Em
Rabat, círculos marroquinos dizem-se alarmados pela notoriedade da questão do Sahara
Ocidental na imprensa egípcia, sobretudo `pelo movimento de simpatia que mostra
a causa saharaui. É o que reportam vários grandes quotidianos pan-árabes, como o
“Al Hayat” e o “Al Quds Al Arabi”, editados em Londres, que referem que se
regista agora uma mudança na postura oficial do Cairo sobre o velho conflito do
Sahara Ocidental, pelo menos desde a aproximação entre a Argélia e o Egipto,
que se refletiu, em particular, com a visita do presidente egípcio, Abdel
Fattah al-Sisi, à Argélia o mês passado.
Observa-se,
de facto, uma campanha mediática no Egipto, onde surgiram longas entrevistas com
responsáveis da Frente Polisario e reportagens realizadas por vários periódicos
egípcios nos últimos dias, que evidenciam uma franca solidariedade com a tese
da autodeterminação do povo saharaui, considerando a presença marroquina no Sahara
Ocidental como uma ocupação que deve terminar.
O
periódico "Misr Al Yawm” publicou numa das suas edições da semana passada
um importante artigo sobre a questão saharaui. Por seu lado, a revista egípcia "Rose
Al Youssef” dedicou várias páginas ao conflito do Sahara Ocidental, onde figura
com grande destaque uma longa entrevista com o presidente saharaui Mohamed
Abdelaziz. Este último parece ter aproveitado a oportunidade para pôr tudo
sobre a mesa. "A Frente encontra-se sob a pressão dos jovens, cansados de viver nos acampamentos e que querem voltar à
guerra", declarou.
O
Presidente Abdelaziz deplorou o facto de a UE ter reduzido em 60% a sua ajuda aos
acampamentos de Tindouf. Atribuiu esta diminuição às "consequências da
crise económica". Mas, sobretudo, criticou a falta de participação dos
países árabes em encontrar uma solução duradoura para o conflito do Sahara Ocidental.
Em
resposta, sítios de notícias marroquinos (ou sítios de propaganda, conforme o
ponto de vista), criticam violentamente a perda por parte do Egipto da sua
neutralidade no conflito, algo que sucedeu no passado, não só com o Egipto, mas
também em relação a muitos países árabes, especialmente no âmbito da Liga
Árabe. A imprensa marroquina, em particular a que é próxima do governo islamita
de Marrocos, aproveitou para qualificar o atual executivo do Cairo como ilegítimo
depois do golpe militar contra o ex-presidente e líder dos Irmãos Muçulmanos,
Mohamed Morsi.
Uma «bronca» na ON TV: a apresentadora Amani El Khayat qualificou Marrocos de «Bordel" |
As
relações entre os dois países deterioraram-se seriamente com a gafe de uma apresentadora
[Amani El Khayat] de uma cadeia de televisão egípcia ON TV (propriedade do patrão
da Orascom, Naguib Sawiriss) que qualificou Marrocos como "bordel". O
ministro egípcio dos Negócios Estrangeiros, Sameh Shokry, teve que reagir, expressando
a sua desaprovação, reuniu com os patrões dos meios de comunicação e sublinhou
numa declaração ao Al Ahram "as boas relações" entre o Cairo e Rabat
especialmente desde o dia 3 de julho de 2013 (queda de Mohamed Morsi – nota do
tradutor). Simultaneamente, encarregou o embaixador egípcio em Rabat a emitir, quinta-feira,
17 de julho, um comunicado em que expressa a sua indignação e repúdio pelas declarações
proferidas pela apresentadora da televisão egípcia sobre Marrocos.
Fonte:
Le Jour d'Algérie, 22/07/2014
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