quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

A aversão do rei Mohamed VI às viagens oficiais


Mohamed VI no Abu Dabi durante o desfile militar de 2 de dezembro


"O médico pessoal de Sua Majestade o Rei informa que o Soberano apresenta desde ontem um síndrome gripal agudo, com febre de 39,5 graus, complicada com uma bronquite". Com esta justificação, num comunicado de uma precisão nada habitual, a Casa Real marroquina anunciou a 25 de novembro o cancelamento da primeira visita oficial de Mohamed VI à China. Também foi suspensa a audiência que o monarca tinha previsto conceder nesse dia ao primeiro- ministro sul-coreano Chung Hong-won.

O rei não foi à China a 27 de novembro, mas foi de visita privada aos Emirados Árabes Unidos (AEU) no domingo 30. Na segunda-feira passada vários meios de comunicação marroquinos anunciavam que se encontrava desde domingo de viagem no Abu Dabi. Um vídeo, em que assiste ao desfile militar que comemora a festa nacional, confirmou a sua presença na capital dos Emirados. Horas depois, a agência oficial de imprensa marroquina (MAP) publicou, por fim, a notícia de que se encontrava ali em "visita privada".

"Que terão pensado os chineses ao ver que anula a sua viagem por razões de saúde, mas que a enfermidade não o impede de se deslocar ao Abu Dabi?", Questionava-se um diplomata europeu acreditado em Rabat. Marrocos mantem uma estreita relação com os Emirados, que Mohamed VI visitou o ano passado, mas a China é uma potência mundial, membro permanente do Conselho de Segurança da ONU onde se decide, em parte, o futuro do Sahara Ocidental.

Este ano, é a terceira viagem que o monarca cancela, mas ao contrário das anteriores, desta vez sim foi dada uma explicação. A 23 de setembro renunciou, no último momento, a voar para Nova Iorque onde devia pronunciar um discurso ante a Assembleia Geral da ONU. "Às 18H00 [de 23 de setembro], o dispositivo de segurança mantinha-se nas principais ruas de Rabat ante a eminente passagem da coluna real a caminho do aeroporto de Rabat-Salé", escreveu então a jornalista Narjis Rerhaye no diário marroquino “Libération”.

"As personalidades que deviam assistir à despedida do Chefe del Estado foram só informadas da anulação da viagem quando já se deslocavam para  "o aeródromo, acrescentou. "Que terá passado? Quais as razões para anular esta viagem? De momento não há nenhuma explicação oficial, ainda que o mais surpreendente é que não haja nenhuma informação oficial", estranhava a respeito do sucedido. Nem sequer "as cadeias de televisão públicas o mencionaram nos seus telediários noturnos", concluía.

Em outubro novo cancelamento, desta vez a visita real à Rússia anunciada à imprensa a 17 de setembro pelo titular dos Negócios Estrangeiros, Salahedin Mezzouar.  O mesmo ministro explicou que a viagem era adiada sine die para "elaborar os fundamentos de uma relação estratégica" russo-marroquina.

"Que terão pensado os chineses ao ver que Mohamed VI anula a sua viagem por razões de saúde, mas que a enfermidade não o impede de se deslocar ao Abu Dabi?". Na foto o Presidente da República Popular da China, Xi Jinping


Embora em março último tenha efetuado um périplo pela África subsahariana, o rei, aparentemente, tem muita dificuldade em desenvolver a atividade internacional que requer Marrocos. Rabat necessita que a comunidade internacional venha a dar a sua aprovação definitiva ao controle que exerce sobre a antiga colónia espanhola.

A maior desfeita dada por Mohamed VI ocorreu, no entento, em junho de 2013, a um dos políticos com mais peso no mundo: o turco Recep Tayeb Erdogan, que era na altura primeiro-ministro e agora é Presidente.

Saadedin el Othmani que era, à época, ministro dos Negócios Estrangeiros marroquino, anunciou à agência de imprensa turca Anatolia que o monarca se reuniria com Erdogan em Rabat, mas não foi isso que aconteceu. Mohamed VI continuou de férias em França.

Longa é a lista de cimeiras euro-mediterrâneas, árabes e da Organização da Conferência Islâmica em que tão pouco Mohamed VI esteve presente, apesar de presidir ao Comité Al Qods, encarregado de defender o caráter islâmico de Jerusalém.

"Tantas oportunidades perdidas por Marrocos!" ao estar "representado por indivíduos carentes de legitimidade constitucional e autoridade para negociar com Chefes de Estado estrangeiros ou comprometer a responsabilidade do país", escreveu em junho de 2013 o jornalista Ali Anouzla, diretor do diário digital Lakome. Três meses depois a publicação foi encerrada, por outros motivos, e ainda não conseguiu que fosse reaberta.



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