domingo, 14 de julho de 2013

“É o maior êxito diplomático da RASD”



Suelma Beiruk, vice-presidente do Parlamento Africano, explica a importância desta nomeação para a causa do povo saharaui

É sensível, humilde, autêntica... Uma mulher emblemática, uma combatente, que luta pela sua causa sem esmorecimentos, sem deixar em nenhum momento que o seu cargo se sobreponha ao seu caráter, à sua forma de ser. É Suelma Beiruk, Vice-presidente do Parlamento Africano e deputada saharaui na assembleia continental. Na sua casa, nos acampamentos de refugiados saharauis de Tindouf (Argélia), sento-me como na minha própria casa, em família. Nela encontro o conselho, o calor e o apoio quando me perco e também quando me encontro. Admiro-a profundamente e quero-lhe muito. Desta vez, quando a fui visitar e a encontrei em casa foi incrível. Pouco tempo antes tinha compartilhado à distância o orgulho e a emoção da notícia da sua nomeação como Vice-presidente do Parlamento Africano. Queria falar com ela, que me contasse tudo e dizer-lhe a importância e o significado em toda a sua dimensão do que significa realmente uma mulher saharaui ascender a esse alto cargo, do que isso representa de transcendente para a causa do povo saharaui.

Que te posso dizer que já não saibas? disparou quando me viu. Tudo, porque aprendo com tudo o que me dizes, respondi. Representantes dos 55 países africanos, quase por unanimidade, votaram a sua candidatura há dois meses atrás. Mais, foram eles que pediram que apresentasse a sua candidatura, já que não foi ela que tomou a iniciativa de o fazer. O seu carisma é óbvio e não passa desapercebido aos restantes deputados. Quase todos queriam demonstrar o seu apoio ao povo saharaui através do reconhecimento da sua deputada na Assembleia africana.

Elisa Pavón - Diz-me, Suelma, como explicarias a importância que tem esta decisão quase unânime adotada por votação dos deputados do Parlamento Africano?

Suelma Beiruk - Este é o maior êxito diplomático obtido pela RASD e pelo povo saharaui. O facto de os meus companheiros me terem elegido Vice-presidente — comenta — quer dizer que o Parlamento Africano reconhece o valor que nós, os saharauis, temos; que se reconhece a causa saharaui e a República Árabe Saharaui Democrática dentro do Parlamento na Organização de Estados Africanos (OEA). Não é uma vitória de Suelma Beiruk, mas sim do povo saharaui, da RASD e das mulheres saharauis, cujo sacrifício e vontade de continuar a lutar pela independência conta agora com um apoio inigualável, com uma catapulta internacional para dar a conhecer a nossa situação. É um êxito especial das mulheres saharauis, porque creio que é o mais alto cargo a que ascendeu uma mulher saharaui fora do Estado.



E.P.- Como foi o processo desta votação realizada no passado dia 13 de maio na sede do Parlamento Africano em Midrand (África do Sul)?

S.B.- Quando me pediram que me apresentasse como candidata, a verdade é que não estava muito convencida. Levo já nove anos como deputada saharaui no Parlamento e é um trabalho duro, que requer muita dedicação, concentração e requer um elevado grau de compromisso e exigência, já que não esqueço um só instante que represento o povo saharaui e a RASD. Por isso, quando decidi apresentar-me, fi-lo com todas as consequências, sabendo o apoio com que contava. Fui eleita como candidata do grupo dos países do Norte de África e competi com o deputado egípcio. Nem queria acreditar quando vi que me elegeram por 81 votos frente aos 37 do candidato egípcio… Senti um tremendo orgulho, uma felicidade enorme ao conhecer as possibilidades que se abrem para a causa saharaui.

E.P.- Como te sentes com esta imensa responsabilidade sobre os ombros?

S.B.- Sinto-me profundamente orgulhosa de representar o meu povo e a RASD, porque essa confiança que os deputados depositaram na minha pessoa, não como Suelma, mas como representante do povo saharaui e da RASD, abre-nos portas internacionalmente, não só em África, mas em todo o mundo, porque o Parlamento Africano tem relações com outros parlamentos de outras muitas regiões, com um imenso alcance em diferentes países. Sinto-me comprometida com o meu povo, por isso vou trabalhar para que a minha voz faça chegar a mensagem do povo saharaui a todos os cantos do mundo.

O Presidente do Parlamento Panafricano, Bethel Nnaemeka Amadi, insistiu em reiteradas ocasiões na “necessidade da celebração do referendo de autodeterminação do povo saharaui”. Ao contrário de outros organismos internacionais, entre eles a ONU, Nnaemeka Amadi é perentório, afirmando que “os sofrimentos do povo saharaui devem ser abordados com firmeza pelos africanos e que há que tomar medidas sérias para deter as violações dos direitos humanos no Sahara Ocidental”, ao mesmo tempo que reiterou o apoio do Parlamento Panafricano ao povo saharaui e à sua legítima luta pela independência.

E.P.- Suelma, este incondicional apoio do Presidente do Parlamento Africano, modificou-se em algum aspeto ou tornou-se ainda mais ou menos evidente, agora que ocupas o segundo lugar mais importante na hierarquia da Assembleia continental?

S.B.- Não se modificou, antes se consolidou. Os deputados desta Assembleia decidiram outorgar-me quase por unanimidade um cargo desta envergadura, numa demonstração mais (e a mais evidente e importante que podem dar) do seu apoio à causa saharaui e à reivindicação de que é necessário encontrar solução para este conflito, exigindo, ao mesmo tempo, a adoção de medidas sérias contra Marrocos para que ponha fim às violações dos direitos humanos contra o povo saharaui. Este apoio serve-nos como plataforma para estender a nossa denúncia a outras assembleias internacionais.

Texto: Elisa Pavón (Colectivo Saharaui 1975)

Fonte: SPS

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