O primo do rei Mohamed VI foi espiado em Paris quando
preparava o lançamento das suas memórias
Escrever um livro
sobre Marrocos e a sua monarquia pode gerar algum contratempo ao seu autor mesmo
que ele pertença à família real alauita. Moulay Hicham, primo direito do rei
Mohamed VI, terceiro na linha de sucessão, acaba de passar por essa experiência
estes dias em Paris onde se deslocou para preparar o lançamento do livro “Journal
d’un Principe Banni” que a editora francesa Grasset publicará na próxima semana.
Moulay Hicham, de 50 anos, foi apelidado de príncipe vermelho
pelas suas críticas ao funcionamento da monarquia marroquina e as suas alegações
a favor da democratização do país. Distanciou-se do seu primo, o monarca, após
a sua entronização em 1999 e três anos depois optou por exiliar-se nos Estados
Unidos. “Não suporto este ambiente policiesco”, declarou então. “Estou farto de
ser escutado e seguido”, acrescentou indignado. Passa, no entanto, temporadas
de descanso em Marrocos.
Quando na semana passada se deslocava por Paris foi seguido “três
indivíduos” em carro ou a pé, segundo constatou a segurança do hotel Fouquet’s
Barrière onde se alojava. Alain Kada, o diretor da segurança da unidade
hoteleira, chamou a polícia que requereu a documentação dos três acompanhantes
não desejados pelo príncipe. Explicaram que eram Paparazzi.
A mesma situação se passou na passada 6.ª feira, no aeroporto
parisiense de Orly, mas desta vez foi o pessoal da RAM, as linhas aéreas marroquinas,
quem detetou os movimentos suspeitos em torno de Moulay Hicham e chamou a polícia
que pediu a documentação a um francês que tinha feito inúmeras fotos do
príncipe e dos seus acompanhantes. Todos foram para a comissaria e o francês
declarou que era acompanhado por dois marroquinos que fugiram quando foram destetados.
Moulay Hicham recusou apresentar denuncia.
O conteúdo do libro, de 380 páginas, é um dos segredos mais
bem guardados. O primo do monarca começou a escrevê-lo em 2006 durante a sua convalescença,
após lhe terem colocado um quinto bypass. É uma biografia, mas também uma longa
análise do reinado de Hassan II (1961-1999) e Mohamed VI, o qual diz que lhe pesa
o trono, não gostar de política e, por isso, depende excessivamente de seus íntimos
colaboradores. Nunca, até agora, algum membro da família real tinha escrito um
livro.
A jornalista francesa Catherine Graciet, autora junto com o escritor
Eric Laurent, de “O Rei Predador” (editorial Le Seuil, 2012), assegura que o seu
telefone “foi posto sob escuta” durante a preparação do livro. Cinco antes
tinha publicado outro livro, “Quando Marrocos for Islamita” (La Découverte), cuja
edição foi pirateada nos computadores da editora antes de ser enviado para a
gráfica “por pessoas impacientes por o ler”.
Por: jornalista Ignacio
Cembrero | 01 de abril de 2014
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