Onze Estados da UE obtiveram direitos de pesca nas águas do
Sahara Ocidental ocupado, no quadro do Acordo de Pesca concluído com Marrocos.
Os donos do pescado [os saharauis], que vivem em péssimas condições
humanitárias, recebem uma ajuda de emergência da UE que corresponde a uma
ínfima parte do que esses onze Estados vão explorar.
A 10 de fevereiro de 2014, o Parlamento marroquino adoptou o
acordo de Pesca entre a UE e Marrocos. Uma vez o processo político concluído,
os pescadores da UE aguardam ansiosamente a conclusão dos procedimentos
técnicos para poder embarcar para Marrocos – e o Sahara Ocidental, a última
colónia de África, que é em grande parte ocupada por Marrocos.
Marrocos não tem qualquer legitimidade legal ou moral para
vender os ricos recursos haliêuticos do Sahara Ocidental, facto que a UE optou
por ignorar quando negociou o acordo.
Mas que Estados-Membros da UE beneficiam deste acordo
altamente controverso?
A tabela abaixo mostra a distribuição de licenças de pesca
ou quotas por categoria de pesca, conforme acordado pelo Conselho Europeu, em
novembro passado. Quatro das seis categorias são abertas à pesca no Sahara
Ocidental, por causa da sua abrangência geográfica: enquanto cada uma dessas
categorias tem um limite geográfico norte, tudo é permitido a sul do paralelo
29, incluindo as águas do Sahara Ocidental. Trata-se das categorias 3-6; pesca
artesanal, a pesca de fundo, pesca do atum e pesca industrial das espécies
pelágicas.
As restantes 18 licenças são distribuídos entre Portugal -
que recebe 14 licenças, das quais 4 podem ser usadas no Sahara Ocidental – e a
França que detém todas as restantes quatro licenças que podem também ser usadas
em águas ocupadas.
Além das 108 licenças de pesca, o acordo prevê a captura de
80 mil toneladas por ano na lucrativa categoria pelágica industrial, ou seja:
mais 60.000 toneladas por ano que no acordo anterior. As 80.000 toneladas são
divididas em prestações menores concedidas a cada Estado-Membro da UE.
A Holanda recebeu a maior fatia, com 24 567 toneladas,
seguida de 20 693 toneladas para a Lituânia e 11 640 toneladas para a Letónia.
Sete outros Estados-Membros da UE têm uma quota menor, é o caso da Alemanha
(6.467 toneladas), Polónia (4.525 toneladas), Reino Unido (4.525 toneladas),
Irlanda (2.917 toneladas), França (2.644 toneladas), Portugal (1555 toneladas)
e Espanha (467 toneladas).
A pesca pelágica é particularmente preocupante, uma vez que
ocorre quase exclusivamente em águas do Sahara Ocidental ocupado. As reservas
pelágicas de Marrocos foram severamente exploradas ou mesmo esgotadas. Os
recursos pelágicos do mar do Sahara Ocidental sofrem agora o mesmo risco, uma
vez que é para elas que se dirigem os navios Industriais russos e europeus, que
atuam ilegalmente em conivência com Marrocos. E devido também ao aumento da
frota industrial privada sob bandeira marroquina ou das Caraíbas, conforme
refere o relatório da Greenpeace de novembro de 2013.
A UE pagará € 30 milhões por ano a Marrocos por esses
direitos de acesso, e um adicional de € 10 milhões pagos pela indústria
pesqueira. Isto decorre ao mesmo tempo que as pessoas que fugiram do Sahara
Ocidental após a ocupação ilegal vivem em situação dramática nos campos de
refugiados. A UE paga apenas uma mais que ínfima fração do montante acima
indicado aos Saharauis a título de ajuda de emergência, através da organização
ECHO
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