sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Wilikeaks do makhzen (I): graves segredos do regime marroquino postos a descoberto



No dia 3 de outubro fez a sua aparição no twitter uma conta em nome de um tal "Chris Coleman" que começou a publicar documentos sumamente importantes sobre vários aspetos do regime da dinastia alauita, o "makhzen". Estes documentos referem-se a numerosas questões: as atividades e financiamento do lobby pro-marroquino nos EUA e em França; dados sobre o "jornalista" que atua como elo de ligação com estes lobbys; a criação pelo makhzen de meios de informação africanos teledirigidos pelo makhzen; as relações secretas, mas estreitas, do serviço de inteligência do makhzen com o Mossad; as práticas de tráfico de influências do atual ministro dos Negócios Estrangeiros; ou os problemas familiares da vice-ministra marroquina dos Exteriores. E outras coisas mais... @Desdelatlantico.


I. DOCUMENTOS SOBRE O LOBBY PRO-MARROQUINO NOS EUA

Os documentos revelados por “Chris Coleman” põem em questão os jornalistas Richard Miniter e Joseph Braude que, nas suas "análises", tratam de transmitir à opinião pública norte-americana que a Frente Polisario tinha ligações com o "terrorismo jihadista". Segundo "Chris Coleman", ambos "analistas" foram recrutados por Ahmed Charai para trabalhar com a DGED, o serviço secreto exterior do makhzen. Do mesmo modo, "Chris Coleman" põe em questão a publicação "The National Interest" editada pelo "Center for the National Interest". Na sua conta também figuram fotografias do senador John McCain.

- Richard Miniter, é um jornalista que trata questões sobre o norte de África caluniando o povo saharaui e a Argélia e louvando sempre o makhzen (fê-lo, por exemplo, no New York Times). Na documentação agora revelada, constata-se que Miniter recebeu milhares de dólares em  efetivo (60 000 dólares, segundo um documento) assim como convites para viagens de luxo a Marrocos.

- Joseph Braude, por seu lado, também publicou artigos caluniosos contra o povo saharaui e também recebeu dinheiro do elo de "ligação" dos serviços secretos do makhzen. E não só isso. Segundo os documentos revelados por "Chris Coleman", também elaborou para o serviço marroquino relatórios sobre os jornalistas norte-americanos favoráveis à causa saharaui e o modo de os neutralizar.

- Quanto ao "The National Interest" é um meio que publica artigos do sempre presente Ahmed Charai e de Joseph Braude... e para quem, segundo um documento revelado por "Chris Coleman", Charai transferiu 25 000 dólares.


Ahmed Charai, o pseudo-jornalista, "recrutador" e "enlace" dos indivíduos que trabalham para o lobby pro-marroquino. Aqui com o Senador John McCain. 

II. DOCUMENTOS SOBRE O LOBBY PRO-MARROQUINO EM FRANÇA

A documentação revelada por "Chris Coleman" revela também a conexão entre o makhzen e o professor Henri Louis Védie e o jornalista Vincent Hervouet.

- Henri Louis Védie, é um professor de Economia, muito relacionado com uma cínica organização chamada "Association de Promotion des Libertés Fondamentales" criada pouco antes do iníquo processo contra os dirigentes do acampamento de protesto de "Akdeim Izik" com o objetivo de redigir um assombroso relatório segundo o qual aquele teria sido um processo "justo". Uma publicação francesa já anteriormente havia publicado que esta associação era financiada pelo makhzen.

- Vincent Hervouet, por seu lado, é um redator da cadeia de televisão francesa "LC1" ("O Canal 1"). De acordo com estes documentos, este jornalista informava o "jornalista" marroquino Ahmed Charai das iniciativas que levava a cabo para que na sua cadeia televisiva se transmitissem pseudo-informações que atacavam a Argélia (dando publicidade a um fantasma movimento de libertação da Cabília claramente inspirado pelo serviço secreto marroquino) ou difundindo calunias que vinculam a Frente Polisario ao "terrorismo" e tudo isso a troco de "favores" para passar as férias em Marrocos.

III. DOCUMENTOS SOBRE O "ELO DE LIGAÇÃO" DO MAKHZEN COM O LOBBY PRO-MARROQUINO

Segundo afirma "Chris Coleman", o "recrutador" e "enlace" destes indivíduos que trabalham para o lobby pro-marroquino é Ahmed Charai.
Charai não deveria ser um desconhecido para a opinião pública espanhola. Com efeito, a revista "Época" (como informa “El Semanal Digital", na sua edição de 11 de setembro de 2008) publicou:

O nome de Ahmed Charai pode ser que lhes não recorde nada. Mas revela que é o diretor do portal L'Observateur.ma que, na semana passada, apontou o ex-presidente José María Aznar como o pai do filho da ministra da Justiça francesa, Rachida Dati. As coisas vão-se aclarando...

A  mesma publicação informa-nos  – que casualidade…!!!  – que entre os colaboradores daquele meio que caluniou José María Aznar López se encontra... Vincent Hervouet! O mesmo anteriormente citado...
Neste blog, em tempos, publiquei um artigo intitulado "Escándalo Rachida Dati ¿Ha sido la amiga de Sarkozy cómplice de una maniobra secreta marroquí contra Aznar?" que, à luz dos documentos revelados por "Chris Coleman" adquire nova luz.

Pois bem, "Chris Coleman" desvenda vários documentos que provam que Charai foi detido a 14 de setembro de 2011 pelas autoridades de imigração norte-americanas no aeroporto internacional de Dulles, procedente de Paris. Motivo? Que na sua declaração de fronteira disse que não levava mais do de 10 000 dólares em efetivo... disse que levava 4 000. Mas, na realidade, levava cinco vezes mais. e, curiosamente, em "envelopes". Concretamente, segundo a sentença judicial que o condenou, tinha consigo 15 000 dólares em três envelopes (de 15 000, 3 000 e 2 000 dólares). Segundo "Chris Coleman", esse dinheiro era para pagar os lobbystas pro-marroquinos.

O mais interessante vem depois. Com efeito, depois de ter confessado ante o juiz a sua culpabilidade, prosseguiu as suas atividades de lobby nos Estados Unidos avalizadas por John J. Hamre, presidente do CSIS (Centre for Strategic and International Studies), segundo um documento que "Chris Coleman" revela.



IV. ALGUNS DOCUMENTOS QUE JÁ DESAPARECERAM...

A conta de "Chris Coleman" revelou também outros documentos que, no entanto, desapareceram há poucos dias.
Entre esses documentos, que já não estão na rede, apareciam:
- Pagamento de 15 000 dólares por Ahmed Charai ao "The Washington Times", realizado a 15 de julho de 2008.
- Pagamento de 25 000 dólares por Ahmed Charai ao  "Foreign Policy Research Institute", realizado a 16 de setembro de 2008
- Pagamento de 10 000 dólares por Ahmed Charai ao "Search for Common Ground", realizado a 29 de setembro de 2011

- Pagamento de 49500 libras esterlinas por Ahmed Charai ao "The Financial Times", realizado a 27 de outubro de 2011

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