O Comandante Martins Guerreiro, da direção da Associação 25 de Abril, e Omar Mih, represente da Frente POLISARIO em Portugal |
O movimento de libertação saharaui interpretava então os sentimentos mais profundos do seu povo e, simultaneamente, preenchia o vazio jurídico resultante do vergonhoso abandono oficial, nesse mesmo dia, proclamado pela até então potência colonial, a Espanha
O evento comemorativo teve lugar na sede da Associação 25 de Abril, em Lisboa, local cheio de significado, num ano em que se festeja o 50º aniversário da Revolução dos Cravos em Portugal, que derrubou o regime ditatorial e colonialista e foi encetado o processo negocial com os Movimentos de Libertação das ex-colónias portuguesas que viria a conduzir a sua total libertação e independência.
Presentes, para além dos anfitriões, militares de Abril Vasco Lourenço e Martins Guerreiro, o embaixador da Argélia, vários representantes de diversas embaixadas, o presidente da Câmara Municipal de Palmela, membros de partidos políticos, organizações sindicais e associações de solidariedade.
DIA NACIONAL DO SAHARA OCIDENTAL
48º aniversário da proclamação da RASD
27 de fevereiro de 2024
Daqui a poucas semanas, Portugal comemora meio século da Revolução dos Cravos que realizou as expectativas do povo português de liberdade, democracia e progresso social e económico.
Assim como o nosso povo saharaui comemora no dia de hoje os 48 anos do nascimento do seu sonho em ter a sua pátria livre e independente com inteira soberania sobre a totalidade do seu território.
Os nossos dois povos levaram a cabo levantamentos revolucionários contra os dois regimes ditatoriais ibéricos no período 1973-75. Vivíamos situações parecidas e pertencemos ao mesmo espaço político e cultural ibérico.
Hoje, Portugal ergueu um regime democrático e conseguiu realizar muitas das expectativas do seu povo, contrariamente à situação do meu povo que ainda continua a lutar pelo seu direito à liberdade e à existência como país livre e soberano.
Meio século é muito tempo na vida de uma pessoa, mas é muito pouco tempo na vida dos povos e das nações.
No século X, os Almorávidas partiram da minha terra rumo às terras de Espanha e Portugal. No século XV, os portugueses chegaram às margens da minha terra e ergueram o farol de Bojador, iluminado as trevas do oceano Atlântico, nessa mesma viagem que os levou a dobrar o Cabo da Boa Esperança e a continuar o seu encontro com outros territórios e outros povos, até chegar a Timor Leste! E à China!
Na década de 70 do século passado, fizemos levantamentos revolucionários e fomos acompanhados por mais povos africanos.
Hoje, olhamos para trás com vista a tirar as lições das nossas experiências e a armarmo- nos com as ferramentas que nos permitem continuar a nossa marcha com mais segurança e determinação.
Em 1975, quando os “mais poderosos” decidiram aniquilar-nos, não esperavam que aguentássemos 50 anos! O seu principal erro foi subestimar-nos e errar no cálculo sobre a nossa resiliência! Eles não sabiam que as pessoas do deserto, tal como a sua beleza, têm muita paciência e resistência!
Passado meio século, aqui estamos, seguramente mais fortes, com mais educação, com mais gente, com mais aliados e redes solidárias, com maior capacidade de resistência e de resiliência, com mais esperança e certeza da vitória.
Paciência estratégica que faz com que os sucessos táticos de Marrocos se evaporem como bolhas vazias, paciência estratégica que transforma a traição de Espanha num sentimento de culpa eterna. A paciência que tornou o rei de Marrocos consciente da diferença entre ocupar a terra e ocupar os corações da sua gente, a paciência e a firmeza que decorrem da verdadeira fé na justiça divina que vencerá no final, não importa quanto tempo demore. Paciência que entra nos relatos estreitos da política real e do maquiavelismo, que não sabe que uma pessoa crente e leal é a mais forte, que não será vencida pelas armas, pelo dinheiro ou pelas as tecnologias.
Aqui estamos hoje celebrando a vitória da nossa paciência, a lealdade à nossa causa e aos nossos mártires. Temos consciência dos nossos ganhos e estamos orgulhosos da nossa vitória sobre o genocídio a que temos sido submetidos, da nossa vitória sobre a hipocrisia e a traição.
Celebramos porque as nossas gerações mais novas são mais corajosas, têm mais conhecimentos e maior determinação em avançar na concretização do nosso sonho legítimo de construir uma pátria livre e independente na nossa terra, onde esperamos que um farol de Bojador volte a iluminar as trevas e aclare o caminho dos portugueses e saharauis na direção de um futuro brilhante baseado nos valores de liberdade, democracia, igualdade e progresso, os valores incutidos pela Revolução dos Cravos.
Omar Mih
Representante da Frente POLISARIO em Portugal
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