Morreu hoje,
com 81 anos, Luís Fontoura, antigo vice-presidente do PSD, um homem de bom
trato, de grande elegância e inteligência. Em 1980, foi ele quem, a pedido do
então primeiro-ministro Sá Carneiro, negociou com a Frente Polisario a
Libertação de 15 pescadores portugueses capturados no «Rio Vouga» que fainava
ilegalmente nas águas territoriais do Sahara Ocidental ocupado. Desde então
sempre se considerou, de alguma maneira, ligado àquele território e àquele povo
que ele desde logo aprendeu a respeitar.
Luís
Fontoura deu-nos a conhecer que era um leitor atento das notícias veiculadas pela
AAPSO sobre a luta de autodeterminação do Povo Saharaui.
Dele nos
despedimos com respeito e consideração.
A história
dos 15 pescadores do «Rio Vouga» relatada pelo fotógrafo Rui Ochoa do Expresso,
que acompanhou as conversações:
“Numa
madrugada do início de Junho de 1980, o arrastão "Rio Vouga", com 15
pescadores a bordo, foi sequestrado por guerrilheiros da Frente Polisário, que
combatiam o reino de Marrocos, pela libertação dos territórios do Sahara
Ocidental, e por esse motivo consideravam proibido pescar nas "suas"
águas.
O navio foi
destruído durante o ataque, mas os pescadores mantiveram-se algures no deserto,
quase dois meses, enquanto decorriam conversações com o Governo português, na
altura presidido por Sá Carneiro, em plena vigência do Governo da AD.
Era um
assunto delicado para o Governo de Portugal, pois, por um lado, o principal objetivo
era trazer de novo os pescadores para Matosinhos e, por outro, havia a
preocupação de salvaguardar as excelentes relações que Portugal mantinha com
Rabat e com o Rei Hassan II, tanto mais que trabalhavam em Marrocos 25 mil
portugueses.
Sá Carneiro
decidiu então enviar ao deserto do Sahara um negociador institucional, mas que
não pertencia ao Governo, Luís Fontoura, das Relações Internacionais do PSD.
Fontoura deslocou-se por duas vezes ao Sahara, tendo assinado, num jantar (em
que participei) efetuado numa tenda no deserto, em Tindouf, em nome do Governo
português, um acordo com a Frente Polisário que levaria à libertação dos 15
pescadores.
Após uma
curta paragem em Argel, tendo como anfitrião e participante ativo nas
conversações o embaixador Meneses Cordeiro, os pescadores chegaram no dia 24 de
Julho a Lisboa”.
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