Jorge Dezcallar |
COPE - 21/06/2023 EFE - O ex-diretor da CNI - Centro Nacional de Inteligência (2001-2004) e ex-embaixador da Espanha em Marrocos entre 1997 e 2001, Jorge Dezcallar, criticou a mudança de posição do primeiro-ministro, Pedro Sánchez, em março, ao apoiar a soberania marroquina sobre o Sahara Ocidental: "É um erro muito grave."
Dezcallar afirmou-o numa conferência que proferiu na quarta-feira no Círculo Equestre de Barcelona sob o título "Geopolítica em tempo de grandes rivalidades".
"Não compreendo o que fez este governo mudar a nossa posição sobre o Sahara. Não vejo que vantagens obtivemos, ninguém me explicou, penso que se trata de um erro muito grave", afirmou Dezcallar no seu discurso.
O embaixador no país africano entre 1997 e 2001 recordou que o conflito do Sahara Ocidental, que há anos reclama a sua independência, embora Marrocos o controle de facto, é muito antigo.
“Quando a ONU viu que era impossível fazer um referendo de independência no Sahara porque o Marrocos se recusou, disse que tinha que haver pelo menos um acordo entre as partes. E a Espanha apoiou essa decisão. De repente o senhor Presidente do Governo decide sózinho, sem o conhecimento do seu governo ou dos seus parceiros de governo, ou dos seus parceiro de investidura ou da oposição, que vai apoiar a soberania de Marrocos sobre o Sahara", afirmou Dezcallar.
"E soubemos disso através de uma carta que foi divulgada pelo Palácio Real de Marrocos, cujo texto completo ainda não conhecemos porque não foi publicado, apesar de o Congresso o ter pedido", sublinhou o antigo diretor do CNI.
Dezcallar defende que o apoio à soberania marroquina no Sahara é pouco vantajoso para Espanha.
"O que é que ganhámos? Uma diminuição da imigração irregular? Está bem, sim, uma diminuição que é reversível, mas sim", admitiu Dezcallar, antes de enumerar uma série de problemas geopolíticos com Marrocos que persistem apesar do apoio diplomático à monarquia magrebina.
"Ceuta e Melilla estão a ser sufocadas por Marrocos. De facto, quem acredita que Marrocos vai abdicar da soberania sobre Ceuta e Melilla deveria pensar melhor. Também continuamos a ter problemas de delimitação de águas territoriais com os marroquinos que continuam por resolver. A alfândega de Melilla também não foi reaberta... Só vejo que a iniciativa de Sánchez nos colocou no meio da guerra entre a Argélia e Marrocos e que nos caem pedras de todos os lados", comentou Dezcallar.
Na mesma linha, o ex-diplomata espanhol afirmou que a medida do Governo "deixou a Argélia muito zangada" e que isso levou a uma queda de 85% nas exportações para o país africano em relação ao ano passado: "Na Argélia, não se vende nada que diga 'Made in Spain'".
Dezcallar também criticou o facto de a manobra do Presidente não ter o apoio do Congresso: "Isto enfraquece Sánchez e enfraquece a posição de Espanha. A política externa deve ser uma política de consenso porque responde aos interesses do Estado, e os interesses do Estado não mudam porque muda o inquilino da Moncloa. E se mudarem, é perfeitamente legítimo, mas expliquem-no e digam o que ganham com isso", declarou.
Por último, o antigo embaixador de Espanha naquele país norte-africano previu problemas com o país vizinho: "Se Marrocos sentir fraqueza na posição de Espanha, e neste momento tem de a sentir, isso significa que a Espanha vai ter problemas a curto ou médio prazos. Marrocos é um grande país e devemos tratá-lo com afeto, mas também com firmeza". EFE
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