaram representantes das suas embaixadas em Rabat.
A
eurodeputada escreveu ao Ministro de NE de que "os crimes que os detidos
são acusados são mais do que questionáveis, não tendo sido apresentada qualquer
prova nem sequer certidões de óbito dos membros das forças de ocupação
supostamente mortos, a que se acrescenta o facto de as autoridades judiciais terem
recusado a prova pericial das supostas provas apresentadas".
Uma vez
conhecida a sentença, Marina Albiol recriminou o Governo por não ter respondido
ao seu pedido e denunciou a "cumplicidade política do Governo de Mariano
Rajoy com as autoridades do Reino de Marrocos," que com esta ação
"exemplificante e dissuasora" continua "com a repressão a todo o
movimento saharaui democrático".
Apesar dos
pedidos dos partidos para que o governo procure junto de Marrocos o indulto
para os presos, o Executivo não comentou as pesadas condenações aos réus de
Gdeinm Izik, que estiveram encarcerados quase sete anos sem um julgamento.
Jornalistas que não perguntam
Na
conferência de imprensa após o Conselho de Ministros de 21 de Julho, o Ministro
da Educação, Cultura e Desporto e porta-voz do governo, Íñigo Méndez de Vigo,
falou da Catalunha, de bolsas de estudo, etc ... e no seu balanço semanal referiu-se
às visitas do Presidente do Governo às tropas espanholas estacionadas na
Estónia e na Letónia, mas não disse uma palavra sobre a sentença contra os 23
presos políticos saharauis.
Os jornalistas
presentes na conferência de imprensa também nada perguntaram. Falará Mariano
Rajoy do julgamento na próxima conferência de imprensa após o próximo Conselho
de Ministros, o último antes das férias, em que é esperado comparecer? Será que
vão mudos os jornalistas acreditados junto da Moncloa?
Que fez uma
série de perguntas ao Governo para que se pronuncie sobre o julgamento e
condenação foi a senadora do Podemos, Maria Vanessa Angustia. Afirma que no
desmantelamento do acampamento de Gdeim Izik foram assassinados cinco saharauis
e que ante a acusação da ONU a Marrocos de ter violado vários artigos da Convenção
de Genebra neste julgamento, o Governo espanhol tem mantido um "silêncio
cúmplice".
A senadora do
Podemos assinala que Marrocos pôs obstáculos às organizações internacionais que
queriam estar presentes na audiência, e destaca o caso do juiz espanhol Jesús
Martín, deportado à sua chegada ao aeroporto de Rabat; pede ao Executivo para
esclarecer se vai pedir a Marrocos o indulto dos ativistas condenados, assim
como o fez grupo de deputados marroquinos do Partido Justiça e Desenvolvimento
(PJD),
Mariano Rajoy e o seu Governo e o seu Partido: sem palavras! |
Fernando
Maura, do Ciudadanos, por seu lado, perguntou ao Governo que que ações
empreendeu junto de Marrocos para que este país respeite o direito
internacional com estes condenados e prisioneiros saharauis "o que constitui
uma violação dos direitos humanos fundamentais."
Também se pronunciaram,
entre outros, o Conselho Geral da Advocacia Espanhola (“desprezo em relação às
reiteradas denúncias de tortura "), a Associação Profissional dos
Advogados saharauis em Espanha ( "a comunidade internacional deve impor a
aplicação do direito internacional") , o Coordenador Estadual de
Solidariedade com as Associações Sahara ( "infame" e condena
"tentativa ilegal" por um "tribunal marroquino parcial e
dependente") e do Conselho da Juventude de Espanha (acórdão
"vergonhoso e infame").
También se
han pronunciado, entre otros, el Consejo
General de la Abogacía Española, (“desprecio hacia las reiteradas denuncias de
torturas”), a Asociación Profesional de Abogados Saharauis em Espanha (“a Comunidade Internacional deve impor a
aplicação do Direito Internacional”), a Coordinadora Estatal de Asociaciones
Solidarias con el Sáhara (condena o “infame” e “ilegal julgamento” por um
“tribunal marroquino parcial e dependente”), e o Consejo de la Juventud de
España (sentencia “vergonhosa e infame”).
A diretor de
investigação da "Amnistia Internacional" para o Norte da África, Heba
Morayef, organização que com a Human Rights Watch (HRW) pediu às autoridades judiciais
marroquinas que as sentenças não assentassem em confissões obtidas mediante tortura
ou maus-tratos pela polícia, disse - uma
vez conhecida a decisão judicial - que,
se o tribunal lhes quisesse dar um julgamento justo "teria feito uma
investigação adequada sobre as alegações de tortura ou excluído as provas questionáveis
no processo" e o facto de "há mais de seis anos, as autoridades
judiciais não terem investigado adequadamente as alegações de tortura mancha de
forma irrefutável a sentença. "
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