O jornalista marroquino Ali
Anouzla (nascido em Agadir, 1964) será julgado a 9 de Fevereiro próximo por, em
declarações à imprensa alemã, ter definido o Sahara como “ocupado por
Marrocos”.
O responsável do jornal
digital Lakome2 enfrenta a acusação de "minar a integridade territorial
nacional" em julgamento que começa no próximo mês. A Procuradoria abriu
uma investigação após Ali Anouzla, em entrevista ao diário alemão Bild, em
Novembro passado, ter dito que o Sahara Ocidental constituía uma das três
"linhas vermelhas" para os jornalistas marroquinos.
Ali Anouzla afirmou ao Bild
que essas três linhas vermelhas são: “a monarquia, o Islão e a ocupação do
Sahara Ocidental” por Marrocos. Enfrenta uma pena de até cinco anos de prisão
caso venha a ser declarado culpado, embora tenha dito que nunca definiu o
Sahara Ocidental como “ocupado” e que a tradução era inexacta.
Não é o primeiro confronto que
o jornalista tem com a questão do Sahara já que anteriormente havia criticado a
gestão de Marrocos sobre o território, motivo por que o acusam de "agente
argelino" e lembram a sua origem saharaui. Anouzla tem raízes saharauis,
especificamente na cidade de Guelmim.
O jornalista marroquino
proferiu estas declarações depois de ter recebido a 13 de Novembro de 2015, em Berlim,
o prémio internacional Raif Badawi para jornalistas que defendem a liberdade de
expressão.
A comissão que lhe concedeu o
prémio considera que Ali Anouzla é “um dos poucos jornalistas independentes de
Marrocos” que denuncia através das suas reportagens e artigos as violações dos
direitos humanos.
Anouzla abriu em Agosto de
2015 o sítio Lakome2, espaço informativo sucessor do diário digital Lakome, inaugurado
em 2010 e encerrado pelas autoridades marroquinos há dois quando o jornalista se
encontrava preso. O Lakome2 conta com cem mil visitantes diários, disponibilizando
o diário digital informação, investigação e entrevistas. Anouzla é um dos heróis
da informação marroquina, juntamente com Ali Lmrabet, reconhecidos como tal
pelos Repórteres sem Fronteiras em 2015.
Ali Lmrabet, jornalista nascido em Tetuan, também
teve problemas com a justiça marroquina devido ao Sahara. Em 2005, foi-lhe
recusada a permissão de exercer a profissão por um período de dez anos, por ter
afirmado ao semanário Al-mustaqil que os refugiados saharauis de Tindouf não
são cativos da Frente Polisario, como historicamente tem sustentado a propaganda
oficial marroquina.
Repórteres sem Fronteiras
(RSF) tornou público há dias um comunicado subscrito por 14 organizações de
defesa dos direitos humanos e de liberdade de expressão em que se pede às
autoridades marroquinas a retirada de todas as acusações apresentadas contra
Ali Anouzla e o termo do processo judicial que pende contra ele e contra a publicação
digital Lakome, iniciado em Setembro de 2013.
As acusações contra Anouzla são
de defesa e incitação ao "terrorismo", após o famoso caso do link do
vídeo da Al-Qaeda, processo iniciado há dois anos. Anouzla foi detido cinco
semanas, acusado de "apologia de terrorismo" em Setembro de 2013 por publicar
um link para um conteúdo do jornal espanhol ‘El Pais’ que continha um vídeo
divulgado pela filial norte-africana da Al Qaeda.
“Deixem Anouzla trabalhar em
liberdade, deixem que se faça um jornalismo independente em Marrocos
"termina a declaração das 14 ONGs, entre os quais estão, além de RSF, a
PEN Internacional, o Instituto Internacional de Imprensa (IPI) e o Comité para
a Protecção dos Jornalistas (CPJ), entre outras.
Em 2004, Anouzla fundou o
semanário Al-Jaraid Al Okhra em que livremente deu a palavra aos dissidentes do
regime. O jornal abordou também temas tabu, incluindo assuntos relacionados com
o rei, mas foi proibido dois anos depois. Foi um dos fundadores do jornal
independente Al Masae em 2006, onde permaneceu até 2008.
Em 2014 soube-se que o
embaixador de Marrocos nos EUA, Rachad Boulal, pressionou para que ele não
recebesse um prémio de jornalismo por parte da organização 'Projecto de
Democracia para o Próximo Oriente’ (Pomed), com sede em Washington.
Fonte e fotos: Periodistas en español / Por Jesús
Cabaleiro Larrán