Carlos Ruiz Miguel, professor catedrático
de Direito Constitucional na Universidade de Santiago de Compostela, continua a
elucidar-nos sobre os desenvolvimentos da crise diplomática que grassa entre
França e Marrocos. Leitura obrigatória!
A crise entre França e o makhzen, que
estalou abertamente em fevereiro de 2014, longe de amainar, agrava-se. A convenção
judicial franco-marroquina continua suspensa depois de um juiz francês ter
desencadeado um procedimento contra o chefe da espionagem interna marroquina
(Abdel-latif Hammushi) por várias ações que o acusam de torturas (uma delas pelo
preso político saharaui Naama Asfari). O presidente francês François Hollande procurou
acalmar os ânimos, mas tudo parece indicar que os ânimos se crisparam ao ponto de
duas autorizadas vozes do makhzen terem
acusado velada, mas claramente, a França de estar por detrás do "wikileaks
do makhzen", importantes revelações
feitas em nome de "Chris Coleman" sobre graves secretos do makhzen
I. A CRISE ENTRE FRANÇA E O MAKHZEN, UMA CRISE MUITO AMPLA
Ainda que os
jornalistas espanhóis que se dedicam aos assuntos do norte de África praticamente
não tenha tratado o tema (os que o fizeram), os leitores deste blog sabem que o
primeiro desenlace nesta crise produziu-se quando, a 17 de dezembro de 2013, o então
primeiro-ministro francês, Jean-Marc Ayrault, subscreveu um comunicado conjunto
com o seu homólogo argelino onde ambos países pediam o cumprimento das resoluções
da Assembleia Geral das Nações Unidas sobre o Sahara Ocidental. Isso mesmo foi
referido neste blog, que também publicou, em exclusivo, que Ayrault, antes de
ser primeiro-ministro, como porta-voz do grupo parlamentar socialista na
Assembleia Nacional, tinha apoiado o referendo de autodeterminação do Sahara Ocidental.
A ordem emitida pela juíza
de instrução de Paris, Sabine Kheris, a 20 de fevereiro pedindo a comparência do
chefe da espionagem interna marroquina, Hammushi, para ser interrogado sobre a
ações judiciais apresentadas contra ele por torturas foi um passo mais.
Neste contexto, Javier
Bardem revelou, no seu documentário [Filhos das Núvens: A Última Colónia], as
palavras que o embaixador da França na ONU, Gérard Araud, lhe havia proferido
sobre Marrocos [foi esta a frase: «L'ambassadeur
de France aux Nations unies, Gérard Araud, qu'on a rencontré en 2011, nous a
dit que le Maroc est une maîtresse avec laquelle on dort toutes les nuits, dont
on n'est pas particulièrement amoureux, mais qu'on doit défendre»]. Convem recordar
que, então, foi afirmado que Araud ia pôr uma ação judicial contra Bardem
porque aquelas palavras que atribuíram como "falsas" e, no entanto, não
foi interposta qualquer ação judicial. Seria de justiça que os meios de Comunicação
espanhóis que se lançaram a atacar Bardem lhe pedissem desculpas. Veremos se a sua
"ética" jornalística lhes permite.
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