segunda-feira, 28 de março de 2016

Apoio de Paris a Rabat : um murro nas costas da Argélia




Artigo do website: TSA – Tout sur l’Algerie

Jean-Marc Ayrault, o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, é esperado terça-feira, 29 março, em Argel para uma visita de trabalho. O ministro francês vai nomeadamente preparar a cimeira bilateral próxima, a ter lugar a 9 e 10 de abril em Argel, na presença do primeiro-ministro francês Manuel Valls e de uma dúzia dos seus ministros.

Mas esta visita de Jean-Marc Ayrault e a próxima cimeira franco-argelino ocorrem este ano num contexto particular. Paris tem, efectivamente, dado uma mão-forte a Marrocos no dossier do Sahara Ocidental, o que permitiu Rabat torpedear seriamente os esforços da ONU, desmantelamento a MINURSO [Missão das Nações Unidas para o Referendo no Sahara Ocidental] e esvaziando-a da sua substância.

Em Argel, estão convencidos de que sem o apoio forte e determinado de Paris, Rabat nunca teria ousado ir tão longe no seu braço-de-ferro com a ONU. Na verdade, Marrocos esteve em estreita concertação com a França durante todo o episódio. Em cada etapa, Paris apoiou Rabat, tanto publicamente como no seio do Conselho de Segurança da ONU.

Aproveitando-se da declaração do Secretário-Geral das Nações Unidas durante a sua visita a Argel na qual ele evocava um problema de ocupação do Sahara Ocidental, Rabat parece ter lançado o que aparenta ser um processo de desmantelamento da MINURSO, pelo menos da sua componente política.

O objetivo da escalada marroquina é duplo: evitar missões sobre a situação cada vez mais caótica dos direitos humanos no Sahara Ocidental e, sobretudo, tornar caduco o projecto de referendo sobre a autodeterminação. Certamente que este não tinha qualquer perspectiva de sucesso, tendo em conta o apoio de que beneficia Marrocos por parte da França e, em menor grau, dos Estados Unidos, no seio do Conselho de Segurança da ONU. Mas a opção tinha o mérito de existir. O que, simbolicamente, era importante para a Frente Polisario.

Por outro lado, ao manter a componente militar da MINURSO, cujo papel é fazer respeitar o cessar-fogo, Marrocos vai-se salvaguardando contra um eventual reatamento da luta armada por parte da Frente Polisario — uma hipótese pouco provável, mas não completamente descartada, dados os bloqueios e a falta de perspetivas de solução de conflito — e garantir um status quo que lhe é amplamente favorável.


Estes resultados não teriam sido possíveis sem o apoio direto de Paris. Resta saber se os argelinos, que procuram poupar Francois Hollande a um ano da eleição presidencial francesa, vão ousar dizer certas coisas a Jean-Marc Ayrault, terça-feira, e a 9 de abril a Manuel Valls.

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