O artigo, da autoria de
Olivier Quarenta, é publicado na última edição do reputado «Le Monde
Diplomatique» - março 2014
A questão do Sahara
Ocidental tem cada vez mais a ver com o desenvolvimento económico de Marrocos. Os
territórios que Rabat apelida de "províncias do sul" contribuem significativamente
para as receitas de exportação do reino. Os partidários da independência
contestam a legalidade da exploração.
Na estrada principal que liga a maior cidade do norte do Sahara
Ocidental – El Aaiún – a Dakhla, mais de 500 quilómetros para sul, existem
inúmeros camiões que transportam polvo e peixe branco. A região possui 1.200 km
de litoral, e as suas águas estão entre mais ricos os pesqueiros do mundo. De
acordo com um relatório do Conselho Económico, Social e Ambiental (CESE ) de
Marrocos, o setor das pescas representa 64
mil postos de trabalho, a que há que acrescentar uma importante atividade não
declarada, representando 17% do produto interno bruto (PIB) do território, 31%
dos postos de trabalho locais e 78 % das capturas de Marrocos. A pesca nas
" províncias do sul " – como é oficialmente conhecido por Marrocos o Sahara
Ocidental - gera uma enorme riqueza. O Reino apropriou-se dele em 1975, quando anexou
o território considerado " não-autónomo" pela resolução 2072 da
Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em 1965.
Por esta estrada única e perigosa, passam outros veículos, que
podem levar tomates, pepinos e melões produzidos perto de Dakhla. De acordo com
a organização não-governamental (ONG) Western Sahara Resource Watch, nos
arredores da cidade existem onze centros de produção agrícola, incluindo o da
sociedade Tawarta. A estufa desta sociedade estende-se ao longo da estrada,
pelo menos quinhentos metros. Nesta unidade agrícola, produzem-se tomate e
cerejas vendidos sob o nome de "Estrela do Sul", marca de propriedade
da empresa francesa Idyl. Injustamente carimbados com "Produzido em Marrocos"
essas culturas, que cobriam cerca de seiscentos hectares em 2008, são em
seguida exportados para a Europa via Agadir (Marrocos), a 1200 km de distância.
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