Mohamed VI e Barack Obama na Casa Blanca em novembro de 2013 |
Há um ano,
numa visita
de trabalho a Washington, o rei Mohamed VI de Marrocos assumiu com o seu anfitrião
— o presidente Barack Obama — um triplo
compromisso discreto sobre Sahara Ocidental. Ele, porém, não ficou plasmado no comunicado
oficial.
O acordo então
alcançado saiu à luz do dia graças a Chris Coleman, um perfil anónimo
de Twitter que divulga desde há quatro semanas dezenas de documentos
confidenciais da diplomacia marroquina. O compromisso fica patente num despacho
que o embaixador adjunto de Marrocos junto da ONU, Abderrazzak
Laassel, enviou a 1 de agosto passado ao seu ministro dando-lhe conta da
conversa mantida com a sua homóloga norte-americana Rosemary Dicarlo.
Um ano antes,
em abril de 2013, a embaixadora dos EUA junto da ONU, Susan Rice,
tratou de emendar a resolução que o Conselho de Segurança vota anualmente em abril
sobre o Sahara para prorrogar o mandato da MINURSO, o contingente de capacetes azuis
deslocado na antiga colónia espanhola. Rice
propôs ampliar as competências para que [a MINURSO] pudesse ocupar-se dos direitos
humanos, mas Rabat, secundado por várias capitais europeias, recusou.
Sete meses
depois a Administração Obama voltou à carga com outras ideias e obteve um triplo compromisso por parte do
monarca. O rei aceitou estabelecer um programa de visitas ao Sahara do Alto Comissariado das Nações
Unidas para os Direitos Humanos; legalizar um maior número de ONG saharauis
e impedir que os civis saharauis, mas também os marroquinos, pudessem ser julgados
por tribunais militares.
Em que
medida cumpriu Mohamed VI? Eric
Goldstein, que é o diretor adjunto para a região da ONG Human Rights Watch (HRW) e possui um grande conhecimento
de Marrocos, responde à pergunta. " O balanço do acorrido desde então, em
relação a visitas para investigar direitos humanos é positivo", responde."
Relatores especiais e delegações têm podido ali deslocar-se e trabalhar sob condições
corretas", assegura.
O segundo ponto,
no entanto, não foi cumprido. "Marrocos não legalizou no Sahara Ocidental nenhuma
associação de que suspeite quanto à sua orientação ou a sua direção seja hostil
à sua presença no território", responde Goldstein. As principais prejudicadas
são duas ONG de defesa dos direitos humanos: o Codesa, que é dirigida pela célebre ativista
Aminetu Haidar, e a ASVDH, em que outra mulher, Ghalia Djimi, protagoniza um papel
destacado.
Sobre o terceiro
ponto, a valoração de Goldstein é ambígua: "O projeto de lei [para acabar
com os tribunais militares] está bem, mas ainda não foi formalmente adotado".
Mohamed
VI presidiu, em março, ao Conselho de Ministros que aprovou a modificação das
competências da justiça castrense, mas esta não
foi ainda processada pelo Parlamento até há semana passada e, portanto, não
está ainda em vigor.
O julgamento em Tribunal Militar dos resistentes saharauis do acampamento de protesto de Gdeim Izik |
O último
grande julgamento de civis por militares realizou-se em fevereiro de 2013. Vinte
e cinco saharauis foram condenados a penas entre dois anos de risão e cadeia
perpétua. O tribunal considerou-os culpados da morte de onze polícias antidistúrbios
marroquinos durante o desmantelamento do acampamento de protesto saharaui de Gdeim
Izik, em novembro de 2010, perto El Aaiún. A Amnistia Internacional e o HRW
criticaram com dureza a falta de garantias processuais para os acusados.
Mais recentemente,
em fevereiro, um jovem
maliense de 18 anos também se sentou no banco de um tribunal militar devido
à sua alegada participação no apedrejamento de um polícia marroquino que faleceu
às portas de Melilla cuja vala os imigrantes tentaram saltar.
As petições formuladas
pela Administração de Obama ao soberano alauita podem parecer, do ponto de
vista dos direitos humanos, pequenas ou timoratas, mas nenhum país europeu, dos
que mantêm estreitas relações com Marrocos, se atreveria a fazê-las.
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