Suelma Beiruk, vice-presidente do Parlamento Africano, explica
a importância desta nomeação para a causa do povo saharaui
É sensível, humilde, autêntica... Uma mulher emblemática, uma
combatente, que luta pela sua causa sem esmorecimentos, sem deixar em nenhum momento
que o seu cargo se sobreponha ao seu caráter, à sua forma de ser. É Suelma
Beiruk, Vice-presidente do Parlamento Africano e deputada saharaui na
assembleia continental. Na sua casa, nos acampamentos de refugiados saharauis
de Tindouf (Argélia), sento-me como na minha própria casa, em família. Nela encontro
o conselho, o calor e o apoio quando me perco e também quando me encontro. Admiro-a
profundamente e quero-lhe muito. Desta vez, quando a fui visitar e a encontrei
em casa foi incrível. Pouco tempo antes tinha compartilhado à distância o orgulho
e a emoção da notícia da sua nomeação como Vice-presidente do Parlamento
Africano. Queria falar com ela, que me contasse tudo e dizer-lhe a importância e
o significado em toda a sua dimensão do que significa realmente uma mulher
saharaui ascender a esse alto cargo, do que isso representa de transcendente para
a causa do povo saharaui.
Que te posso dizer que já não saibas? disparou quando me viu.
Tudo, porque aprendo com tudo o que me dizes, respondi. Representantes dos 55
países africanos, quase por unanimidade, votaram a sua candidatura há dois
meses atrás. Mais, foram eles que pediram que apresentasse a sua candidatura, já
que não foi ela que tomou a iniciativa de o fazer. O seu carisma é óbvio e não
passa desapercebido aos restantes deputados. Quase todos queriam demonstrar o
seu apoio ao povo saharaui através do reconhecimento da sua deputada na Assembleia
africana.
Elisa Pavón - Diz-me,
Suelma, como explicarias a importância que tem esta decisão quase unânime adotada
por votação dos deputados do Parlamento Africano?
Suelma Beiruk - Este é o maior êxito diplomático obtido pela
RASD e pelo povo saharaui. O facto de os meus companheiros me terem elegido
Vice-presidente — comenta — quer dizer que o Parlamento Africano reconhece o
valor que nós, os saharauis, temos; que se reconhece a causa saharaui e a República
Árabe Saharaui Democrática dentro do Parlamento na Organização de Estados
Africanos (OEA). Não é uma vitória de Suelma Beiruk, mas sim do povo saharaui,
da RASD e das mulheres saharauis, cujo sacrifício e vontade de continuar a lutar
pela independência conta agora com um apoio inigualável, com uma catapulta internacional
para dar a conhecer a nossa situação. É um êxito especial das mulheres
saharauis, porque creio que é o mais alto cargo a que ascendeu uma mulher
saharaui fora do Estado.
E.P.- Como foi o processo
desta votação realizada no passado dia 13 de maio na sede do Parlamento
Africano em Midrand (África do Sul)?
S.B.- Quando me pediram que me apresentasse como candidata, a
verdade é que não estava muito convencida. Levo já nove anos como deputada
saharaui no Parlamento e é um trabalho duro, que requer muita dedicação,
concentração e requer um elevado grau de compromisso e exigência, já que não esqueço
um só instante que represento o povo saharaui e a RASD. Por isso, quando decidi
apresentar-me, fi-lo com todas as consequências, sabendo o apoio com que
contava. Fui eleita como candidata do grupo dos países do Norte de África e
competi com o deputado egípcio. Nem queria acreditar quando vi que me elegeram por
81 votos frente aos 37 do candidato egípcio… Senti um tremendo orgulho, uma
felicidade enorme ao conhecer as possibilidades que se abrem para a causa
saharaui.
E.P.- Como te sentes com
esta imensa responsabilidade sobre os ombros?
S.B.- Sinto-me profundamente orgulhosa de representar o meu povo
e a RASD, porque essa confiança que os deputados depositaram na minha pessoa, não
como Suelma, mas como representante do povo saharaui e da RASD, abre-nos portas
internacionalmente, não só em África, mas em todo o mundo, porque o Parlamento
Africano tem relações com outros parlamentos de outras muitas regiões, com um imenso
alcance em diferentes países. Sinto-me comprometida com o meu povo, por isso vou
trabalhar para que a minha voz faça chegar a mensagem do povo saharaui a todos os
cantos do mundo.
O Presidente do Parlamento Panafricano, Bethel Nnaemeka Amadi,
insistiu em reiteradas ocasiões na “necessidade da celebração do referendo de
autodeterminação do povo saharaui”. Ao contrário de outros organismos
internacionais, entre eles a ONU, Nnaemeka Amadi é perentório, afirmando que “os
sofrimentos do povo saharaui devem ser abordados com firmeza pelos africanos e que
há que tomar medidas sérias para deter as violações dos direitos humanos no Sahara
Ocidental”, ao mesmo tempo que reiterou o apoio do Parlamento Panafricano ao povo
saharaui e à sua legítima luta pela independência.
E.P.- Suelma, este
incondicional apoio do Presidente do Parlamento Africano, modificou-se em algum
aspeto ou tornou-se ainda mais ou menos evidente, agora que ocupas o segundo
lugar mais importante na hierarquia da Assembleia continental?
S.B.- Não se modificou, antes se consolidou. Os deputados desta
Assembleia decidiram outorgar-me quase por unanimidade um cargo desta
envergadura, numa demonstração mais (e a mais evidente e importante que podem dar)
do seu apoio à causa saharaui e à reivindicação de que é necessário encontrar
solução para este conflito, exigindo, ao mesmo tempo, a adoção de medidas sérias
contra Marrocos para que ponha fim às violações dos direitos humanos contra o povo
saharaui. Este apoio serve-nos como plataforma para estender a nossa denúncia a
outras assembleias internacionais.
Texto: Elisa Pavón (Colectivo Saharaui 1975)
Fonte: SPS
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