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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
RÁDIO RENASCENÇA: A entrevista que não existiu?
Entrevistado pela Renascença, o antigo chefe da diplomacia de Marrocos apoia as manifestações no seu país e admite que não existe democracia nos países do Magrebe.
“É uma questão de dias”, diz à Renascença Mohamed Benaissa, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Marrocos. Todo o Magrebe, incluindo Marrocos, vai acompanhar a onda de levantamentos populares registada na Líbia, na Tunísia e no Egipto, considera.
Porém, hoje, para grande espanto, a RR distribuía uma nota informativa onde afirma: "A Rádio Renascença entrevistou, na passada quarta-feira, o que pensava ser o ex-ministro dos negócios estrangeiros de Marrocos, com quem um nosso jornalista tivera anteriores e repetidos contactos profissionais.
Na tentativa de reencontrar os telefones da sua antiga agenda, o jornalista entrou em contacto com alguém que ostentava o mesmo nome, a quem perguntou expressamente se se tratava do ex-ministro dos negócios estrangeiros, com quem se encontrara e falara anteriormente, fazendo-lhe inclusivamente chegar a foto de um anterior encontro, para completa e mútua identificação.
Perante a resposta positiva, formulou o convite de entrevista sobre a situação no país, que gravou, via telefone, e posteriormente emitimos. Fontes por nós confrontadas para analisar o teor das afirmações proferidas (igualmente conhecedoras do verdadeiro ex-ministro) manifestaram-se também incapazes de detectar o erro.
Na sequência da emissão, a embaixada de Marrocos alertou-nos para o facto de não reconhecer a voz do ex-ministro nas declarações que nos tinham sido prestadas. Perante a denúncia, a Rádio Renascença tentou, de novo, confirmar a identidade do entrevistado, concluindo tratar-se de uma outra pessoa que abusivamente utilizou a nossa antena para fazer passar uma mensagem para a qual não tinha autoridade.
Lamentamos profundamente o erro. Apresentamos desculpas aos nossos ouvintes e ao povo marroquino, a cujos representantes já fizemos chegar o mesmo pedido". A entrevista que nunca existiu???!!!
"Países do Magrebe vão seguir os exemplos da Líbia e da Tunísia"
"Como em todos os países da região, esta vaga de levantamentos populares é contra a injustiça e pela liberdade de expressão, a que se juntam os factores desemprego, pobreza, interdição da liberdade de expressão”. Ou seja, “tudo o que respeita aos direitos do homem”, analisa o ex-chefe da diplomacia marroquina.
“Penso que todos os países do Magrebe vão seguir os exemplos da Líbia, da Tunísia, do Egipto, etc. É uma questão de dias. Mesmo Marrocos. Não é uma excepção a estes acontecimentos”, antevê.
Mohamed Benaissa apoia as manifestações que têm ocorrido no seu país, em defesa de reformas políticas e da liberdade de expressão, e lamenta que os protestos estejam a ser reprimidos pelo regime.
"Não temos democracia nos países do Magrebe"
"Estou de acordo com estas manifestações, só que, lamentavelmente, elas são reprimidas pelo poder e pelo regime. É uma forma de ditadura suavizada pelo multipartidarismo, mas a democracia... sabe, é uma vitrina. É uma montra, porque não temos democracia nos países do Magrebe”, afirma à Renascença, admitindo que o regime marroquino é repressivo.
“[É repressivo] como em todos os reinos, sobretudo no mundo árabe. Não sou eu que o digo, é a história que fala”, sustenta.
A ligação telefónica perdeu-se entretanto e não foi possível retomar a entrevista.
Em Marrocos, de acordo com as agências internacionais, já terão morrido, pelo menos, cinco pessoas em incidentes registados nas manifestações em defesa de reformas políticas e da limitação dos poderes do rei.
Pedro Mesquita – RR
Mohamed Benaïssa, nasceu a 3 de Janeiro de 1937 em Asilah, Marrocos. Político com um longo trajecto de proximidade ao regime, foi ministro dos Negócios Estrangeiros de Abril de 1999 a 15 de Outubro de 2007, sendo substituído pelo actual MNE Taieb Fassi-Fihri. Foi também ministro da Cultura de 1985 a 1992 e embaixador nos EUA de 1993 à 1999.
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