Artigo de Carlos Ruiz Miguel, Prof. Direito Constitucional na Universidade de Santiago de Compostela
Afirmei-o aqui: Mohamed
VI está encurralado na sua pretensão de anexar ilegalmente o Sahara Ocidental.
Os wikileaks do Makhzen revelaram, de forma indubitável, que Marrocos está-se confrontando
com a ONU, os EUA e o Reino Unido na sua pretensão expansionista. E isso ocorre
quando a
relação de Marrocos com a França, como também aqui afirmei, passa pela mais longa
crise da história de ambos os países. Neste contexto compreende-se o
intento de Mohamed VI de conseguir o favor da Rússia e China, os outros dois membros
do Conselho de Segurança. No entanto, tudo parece indicar que a sua estratégia fracassou.
Primeiro frustrou-se a sua visita à Rússia, e agora, à China @Desdelatlantico
I. ANTE O ENJOO DOS SEUS TRADICIONAIS
ALIADOS, MOHAMED VI ANUNCIA RELAÇÕES "ESTRATÉGICAS" COM A RÚSSIA E A CHINA
Os wikileaks do Makhzen revelados pelo misterioso
@Chris_Coleman24 não deixam lugar a dúvidas: Marrocos está em confronto com as Nações
Unidas e os EUA por causa da sua intransigência no conflito do Sahara Ocidental.
Como se isso fosse pouco, o Reino Unido apoia os EUA e a ONU neste assunto.
Ante este contexto, os únicos apoios possíveis no Conselho de Segurança, com
direito de veto, apenas poderiam provir da França, Rússia e China. No entanto, a
arrogância da tirania alauita parece ter levado a que a França se tenha fartado
daquela que o embaixador francês na ONU apelidou como sua "amante". Só
restam, assim, Rússia e China.
Assim o deixou bem claro Mohamed VI no seu Discurso
de 30 de julho de 2014:
Respondendo
à nossa ambição de reforçar e diversificar parcerias, cuidamos por consolidar
as arraigadas relações que unem o nosso país com a Rússia e a República Popular
da China, que temos previsto visitar em breve.
Uma ideia que reiterou no seu discurso de 20
de agosto de 2014:
Se
Marrocos apenas precisa empreender alguns esforços para poder avançar com
passos firmes e juntar-se aos países emergentes, a política de liberalização
económica, nesse sentido, reforçou a sua posição como centro de comércio
internacional.
Isso
é exatamente o que vem a refletir as frutíferas parcerias, tanto com os países
árabes, em particular os do Conselho para a Cooperação do Golfo, ou com os países
da África sub-sahariana, onde Marrocos ocupa o segundo lugar como investidor em
África.
Assim,
além do Estatuto Avançado que liga Marrocos à União Europeia e os acordos de
livre comércio com uma série de países, principalmente com os Estados Unidos,
temos a parceria estratégica com a Rússia que procuramos aprofundar, além da
parceria que estamos a estabelecer com a China.
A aproximação à Rússia foi anunciada pela imprensa
oficialista do Makhzen a 3 de junho de 2014, que informou sobre uma eminente
visita de Mohamed VI à Rússia a 11 de junho. Segundo o ministro marroquino dos
Negócios Estrangeiros, essa visita foi adiada com o objetivo de "elaborar os
fundamentos de uma relação estratégica". A
visita foi então anunciada para outubro, ainda que, como já aqui afirmei, a
mesma tenha fracassado.
II. A VISITA À CHINA, TAMBÉM ADIADA POR INUSUAIS
RAZÕES MÉDICAS
Marrocos também procurou acercar-se da China,
ainda que o gigante asiático se tenha aproximado de Marrocos ao mesmo tempo que
da Argélia. Assim o demonstra a visita que Yu Zhengsheng, presidente do Comité
Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPCh),
[http://spanish.peopledaily.com.cn/n/2014/1105/c31618-8804788.html] realizou a
Rabat depois de visitar a Argélia.
A visita de Mohamed VI à China foi programada
para 27 de novembro. No entanto, de forma inopinada, a agência oficial de imprensa
do Makhzen (a sinistra MAP) publicou um comunicado do Ministério da Casa Real onde
anunciava que "A visita oficial de SM o Rei à China foi adiada por razões de
saúde". Surpreendentemente, são detalhados os supostos motivos de saúde que
causaram este "adiamento":
O
médico pessoal de sua Majestade o Rei precisa que o Soberano apresenta desde ontem
um síndrome gripal agudo com febre de 39,5 graus complicada com uma bronquite, acrescenta
o comunicado.
E digo surpreendentemente porque o
diretor do diário "Al Michaâl", Driss Chahtane, foi condenado em 2009
a um ano de prisão por publicar artigos sobre a saúde de Mohamed VI.
Com efeito, que eu me lembre, NUNCA um comunicado
oficial da Casa Real marroquina foi tão detalhado sobre a saúde do rei. E, por isso
mesmo, torna-se suspeito.
Será verdade que Mohamed VI está doente?
ou
A enfermidade é uma desculpa para ocultar um
novo fracasso, após o fiasco da visita a Moscovo?
A resposta ser-nos-á dada pelo tempo, e sem
muita demora.
Quando Mohamed VI se recuperar, se não viajar
à China deveremos concluir que esta enfermidade foi inventada para ocultar o
seu enésimo fracasso.
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