PARIS. As Relações diplomáticas franco-marroquinas conhecem um novo conflito diplomático, após o adiamento da visita a Marrocos do ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Jean-Marc Ayrault, segundo fontes conhecedoras das relações entre os dois países.
“A visita do Sr. Jean-Marc
Ayrault a Rabat foi adiada por razões de agenda da parte marroquina”, disse
esta quinta-feira o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros francês,
Romain Nadal, o que indica que os ministros dos dois países estão em contato
para “encontrar uma nova data tão breve quanto seja possível”.
No entanto, segundo as mesmas
fontes em Paris, é a parte marroquina que está provocando este adiamento, expressando
desse modo o seu “desagrado” por não ter encontrado “o apoio necessário de Paris”
na sua decisão de expulsar o pessoal civil da Missão das Nações Unidas para o
Referendo do Sahara Ocidental (MINURSO) e as declarações recentes do secretário-geral
Ban Ki-moon, sobre a colonização marroquina do0 Sahara Ocidental.
As mesmas fontes referem
também que o pretexto da agenda também foi invocado para “não receber Ban
Ki-moon em Rabat”, assinalando que este último desencontro “revela uma alteração
significativa na posição de França” a respeito da questão do Sahara Ocidental,
ocupado por Marrocos pela força desde há mais de 40 anos.
Sobretudo, acrescentam, “França
parece cansada da sua participação no conflito a favor de Marrocos que atualmente
se encontra num ponto morto, em particular desde a expulsão de maneira
unilateral da MINURSO, como resposta às declarações de Ban Ki-moon”.
Essas fontes, chamam a
atenção para a carta de Jean-Marc Ayrault de 31 de março de 2011 à presidente da
Associação (francesa) de Amigos da República Árabe Saharaui Democrática
(ARASD), Régine Villemont, em que expressou as posições do seu partido sobre este
tema.
No que concerne ao conflito do
Sahara Ocidental, “os socialistas nas suas declarações públicas defendem, desde
a ocupação do território por Marrocos, uma posição que favorece o respeito do direito
internacional e o direito à livre determinação dos povos colonizados”, escreveu
Ayrault, recordando as diversas declarações do Partido Socialista (PS), que
“apoia os esforços do secretário-geral da ONU para organizar um referendo de
autodeterminação em condições que garantam a sua validade”.
Jean-Marc Ayrault havia
também referido na sua carta que “esta controvérsia internacional remete para a
questão do direito dos povos à livre determinação”.
Esta não é a primeira vez que
Marrocos está em disputa com França, embora as relações entre os dois países sejam
tradicionalmente “estreitas e exemplares”, especialmente com a direita francesa.
Embora Marrocos conte com
amigos entre a esquerda, as relações têm conhecido, com os líderes socialistas,
tempos difíceis. Já na época do primeiro-ministro Lionel Jospin, as relações eram
“glaciares”.
Em 2014, as Relações sofreram
outra crise quando um juiz francês remeteu à Embaixada do Reino em Paris, uma intimação
para prestar declarações ao chefe dos serviços secretos de Marrocos Hammouchi
Abdellatif, que estava então em França.
Abdellatif Hammouchi estava
implicado numa denúncia por “cumplicidade em tortura” apresentada ante a justiça
francesa.
Em junho passado o boxeur
marroquino Zakaria Moumni, que tinha apresentado uma denúncia em França por
tortura contra o mesmo chefe dos serviços de inteligência marroquina, apresentou
uma nova ação por “intento de assassinato” em Nancy (Meurthe-et-Moselle).
Zakaria Moumni diz que foi “detido, sequestrado e torturado” em Marrocos em setembro
de 2010.
Num primeiro momento, o
pugilista apresentou uma queixa contra os serviços secretos de Marrocos em
fevereiro de 2014, o que lhe valeu ser, por sua vez, processado por difamação
pelas autoridades marroquinas, o que os tribunais franceses viriam a qualificar
no passado dia 9 de junho, como "inaceitável".
Fonte: APS
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