segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Empresas espanholas saqueiam os bancos de pesca do Sahara Ocidental



Fazem-no através de empresas marroquinas, uma vez que as leis da União Europeia proíbem qualquer propriedade estrangeira ou controle dos recursos do Sahara Ocidental

Diário 16 - Por José Antonio Gómez — Quase toda a indústria pesqueira dos ricos bancos do Sahara Ocidental é controlada por empresas europeias, principalmente espanholas. Tudo isso acontece apesar de as leis da União Europeia proibirem qualquer propriedade estrangeira ou controle dos recursos do território. Isso é revelado numa investigação conduzida pelo El Confidencial Saharaui.

Essas empresas, na sua maioria espanholas, operam através de empresas marroquinas que usam estruturas corporativas opacas para importar navios e obter licenças de pesca que, como já relatamos com o caso do polvo, se tornam um recurso para obter fontes de rendimento já que as pessoas que possuem essas concessões têm capacidade para alugá-las ou participar de uma serie de benefícios da exploração dos pesqueiros saharauis.

No Sahara, a indústria pesqueira foi uma importante fonte de rendimento durante a era colonial espanhola. No entanto, à época, ela constituía sobretudo um factor local, que, na última década do século XX e na primeira já deste século, começou a crescer graças à construção de docas e instalações de processamento de peixes instaladas no porto de Marsa, em El Aiún.

De acordo com a denúncia da organização Western Sahara Resource Watch (WSRW), o desenvolvimento da indústria pesqueira resultou no seu controle por parte de empresas europeias, principalmente espanholas, que obtêm a grande maioria dos benefícios graças a acordos opacos com empresas marroquinas.

Desde que a UE e Marrocos assinaram o acordo de pesca em 2006, que este é renovado anualmente, dando acesso ao banco de pesca do Sahara Ocidental a mais de 100 navios europeus, a grande maioria espanhola.

No entanto, há um facto a ser levado em consideração: os acordos assinados com Marrocos sobre o Sahara são ilegais, pois a ONU não reconhece a soberania marroquina sobre o território. Além disso, a principal intenção de Marrocos é manter esses acordos em busca de legitimidade as sua ocupação sobre o Sahara, algo pelo qual está usando a União Europeia e, por extensão, a Espanha.