segunda-feira, 7 de abril de 2014

“Empurram-nos para a guerra” – afirma Bucharaya Beyun, delegado da Frente POLISARIO em Espanha




O delegado da Republica Árabe Saharaui Democrática (RASD) em  Espanha, Bucharaya Beyun, culpa a comunidade internacional de “empurrar os saharauis a retornar à guerra” pela  sua inatividade no Sahara Ocidental ao considerar que é “um conflito de baixa intensidade, em que não corre sangue, como na Bósnia ou no Kosovo”.

Bucharaya Beyun, membro da direção nacional da Frente Polisario, fez esta denúncia nas VIII Jornadas das Universidades Públicas Madrilenas sobre o Sahara Occidental, que decorreram na Reitoria da Universidade Autónoma,  numa intervenção não programada e em resposta a uma pergunta de uma estudante.

O dirigente do movimento de libertação nacional saharaui disse que, desde 1991, em que a Frente Polisario aceitou um cessar-fogo, os saharauis esperam que se realize o referendo de autodeterminação prometido pela ONU, mas Marrocos põe constantemente obstáculos e consegue que a situação se adapte às suas conveniências.

“Aqueles que forçaram uma resolução para que se entrasse em negociações não o fizeram com a sã vontade de encontrar uma saída, fizeram-no para nos suster, para procurar um resultado à margem da ONU. Era essa a intenção que tinham franceses, americanos, britânicos e espanhóis. França liderou a via internacional no conflito e países como a Espanha foram a reboque”, assegurou.

Ante um auditório maioritariamente constituído por estudantes e jovens saharauis que afirmaram que não vêm saída num conflito que dura já há 40 anos, Bucharaya insistiu que os habitantes do Sahara Ocidental não estão interessados na guerra e que, por isso, aderiram ao “plano de resolução pacífico” como solução. “Mas isso não significa — acrescentou — que os saharauis não voltem a utilizar instrumentos legítimos de luta para se defender, como um retorno às hostilidades. Nunca, desde 1991, estivemos mais perto desse momento como hoje”.

Enumerou uma série de factos: “Não há perspetiva de um referendo a curto prazo; continuam a cometer-se violações dos Direitos Humanos nas zonas ocupadas com um cúmplice silêncio internacional; são espoliados os nossos recursos naturais;  a crise económica afeta os acampamentos de refugiados e as zonas ocupadas e o apoio internacional em matéria humanitária está-se  a reduzir”.

”Que podem fazer os saharauis?”, questionou-se,  respondendo: “Estão-nos empurrando para posições extremas, estão-nos empurrando para a guerra”.

Os saharauis não confiam já na ONU

A tudo isto — referiu o dirigente da Polisario — soma-se a imagem negativa que chega aos jovens saharauis: “O Sahara é um conflito de baixa intensidade e a comunidade internacional interveio no Kosovo,  na Bósnia ou nos Grandes Lagos porque havia muito sangue. Estão-nos a dizer: façam correr sangue; essa é a mensagem que nos estão mandando”.

Bucharaya comentou que nos acampamentos de refugiados e nas cidades saharauis chegou-se a uma situação de desconfiança total em relação às Nações Unidas, na comunidade internacional, e referiu : “a ONU, no território, está-se convertendo  num instrumento de legitimação da ocupação marroquina, em lugar de ser um instrumento para encontrar uma solução. Depois de 22 anos de compromisso internacional para se fazer um referendo, o que se pretende é desmobilizar os saharauis, desorganizá-los, esgotá-los”.

O delegado da Polisario qualificou o atual momento de “difícil e delicado”, e isso irá influir no que dirá a Frente Polisario no seu próximo congresso, em finais de 2015:  “Aceitará prosseguir neste processo? Não estou tocando tambores de guerra, mas esta é a realidade. Ou a comunidade internacional envia sinais de que vai a adotar uma solução definitiva para o conflito ou, em vez disso, está empurrando a nossa população para uma situação extrema, para posições radicais. E o direito do uso da força é legítimo. Espero que isso não ocorra, trabalhamos para que isso não ocorra, mas os outros — como a ONU e, sobretudo, a Espanha – também têm que trabalhar”.

Fonte: elespiadigital.com


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