quarta-feira, 23 de julho de 2025

A prenda torta que o Ministro leva no sapatinho - Comunicado de Imprensa da AAPSO


Paulo Rangel, Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, com o seu homólogo marroquino, Nasser Bourita.

O Ministro marroquino dos Negócios Estrangeiros, Nasser Bourita, acaba de fazer uma visita relâmpago a Portugal para trocar galhardetes com o seu homólogo português, Paulo Rangel, a propósito das relações entre os dois países.

Nada de novo sobressai, a não ser dois factos: o mais inusitado é que uma Declaração Conjunta, divulgada após uma reunião realizada em Lisboa, se apresente no portal diplomático do Governo, durante várias horas, apenas em francês. As traduções diplomáticas requerem precisão, e por isso tempo, como é sabido.

O segundo, que justifica esta visita, é que o Governo português deu mais um passo na direção errada, afastando-se do Direito Internacional, dos princípios que publicamente subscreve e do que é o interesse nacional no presente e no futuro. O tema é o Sahara Ocidental, o meio é a linguagem diplomática.

Fará a 31 de outubro próximo 50 anos que Marrocos invadiu e ocupou militarmente a colónia espanhola do Sahara Ocidental, escassos dias depois de o Tribunal Internacional de Justiça ter emitido um parecer no qual concluía que não havia laços de soberania entre o povo saharaui e nenhum dos dois países vizinhos (Marrocos e a Mauritânia), e reconhecia o direito à autodeterminação do Sahara Ocidental, de acordo com a Resolução da Assembleia Geral da ONU 1514 (XV) de 1960. A sentença final do Tribunal de Justiça da União Europeia, datada de outubro de 2024, reitera o mesmo entendimento e posição.

Este contexto, que implica compromissos essenciais e inalienáveis, é ignorado na Declaração, que compraz o regime marroquino ao subscrever que a “iniciativa marroquina de autonomia é a base mais séria, credível e construtiva para resolver o diferendo no quadro das Nações Unidas”. Pequeno pormenor: no quadro das Nações Unidas a questão do Sahara Ocidental não é reconhecida como um diferendo, nem mesmo como um conflito, mas como uma ocupação de um território não-autónomo em processo de descolonização que ainda não terminou.

Ao aceitar extirpar da Declaração Conjunta partes das resoluções da ONU, que insistem no direito à autodeterminação do povo saharaui, o Governo nega a Constituição da República e descredibiliza-se internacionalmente: não acabou o Ministro de enaltecer a sua própria ação em Bissau para que fosse aprovado um parágrafo na Declaração da XV Cimeira da CPLP (18 de julho) apelando “aos princípios consagrados na Carta das Nações Unidas, nomeadamente do direito internacional, dos Direitos Humanos, da soberania dos Estados, da integridade territorial e da autodeterminação dos Povos”?

Na realidade, os floreados diplomáticos não alteram o Direito Internacional e muito menos a luta dos povos pela liberdade, pela justiça e pela paz.

Assim o consideraram mais de 700 pessoas e organizações portuguesas que em fevereiro último endereçaram uma Carta Aberta ao Governo, exigindo uma ação coerente e determinada nesta questão.

Recordemos o que um dia disse o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Indonésia, Ali Alatas, durante a ocupação de Timor-Leste: “Timor é uma pequena pedra no nosso sapato”. Doeu, doeu, até que o referendo libertou os povos timorense e indonésio.

Lisboa, 22 de julho de 2025

AAPSO - Associação de Amizade Portugal - Sahara Ocidental




quarta-feira, 9 de julho de 2025

A Guerra no Sahara Ocidental de 01 a 30 de junho

 Foto cortesia Stefano Montesi

O Exército de Libertação do Povo Saharaui (ELPS) prosseguiu a guerra de desgaste e usura (humano e material) contra o dispositivo militar marroquino de ocupação no Sahara Ocidental.

Desde a ruptura do cessar-fogo e o reinício da guerra em 13 de novembro de 2020, as unidades do SPLA têm assediado as forças de ocupação ao longo do muro militar marroquino.

O muro militar marroquino, conhecido como o "muro de areia" ou "berma", para os saharauis «da vergonha», tem aproximadamente 2.720 km de extensão. Foi construído entre os anos 1980 e 1987 pelas Forças Armadas Reais (FAR) de Marrocos e divide o território do Sahara Ocidental entre a zona controlada por Marrocos (a oeste do muro), onde se encontram as principais cidades como El Aaiún e Dakhla; e a zona controlada pela Frente Polisario, conhecida como "zona libertada" ou "territórios libertados", a leste do muro.

O muro é  composto por:

  • Valas, campos de minas antipessoais e antitanque
  • Postos de vigilância fortificados
  • Radar e sensores eletrónicos
  • Bases militares a intervalos regulares (cerca de 200 ao longo do muro)

Este muro é considerado uma das estruturas militares mais longas do mundo, e um dos exemplos mais extensos de conflito congelado, com patrulhamento constante de ambos os lados, especialmente após o colapso do cessar-fogo em 2020.


Operações militares em junho

08 de junho  -  Unidades do Exército Popular de Libertação Saharaui (ELPS) efetuam um ataque de artilharia a enclaves e bases inimigas na zona de Tathurdurat, no setor de Auserd, na região sul de Rio de Ouro, causando  baixas nas fieirlas do exército invasor marroquino.

14 de junho - Forças saharauis atacam tropas marroquinas acantonadas na zona de Udeyàtchdeida, no sector de Farsia, na região de Oued Draa, no norte do Sahara Ocidental causando vítimas entre os efetivos do exército invasor. 

15 de junho - Unidades do ELPS bombardeiam pelo segundo dia consecutivo uma base militar marroquina na zona de Alfeyin, no sector de Farsia, no nordeste do Sahara Ocidental, causando baixas significativas e uma situação de confusção, medo e desnorte entreas fileiras do inimigo.

17 de junho - Unidades dsaharauis efectuam de novo um bombardeamento concentrado contra bases de ocupação marroquinas localizadas em Alfeiyin, no sector de Farsia, causando baixas humanas e materiais.

22 de junho - Unidades do Exército Popular de Liberatação Saharaui (ELPS) atacam uma concentração de tropas marroquinas de ocupação na zona de Udei Afneidu, no sector de Mhabes, resião de Oued Draa, no extremo nordeste do Sahara Ocidental.

27 de junho - Tropas marroquinas acantonadas no sector de Smara, a terceira maior cidade do Sahara Ocidental, localizada no norte do território, são atacadas por unidades do ELPS, que lhes infligem baixas entre os efectivos invasores.