A luta que, desde há quase quatro décadas, Marrocos iniciou pelo
controlo de Sahara espanhol tem causas muito mais tangíveis das que o ideário
aluíta tende a outorgar-lhe. Uma densa rede de interesses históricos,
económicos e geoestratégicos permitem a Marrocos uma ampla margem de impunidade
no seu constante impulso anexionista sobre o Sahara Ocidental. O Reino de Marrocos aufere cerca de 1.250 milhões de euros por ano com os fosfatos saharauis. Ao preço atual dos fosfatos, em três décadas estamos a falar de 38.000 milhões de euros.
O que está por trás desta bomba-relógio em que se converteu o
Sahara Ocidental é, como mencionámos, o controlo de seus abundantes recursos
naturais por parte Marrocos. E, entre eles, um se destaca: a fosforite.
As fosforites são rochas que contêm pentóxido de fósforo,
componente fundamental do ácido fosfórico. Este produto é de grande interesse
para a agricultura, na produção dos fosfatos utilizados na elaboração de
fertilizantes.
Assim, quando Espanha, no ano de 1947, descobriu as
primeiras jazidas de fosfatos, dava o disparo de partida para uma guerra pelo
seu controlo. A descoberta da mina de BuCraa (uma das mais grandes do mundo), em
1963, acabou por atrair o interesse global. O regime de Franco realizou
investimentos importantes para a sua exploração. De facto, a ainda existente cinta
transportadora que leva os fosfatos de BuCraa até ao porto (a maior do mundo,
com 100 km de extensão) data desses anos. Atualmente, e pese as reiteradas queixas
e denúncias dos saharauis, a mina é explorada por uma empresa estatal marroquina
encarregada das extrações, processamento e venda.
Que rendimentos
económicos obtêm Marrocos das jazidas de BuCraa?
É deveras complicado conhecer com exatidão o valor dos
lucros que resultam para Marrocos a extração das fosfatinas.
Fizeram-se estudos e, segundo os cálculos menos ambiciosos,
entre 1975 e 2006, terão sido extraídos de Bucraa um total de 40 milhões de
toneladas.
Nos últimos anos, é muito possível que esta cifra tenha disparado
já que se estima que houve um aumento muito significativo na produção, tendo
atingido os quatro milhões de toneladas por ano. Hoje, Marrocos é o maior
exportador de fosfatos do mundo (com uma produção anual aproximada de 30 milhões
de toneladas).
E enquanto Marrocos é o principal exportador, os Estados
Unidos são o principal importador.
Nos últimos dez anos, 99 por cento dos fosfatos importados
pelos EUA provêm de Marrocos e do Sahara Ocidental. O esgotamento que estão a sofrer
as suas jazidas de fosfatos tem levado a que os dois maiores produtores (EUA e
China) venham a preferir refrear as suas exportações.
Com o aumento da produção de alimentos e também de
biocombustíveis, a mudança da dieta da população mundial e a luta pelas
reservas mundiais de fosfatos vão levar a que os preços conheçam aumentos
consideráveis.
Segundo o estimado, as jazidas de BuCraa têm uma vida à sua
frente de 30 ou 40 anos. Depois, ficarão esgotadas. Mas, ao preço atual,
sabemos que os fosfatos provenientes das minas saharauis fazem aumentar os
cofres do Reino alauita em cerca de 1.250 milhões de euros por ano. Uma cifra
que justificaria a luta pela anexação do Sahara. Considerando apenas o preço
atual dos fosfatos, em três décadas estamos a falar de 38.000 milhões de euros.
…e outras matérias-primas
Mas não são só os fosfatos a única fonte de interesse para
Marrocos, já que também a indústria pesqueira constitui um motivo de anexação.
Com o litoral mediterrânico sobreexplorado, a costa saharaui
representa um objetivo estratégico para Marrocos. De facto, e segundo algumas estimativas,
entre 70 por cento e 90 por cento das capturas marroquinas têm origem no Sahara.
Cerca de 100 companhias estrangeiras participam neste setor atualmente.
Mas, para além dos fosfatos e da pesca, existem outras indústrias
no Sahara que merecem menção. Desde há algum tempo, a região converteu-se num importante
exportador de areia (utilizada na construção). De referir também as exportações
de certos metais e minerais (ferro e zircónio), e, inclusive, o aproveitamento de
urânio das próprias minas de fosfatos.
Fonte: síntese de um artigo publicado no eleconomista.es