Nove organizações brasileiras de massas tomam posição sobre o II Fórum Mundial de Direitos Humanos que tem início hoje em Marraquexe.
Os cidadãos e entidades brasileiras signatárias deste manifesto
apresentam seu rechaço à realização do 2º. Fórum Mundial de Direitos Humanos na
cidade de Marrakesh no Marrocos entre os dias 27 e 30 de novembro de 2014. O
Marrocos, organizado como uma monarquia, é o último país do mundo a manter um
povo colonizado em pleno século XXI e recorrentemente é condenado por organizações
internacionais, como a Anistia Internacional, Human Rights Watch, Parlamento
Europeu, ONU e outros, pelas constantes violações aos direitos humanos.
Marrocos mantém como sua colônia o território do Sahara Ocidental
que é o último caso de descolonização constante da agenda da ONU. Está em
curso, atualmente uma Missão das Nações Unidas para o Referendo no Sahara
Ocidental (MINURSO), que, no entanto, por um veto da França, encontra-se sem
delegação para vigiar a aplicação dos direitos humanos na região. O
Secretário-Geral da ONU, Sr. Ban Ki-moon, no último dia 10 de abril de 2014,
renovou apelos às quinze nações do Conselho de Segurança cobrando o
monitoramento dos direitos humanos, bem como advertindo contra a exploração
injusta dos recursos naturais da região.
Igualmente, o Tribunal Internacional de Justiça de Haia afirmou que
o Saara Ocidental nunca fez parte do Marrocos, nem mesmo antes da colonização
espanhola de 1884 e nunca existiu qualquer vínculo jurídico que pudesse
corroborar com as pretensões ocupacionistas do Marrocos.
O Marrocos é também o único país africano desligado da União
Africana por ter violado, com invasão militar do território Saharauí, o
princípio da inviolabilidade das fronteiras herdadas por países descolonizados.
O Rei do Marrocos mantém um muro de quase 3 mil quilômetros, o maior do mundo,
no maior terreno minado por minas anti-pessoais do mundo, com a intensão de
impedir o acesso do povo saharauí à sua terra e seus recursos naturais. Existem
famílias separadas há mais 40 anos, além de mais de 500 pessoas desaparecidas e
mais de 70 encarceradas, sendo alguns em regime perpétuo.
Várias entidades brasileiras, que conhecem este histórico do
Marrocos e também o fato do país proibir as liberdades sexuais e a livre
manifestação da opção sexual, bem como manifestações religiosas contrastantes
com a religião oficial do reino, não foram consultadas para a decisão da sede
do 2º. FMDH. Como se não bastassem as cotidianas violações dos direitos
humanos, multiplicam-se no Marrocos atos de repressão contra manifestações
públicas (marchas, conferências, seminários) e contra atividades internas de
organizações legais (acampamentos de verão, seminários de formação),
restrigindo de tal maneira as liberdades públicas assim como os direitos de organização
e expressão. Recentemente, duas das mais importantes associações marroquinas de
direitos humanos manifestaram a não participação no 2º. FMDH por se tratar de
uma instrumentalização do tema direitos humanos do evento por parte do reino
marroquino. São elas a Liga Marroquina de Direitos Humanos e a Associação
Marroquina de Direitos Humanos, assim como a Attac-Cadtm Marrocos e outras
organizações. Entidades saharauís de direitos humanos, como o Coletivo de
Defensores Saharauís (CODESA) e outras, também foram, até o momento, impedidas
de participar do FMDH.
Pelos motivos aqui expostos manifestamos nossa contrariedade e pesar
pela escolha da sede e a inevitável instrumentalização do 2º. FMDH por um
governo que não está comprometido com o respeito aos mais básicos princípios
legais internacionais, de soberania dos povos e direitos humanos.
- CEBRAPAZ – Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz
- UNEGRO – União de Negros pela Igualdade
- UBM – União Brasileira de Mulheres
- MMM – Brasil – Marcha Mundial de Mulheres
- CTB – Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil
- FS – Força Sindical
- MST - Movimento Rural Sem Terra
- UJS - União da Juventude Socialista
- CDDH – Campinas – Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Campinas
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