sábado, 19 de julho de 2014

Marrocos arremete contra a Argélia: Rabat digere mal os seus fracassos

 
Reforço do muro em torno de Ceuta e Melilla: um "regalo" envenenado de Marrocos a Espanha...

Marrocos agita-se numa grave crise económica e diplomática. O majzén multiplica as mensagens à Espanha e a França. Uma vez alegando que está a construir um muro em torno de Ceuta e Melilla; outros na fronteira com a Argélia, para impedir a entrada de subsaharianos do país vizinho. As autoridades argelinas já tinham feito de tolo o majzén ao cavarem trincheiras ao longo das suas fronteiras com Marrocos para combater o tráfico de drogas e o contrabando. Segundo a ONU, Marrocos é o maior exportador de cannabis no mundo. Outras vezes, porém, Marrocos ameaça com uma guerra a Argélia e mesmo contra a Espanha.

Ante a cascada de fracassos diplomáticos, o governo de Rabat recorre ao bode expiatório habitual: a Argélia. O ministro dos Negócios Estrangeiros marroquino acaba de declarar abertamente: “O nosso conflito hoje é com a Argélia, não com a Polisario”. A razão é que Marrocos já não conta com aliados fiáveis e dispostos a apoiá-lo contra ventos e marés. Recorde-se que, durante a sua visita à Argélia, o ex-primeiro-ministro francês, Jean-Marc Ayrault, firmou um memorando onde se fazia uma clara referência ao “direito do povo saharaui à autodeterminação”. Um enorme revés para Marrocos. Desde então, o rei de Marrocos recorre como um peregrino a algumas capitais africanas num desesperado intento de alinhá-las à sua posição anexionista do Sahara Ocidental e sair do isolamento em que se submerge cada vez mais.

A participação, pela primeira vez, de uma representação militar argelina nas cerimónias do 14 de julho - data nacional da França - enfureceu as autoridades marroquinas...

O soberano alauita queria jogar no tabuleiros dos grandes, pretendendo ser um ator inalienável na gestão do conflito do Sahel. Mas logo depois da eleição presidencial argelina, o ministro argelino dos Negócios Estrangeiros, Ramtane Lamamra, entra em cena e faz um longo périplo africano. Os parceiros implicados no conflito do Sahel, chegaram à conclusão que, geograficamente, Marrocos não forma parte deste espaço. Rabat queria ser ator neste conflito, porque se o reconhecessem como tal, isso demonstraria que as instâncias internacionais lhe reconheciam a soberania sobre o Sahara Ocidental, que tem fronteiras com a região do Sahel.

Vendo que o vento já não sopra a seu favor, o Majzén trata de justificar os seus fracassos acusando Argel, cuja posição não se alterou desde o começo do conflito, há quase 40 anos: o direito à livre determinação de todos os povos colonizados.

Um ex-diplomata francês não duvidou em qualificar Marrocos como "a amante com quem dormimos todas as noite, de que já não estamos particularmente enamorados, mas que temos que defender". Esta comparação não motivou a reação de nenhum político marroquino. O golpe foi recebido em silêncio, e para salvar a cara, Marrocos acabou por protestar oficialmente. É evidente que os dirigentes de Marrocos não se atreveram a fazer ataques como aqueles que reservam ao seu vizinho oriental.


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