quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Após o fiasco com a Rússia, Mohamed VI também suspende a viagem à China




Artigo de Carlos Ruiz Miguel, Prof. Direito Constitucional na Universidade de Santiago de Compostela

Afirmei-o aqui: Mohamed VI está encurralado na sua pretensão de anexar ilegalmente o Sahara Ocidental. Os wikileaks do Makhzen revelaram, de forma indubitável, que Marrocos está-se confrontando com a ONU, os EUA e o Reino Unido na sua pretensão expansionista. E isso ocorre quando a relação de Marrocos com a França, como também aqui afirmei, passa pela mais longa crise da história de ambos os países. Neste contexto compreende-se o intento de Mohamed VI de conseguir o favor da Rússia e China, os outros dois membros do Conselho de Segurança. No entanto, tudo parece indicar que a sua estratégia fracassou. Primeiro frustrou-se a sua visita à Rússia, e agora, à China @Desdelatlantico

I. ANTE O ENJOO DOS SEUS TRADICIONAIS ALIADOS, MOHAMED VI ANUNCIA RELAÇÕES "ESTRATÉGICAS" COM A RÚSSIA E A CHINA
Os wikileaks do Makhzen revelados pelo misterioso @Chris_Coleman24 não deixam lugar a dúvidas: Marrocos está em confronto com as Nações Unidas e os EUA por causa da sua intransigência no conflito do Sahara Ocidental. Como se isso fosse pouco, o Reino Unido apoia os EUA e a ONU neste assunto. Ante este contexto, os únicos apoios possíveis no Conselho de Segurança, com direito de veto, apenas poderiam provir da França, Rússia e China. No entanto, a arrogância da tirania alauita parece ter levado a que a França se tenha fartado daquela que o embaixador francês na ONU apelidou como sua "amante". Só restam, assim, Rússia e China.

Assim o deixou bem claro Mohamed VI no seu Discurso de 30 de julho de 2014:

Respondendo à nossa ambição de reforçar e diversificar parcerias, cuidamos por consolidar as arraigadas relações que unem o nosso país com a Rússia e a República Popular da China, que temos previsto visitar em breve.

Uma ideia que reiterou no seu discurso de 20 de agosto de 2014:

Se Marrocos apenas precisa empreender alguns esforços para poder avançar com passos firmes e juntar-se aos países emergentes, a política de liberalização económica, nesse sentido, reforçou a sua posição como centro de comércio internacional.
Isso é exatamente o que vem a refletir as frutíferas parcerias, tanto com os países árabes, em particular os do Conselho para a Cooperação do Golfo, ou com os países da África sub-sahariana, onde Marrocos ocupa o segundo lugar como investidor em África.
Assim, além do Estatuto Avançado que liga Marrocos à União Europeia e os acordos de livre comércio com uma série de países, principalmente com os Estados Unidos, temos a parceria estratégica com a Rússia que procuramos aprofundar, além da parceria que estamos a estabelecer com a China.

A aproximação à Rússia foi anunciada pela imprensa oficialista do Makhzen a 3 de junho de 2014, que informou sobre uma eminente visita de Mohamed VI à Rússia a 11 de junho. Segundo o ministro marroquino dos Negócios Estrangeiros, essa visita foi adiada com o objetivo de "elaborar os fundamentos de uma relação estratégica". A visita foi então anunciada para outubro, ainda que, como já aqui afirmei, a mesma tenha fracassado.


II. A VISITA À CHINA, TAMBÉM ADIADA POR INUSUAIS RAZÕES MÉDICAS
Marrocos também procurou acercar-se da China, ainda que o gigante asiático se tenha aproximado de Marrocos ao mesmo tempo que da Argélia. Assim o demonstra a visita que Yu Zhengsheng, presidente do Comité Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPCh), [http://spanish.peopledaily.com.cn/n/2014/1105/c31618-8804788.html] realizou a Rabat depois de visitar a Argélia.
A visita de Mohamed VI à China foi programada para 27 de novembro. No entanto, de forma inopinada, a agência oficial de imprensa do Makhzen (a sinistra MAP) publicou um comunicado do Ministério da Casa Real onde anunciava que "A visita oficial de SM o Rei à China foi adiada por razões de saúde". Surpreendentemente, são detalhados os supostos motivos de saúde que causaram este "adiamento":

O médico pessoal de sua Majestade o Rei precisa que o Soberano apresenta desde ontem um síndrome gripal agudo com febre de 39,5 graus complicada com uma bronquite, acrescenta o comunicado.


Com efeito, que eu me lembre, NUNCA um comunicado oficial da Casa Real marroquina foi tão detalhado sobre a saúde do rei. E, por isso mesmo, torna-se suspeito.
Será verdade que Mohamed VI está doente?
ou
A enfermidade é uma desculpa para ocultar um novo fracasso, após o fiasco da visita a Moscovo?

A resposta ser-nos-á dada pelo tempo, e sem muita demora.

Quando Mohamed VI se recuperar, se não viajar à China deveremos concluir que esta enfermidade foi inventada para ocultar o seu enésimo fracasso.

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