Na sua guerra de libertação, os argelinos não mostraram a
mínima piedade para com os seus compatriotas que colaboravam com a França. Apelidavam-nos
de Harkis e milhares deles foram assassinados
por militantes e combatentes da FLN. Inclusive, obrigaram-nos a abandonar o território
junto com o colonialista e, até hoje, não lhes são reconhecidos nenhuns direitos.
Mais de 50 anos depois, continuam a reivindicar os seus direitos imobiliários na
Argélia, cuja maioria foram hipotecados pelo Estado argelino.
A posição da Frente Polisario para com os traidores saharauis
é muito mais indulgente. Não só nunca os atacou frontalmente, nem física nem verbalmente,
como muitos responsáveis saharauis os tratam gentilmente quando com eles se
encontram. Ou seja, cumprimentam-nos normalmente, falam com eles e chegam mesmo
a sentar-se com os mesmos em torno da famosa bandeja dos três copos de chá com
hortelã.
Para muitos deles, este tratamento é gratificante já que
aligeira o peso do remorso da consciência que sentem pela traição ao seu povo, aos
seus mártires, às suas mulheres que diariamente sofrem a crueldade do tratamento
que lhes reservam os polícias marroquinos. Muitos de nós nos questionamos, como
é possível que um saharaui não se revolte quando Layla Lili é arrastada pelos cabelos
para que se sinta desamparada e humilhada? A cena gravada no Youtube dessa mulher, naquele
dia 10 de fevereiro de 2014 ficará gravada para sempre na mente de cada
saharaui que tenha um mínimo de decência.
Mas alguns destes traidores mostram insolência apesar do tratamento
privilegiado que a Polisario lhes dispensa. A agenda marroquina que guia o seu comportamento
leva-os inclusive a ter veleidade de atuar nos meios solidários espanhóis. Querem
romper esse laço que une saharauis e espanhóis e que tanto incomoda Marrocos.
Querem acabar com essas latas de conservas e com essa quantidade de roupa usada
que é recolhida em Espanha e que é enviada para os refugiados saharauis.
Alguns deles, como Bachir Edkhil e Omar Hadrami, estão dominados
pelo rancor e pelo ódio para com a Polisario porque não puderam realizar os seus
sonhos de grandeza. Sonhos que se assemelham a uma personagem da cultura
saharaui chamado Uld Ahmaich. Diz-se que uma noite, nas profundezas de seu
sono, ele sonhou que tinha casado com a mulher mais bonita da região. Enquanto se
deleitava com o seu sonho, seu prazer se quedava vazio debaixo das cobertas que
o tapavam, de tal modo que quando acordou no dia seguinte descobriu que a sua
cama se tinha tornado um desastre. Desde então, todos os que aspiram a ser mais
do que aquilo que são denominamo-los de Ahmaich Uld.
É exatamente o caso de Bachir Edkhil. Na Polisario não se
conformou com o posto de representante na Catalunha, e aspirava a mais. Abandonou
o cargo sem avisar ninguém e foi para Marrocos. Desde então, procura um protagonismo
que, ao que parece, Marrocos lhe nega. Numa recente reunião organizada pelo partido
USFP (Union Socialiste des Forces Populaires) para comemorar a morte do seu
líder fundador, Bachir protestou pelo protagonismo que Marrocos dá à Polisario nas
negociações marginalizando-o, a eles e aos seus colegas que abandonaram a causa
saharaui. Entre outras coisas, afirmou:
Minuto 11:01 : “A direção da Polisario não passa de 200 pessoas,
no máximo. Em Marrocos há mais de 1000 eleitos. Tem mais de 53 deputados (saharauis).
Então quem representa estes saharauis? Por que razão Marrocos negoceia com eles
e não connosco? Por que razão Marrocos não saharauiza o problema? Há que
saharauizar o problema! Deixar que os saharauis se entendam entre eles! Ou
acaso não têm confiança em nós? (…) O embargo contra nós é praticado tanto por Marrocos
como pela Polisario. Ninguém quer ouvir o que dizemos. Os únicos a quem se
escuta são aqueles que se fazem chamar de ativistas de direitos humanos. O que
defendemos está na Constituição, só falta aplicá-la”.
Fonte: Diáspora Saharaui
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