Mohamed VI no Abu Dabi durante o desfile militar de 2 de dezembro |
"O
médico pessoal de Sua Majestade o Rei informa que o Soberano apresenta desde ontem
um síndrome gripal agudo, com febre de 39,5 graus, complicada com uma bronquite".
Com esta justificação, num comunicado de uma precisão nada habitual, a Casa
Real marroquina anunciou a 25 de novembro o cancelamento da primeira visita
oficial de Mohamed VI à China. Também foi suspensa a audiência que o monarca tinha
previsto conceder nesse dia ao primeiro- ministro sul-coreano Chung Hong-won.
O rei
não foi à China a 27 de novembro, mas foi de visita privada aos Emirados Árabes
Unidos (AEU) no domingo 30. Na segunda-feira passada vários meios de comunicação
marroquinos anunciavam que se encontrava desde domingo de viagem no Abu Dabi. Um
vídeo, em que assiste ao desfile militar que comemora a festa nacional, confirmou
a sua presença na capital dos Emirados. Horas depois, a agência oficial de imprensa
marroquina (MAP) publicou, por fim, a notícia de que se encontrava ali em "visita
privada".
"Que
terão pensado os chineses ao ver que anula a sua viagem por razões de saúde, mas
que a enfermidade não o impede de se deslocar ao Abu Dabi?", Questionava-se
um diplomata europeu acreditado em Rabat. Marrocos mantem uma estreita relação
com os Emirados, que Mohamed VI visitou o ano passado, mas a China é uma potência
mundial, membro permanente do Conselho de Segurança da ONU onde se decide, em
parte, o futuro do Sahara Ocidental.
Este
ano, é a terceira viagem que o monarca cancela, mas ao contrário das anteriores,
desta vez sim foi dada uma explicação. A 23 de setembro renunciou, no último
momento, a voar para Nova Iorque onde devia pronunciar um discurso ante a Assembleia
Geral da ONU. "Às 18H00 [de 23 de setembro], o dispositivo de segurança mantinha-se
nas principais ruas de Rabat ante a eminente passagem da coluna real a caminho do
aeroporto de Rabat-Salé", escreveu então a jornalista Narjis Rerhaye no diário
marroquino “Libération”.
"As
personalidades que deviam assistir à despedida do Chefe del Estado foram só informadas
da anulação da viagem quando já se deslocavam para "o aeródromo, acrescentou. "Que terá
passado? Quais as razões para anular esta viagem? De momento não há nenhuma explicação
oficial, ainda que o mais surpreendente é que não haja nenhuma informação oficial",
estranhava a respeito do sucedido. Nem sequer "as cadeias de televisão públicas
o mencionaram nos seus telediários noturnos", concluía.
Em outubro
novo cancelamento, desta vez a visita real à Rússia anunciada à imprensa a 17
de setembro pelo titular dos Negócios Estrangeiros, Salahedin Mezzouar. O mesmo ministro explicou que a viagem era adiada
sine die para "elaborar os
fundamentos de uma relação estratégica" russo-marroquina.
Embora
em março último tenha efetuado um périplo pela África subsahariana, o rei,
aparentemente, tem muita dificuldade em desenvolver a atividade internacional
que requer Marrocos. Rabat necessita que a comunidade internacional venha a dar
a sua aprovação definitiva ao controle que exerce sobre a antiga colónia espanhola.
A
maior desfeita dada por Mohamed VI ocorreu, no entento, em junho de 2013, a um dos
políticos com mais peso no mundo: o turco Recep Tayeb Erdogan, que era na
altura primeiro-ministro e agora é Presidente.
Saadedin
el Othmani que era, à época, ministro dos Negócios Estrangeiros marroquino,
anunciou à agência de imprensa turca Anatolia que o monarca se reuniria com Erdogan
em Rabat, mas não foi isso que aconteceu. Mohamed VI continuou de férias em França.
Longa
é a lista de cimeiras euro-mediterrâneas, árabes e da Organização da Conferência
Islâmica em que tão pouco Mohamed VI esteve presente, apesar de presidir ao Comité
Al Qods, encarregado de defender o caráter islâmico de Jerusalém.
"Tantas
oportunidades perdidas por Marrocos!" ao estar "representado por indivíduos
carentes de legitimidade constitucional e autoridade para negociar com Chefes
de Estado estrangeiros ou comprometer a responsabilidade do país", escreveu
em junho de 2013 o jornalista Ali Anouzla, diretor do diário digital Lakome. Três
meses depois a publicação foi encerrada, por outros motivos, e ainda não
conseguiu que fosse reaberta.
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