quinta-feira, 24 de março de 2016

Saharauis encurralam Marrocos

 
Jira Bulahi Bad, Delegada Saharaui para Espanha, membro da Direção Nacional da Frente Polisario

Estamos assistindo a uma crise sem precedentes na história moderna das Relações Internacionais, onde um país ocupante e signatário de um Acordo de Paz das Nações Unidas, transgride todas as normas do Direito Internacional e do escrupuloso respeito das Decisões e Resoluções que conformam a Legalidade Internacional, com o silêncio cúmplice de alguns países influentes na cena Internacional.

Durante a visita do Secretário-Geral da ONU, Sr. Ban Ki Moon, aos acampamentos de refugiados saharauis e a uma zona dos Territórios Libertados do Sahara Ocidental, sob controlo da Frente POLISARIO e, na sequência de umas declarações em que qualifica o Sahara Ocidental — como de facto é —, um território sob ocupação marroquina e mostra a sua preocupação pela situação dos refugiados depois de 40 anos de exilio e refugio, tais factos despoletaram todas os alarmes em Marrocos e a sua reação poderá levar a região do Norte de África e uma desestabilização, em momentos de máxima tensão a nível internacional.

Ante estas declarações, Marrocos recorreu ao método mais infantil no âmbito diplomático, expulsando a componente civil da Missão das Nações Unidas para o Referendo no Sahara Ocidental (MINURSO), além de ter desencadeado uma campanha mediática feroz contra o SG da ONU. Com esta decisão, Marrocos pretende esvaziar de conteúdo a MINURSO, transformá-la numa Missão para a manutenção do cessar-fogo e não para a realização do referendo e, assim, garantir o Statu Quo atual do Território.

Durante as sessões em que se abordou o assunto do Sahara Ocidental no Conselho de Segurança nos últimos dias, ficou claro que estamos ante uma situação crítica, que poderá pôr em perigo a segurança regional e internacional, devido a uma decisão unilateral de uma das partes em conflito, Marrocos, facto que se confronta com todas as decisões e resoluções do Conselho de Segurança da ONU.

Este contexto surge num momento em que, por um lado, a resistência pacífica do povo saharaui e a sua extrema paciência continuam a demostrar ao mundo inteiro o seu apego à via pacífica como solução, apesar da intransigência e permanente provocação de Marrocos e, por outro, além das fronteiras fechadas com a Argélia, põe em alerta e perigo as fronteiras com a Mauritânia deixando as portas abertas ao regresso às ações bélicas com a Frente POLISARIO. Acrescente-se a este quadro a deterioração das suas Relações com a União Europeia na sequência da decisão do Tribunal Europeu de anular os Acordos Agrícolas devido à questão do Sahara Ocidental.

Que espera a Comunidade Internacional para reagir, algo mais grave que isto? Além do seu isolamento a nível da União Africana, como sucedeu no passado com o regime do Apartheid. Encontramo-nos ante uma reedição dessa parte triste da história?

Do Governo Espanhol, nós saharauis não esperamos nada, não o esperávamos quando o Governo estava em exercício, e muito menos agora que está em funções. E, no entanto, tem diante de si uma excelente oportunidade para emendar um erro histórico da política externa espanhola.


Frente POLISARIO - Madrid

Sem comentários:

Enviar um comentário