segunda-feira, 1 de julho de 2013

A indústria de defesa condiciona a política espanhola no Sahara Ocidental


O ministro de Negócios Estrangeiros e da Cooperação, José Manuel García-Margallo, está-se revelando ser o melhor aliado espanhol das teses marroquinas no conflito do Sahara Ocidental, a ex-colónia espanhola ocupada militarmente por Marrocos há 38 anos e pendente ainda de um processo de descolonização. Por detrás da sua postura e atuação poderá encontrar-se a possível venda de material militar ao nosso vizinho do norte de África.

Assim o expressaram ao periódico “Elespidiadigital.com” dirigentes da Frente Polisario, ao analisarem a afirmação de García-Margallo de considerar “inviável” a iniciativa dos Estados Unidos de incluir na Missão das Nações Unidas para o Referendo no Sahara Ocidental (MINURSO) a vigilância do respeito dos direitos humanos, tanto no Sahara ocupado por Marrocos como nos acampamentos de refugiados saharauis de Tindouf (Argélia).

Os dirigentes saharauis afirmam que esta não é uma decisão pontual de García-Margallo, mas a continuação de outras anteriores, como foi o caso de retirar os cooperantes espanhóis dos acampamentos de refugiados, o alinhamento com Marrocos contra o Enviado Pessoal do SG da ONU para o Sahara Ocidental, Chistopher Ross, e as suas recentes declarações na Mauritânia questionando as medidas de segurança da Polisario nos acampamentos de refugiados.

Para um destacado dirigente saharaui, o que faz o ministro espanhol “em lugar de ajudar à resolução do conflito, de que Espanha foi responsável das suas origens e tem que ser parte da solução, é apoiar e dar oxigénio a Marrocos”.

Ante isto, surge a pergunta que se colocam tanto saharauis como organizações solidárias com o Sahara: A atuação do ministro García-Margallo representa o sentir do Governo de Mariano Rajoy, ou há muito de posições pessoais?
 
O ministro marroquino Abdeltif Loudyi com o seu
homólogo da Defesa do Governo espanhol
Para os dirigentes da Frente Polisario, o ministro de Negócios Estrangeiros e da Cooperação atua no limite da postura oficial do Partido Popular e, inclusive, contra e recordam que o PP deixou claro no seu programa eleitoral que apoia os esforços das Nações Unidas “com vista a conseguir uma solução conforme com as resoluções do Conselho de Segurança e o Direito Internacional e a responsabilidade histórica de Espanha”.

Na mesma linha de argumentação, os dirigentes saharauis afirma que a posição de Margallo contradiz a declaração do Presidente do Governo, Mariano Rajoy, ante a 67.ª Assembleia Geral da ONU, realizada em setembro do ano passado, em que manifestou que “Espanha mantem o seu compromisso de uma solução justa, duradoura e mutuamente aceitável para o contencioso do Sahara Ocidental que preveja a livre determinação do povo saharaui de acordo com os princípio e propósitos da Carta das Nações Unidas”.

Ante a postura de Espanha favorável a Marrocos, a Delegação Saharaui para Espanha afirmava em comunicado que “de novo”, García-Margallo “se declara a favor das teses anexionistas e coloniais marroquinas ao expressar que a salvaguarda dos direitos humanos, por parte da MINURSO no Sahara Ocidental, é inviável”, enquanto a Coordenadora Estatal de Organizações Solidárias com o Sahara, CEAS-SAHARA, fala da traição de Margallo e interroga-se: “O nosso ministro dos Negócios Estrangeiros ao serviço de Marrocos?”.
 
Material militar da empresa espanhola da empresa UROVESA
Da parte da direção da Polisario vai-se ainda mais longe e suspeita-se que, por detrás da atuação do ministro espanhol favorável às teses de Marrocos, que nega reiteradamente a que a MINURSO vigie as violações dos direitos humanos no Sahara, tal como denunciaram distintas organizações como o Centro Robert F. Kennedy, se encontra a possível venda de material militar espanhol a Marrocos.

No passado dia 15 de abril, o ministro delegado da Defesa marroquino, Abdeltif Loudyi, visitou em Santiago de Compostela as instalações da empresa UROVESA, que fábrica veículos especiais todo-o-terreno com aplicações tanto civis como militares.

Esta empresa, que se anuncia com uma experiência de mais de 35 anos e líder no mercado espanhol, apresenta entre as suas aplicações militares veículos para plataformas lança-mísseis, porta-armas, sistemas de vigilância, comunicações, comando e controlo, anti-motins e transporte de pessoal, entre outras.


Fonte: saharalibre.es / frentepolisario.es

Sem comentários:

Enviar um comentário