Artigo do
website: TSA – Tout sur l’Algerie
Jean-Marc Ayrault, o ministro dos Negócios Estrangeiros francês,
é esperado terça-feira, 29 março, em Argel para uma visita de trabalho. O
ministro francês vai nomeadamente preparar a cimeira bilateral próxima, a ter
lugar a 9 e 10 de abril em Argel, na presença do primeiro-ministro francês Manuel
Valls e de uma dúzia dos seus ministros.
Mas esta visita de Jean-Marc Ayrault e a próxima cimeira
franco-argelino ocorrem este ano num contexto particular. Paris
tem, efectivamente, dado uma mão-forte a Marrocos no dossier do Sahara
Ocidental, o que permitiu Rabat torpedear seriamente os esforços da ONU,
desmantelamento a MINURSO [Missão das Nações Unidas para o Referendo no Sahara
Ocidental] e esvaziando-a da sua substância.
Em Argel, estão convencidos de que sem o apoio forte e
determinado de Paris, Rabat nunca teria ousado ir tão longe no seu
braço-de-ferro com a ONU. Na verdade, Marrocos esteve em estreita concertação com
a França durante todo o episódio. Em cada etapa, Paris apoiou Rabat, tanto publicamente
como no seio do Conselho de Segurança da ONU.
Aproveitando-se da declaração do Secretário-Geral das Nações
Unidas durante
a sua visita a Argel na qual ele evocava um problema de ocupação do
Sahara Ocidental, Rabat parece ter lançado o que aparenta ser um processo
de desmantelamento da MINURSO, pelo menos da sua componente política.
O objetivo da escalada
marroquina é duplo: evitar missões sobre a situação cada vez mais
caótica dos direitos humanos no Sahara Ocidental e, sobretudo, tornar caduco o projecto
de referendo sobre a autodeterminação. Certamente que este não tinha qualquer
perspectiva de sucesso, tendo em conta o apoio de que beneficia Marrocos por
parte da França e, em menor grau, dos Estados
Unidos, no seio do Conselho de Segurança da ONU. Mas a opção tinha o
mérito de existir. O que,
simbolicamente, era importante para a Frente Polisario.
Por outro lado, ao manter a componente militar da MINURSO,
cujo papel é fazer respeitar o cessar-fogo, Marrocos vai-se salvaguardando contra
um eventual reatamento da luta armada por parte da Frente Polisario — uma hipótese
pouco provável, mas não completamente descartada, dados os bloqueios e a falta
de perspetivas de solução de conflito — e garantir um status quo que lhe é amplamente favorável.
Estes resultados não teriam sido possíveis sem o apoio
direto de Paris. Resta saber se os argelinos, que procuram poupar Francois
Hollande a um ano da eleição presidencial francesa, vão ousar dizer certas coisas
a Jean-Marc Ayrault, terça-feira, e a 9 de abril a Manuel Valls.
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