segunda-feira, 23 de junho de 2014

Isto começa mal

 
O ministro espanhol dos Negócios Estrangeiros García-Margallo e o novo Rei Filipe VI

Refiro-me ao assédio moral que já está a ser exercido sobre o novo rei. O ministro García-Margallo [dos Negócios Estrangeiros], durante a sua recente estadia em Marrocos, disse publicamente que o rei deveria fazer a sua primeira visita oficial a esse país, seguindo a tradição dos últimos anos dos sucessivos chefes de governo. Os meios de comunicação marroquinos, nas mãos do governo, reproduziram imediatamente e de forma maciça a mensagem do ministro espanhol, dando-a por adquirida, enaltecendo esta visita como forma de melhorar a imagem de sua monarquia, a qual está muita abalada.

Percebo pouco destas coisas, mas parece-me que um Rei não tem que seguir padrãos definidos por quem, protocolarmente, tem um estatuto inferior; a acontecer, seria o contrário. Mas felizmente, a ordem de visitas não vai começar por Marrocos; alguém com mais cabeça terá interferido impondo-se às nada dissimuladas preferências de García-Margallo. Penso que um ministro deve ser mais prudente com as declarações que profere em solo estrangeiro e sobretudo quando afetam o país anfitrião, como é o caso… Além disso, não se pode qualificar de tradição um acontecimento que em quarenta anos só se repetiu quatro vezes.

O ministro poderia ter-se referido às viagens do Rei Juan Carlos que, esse sim, criou uma tradição com as suas visitas a Marrocos; tinha ali uma segunda casa. Com muletas, e estivesse-se ou não no período do Ramadão, era lá que se instalava. O Rei Juan Carlos parece que tinha interesses pessoais a defender em Marrocos, pelo menos assim podemos ser levados a pensar dado o forte apoio que deu a este país durante todos estes anos sobre a questão do Sahara Ocidental.
 
O ex-Rei Juan Carlos I promessas atraiçoadas
ao Povo Saharaui


Parece também que foram levados ao pé da letra aquela nefasta Lei 40/1975, que ele assinou, sobre a descolonização do território do Sahara, na qual se afirmava que o Governo espanhol não estava vinculado a qualquer compromisso formal sobre o destino do mesmo ou da sua população. O que, dito depois de cem anos de colonização, soa um pouco forte. Mas, de facto, assim tem sido: desde 1975, nenhum compromisso nem com o território nem com o seu povo.

Lamentavelmente esqueceu-se que essa Lei de descolonização, na sua disposição adicional, pedia ao Governo para tomar medidas adequadas para que fossem indemnizados, ​​de acordo com a lei geral, os espanhóis que se vissem obrigados a deixar o território do Sahara. Os Saharauis eram espanhóis e viram-se invadidos por Marrocos, levando centenas de milhares deles a abandonar o território, aí continuando refugiados em Tindouf [na Argélia]. Nunca foram indemnizados ​​e hoje continuam a ser-lhes colocados todos os obstáculos às suas reivindicações.

O Rei Juan Carlos signatário da referida Lei não se preocupou com os saharauis para nada nos seus trinta e nove anos de reinado. Nem em todo este tempo foi capaz de se dirigir uma só vez aos milhares de crianças saharauis que todos estes anos vêm a Espanha nas férias de verão.



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