segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

O Sahara Ocidental e a incoerência do PSOE




As declarações da Presidente da Junta da Andaluzia, Susana Díaz [PSOE], desautorizando a visita que o seu Vice-Presidente, Diego Valderas [Esquerda Unida] tem programado aos acampamentos de refugiados Saharauis em Tindouf, são dececionantes e estão suscitando uma controvérsia no seio da opinião pública em geral, especialmente na Andaluzia, já que segundo a presidente a viagem constitui uma afronta "ao único aliado estável de Espanha e da Europa" na região.

Susana Díaz também afirmou que o seu governo tem de ser "respeituoso em relação à posição que tem o Governo de Espanha em matéria de Relações Exteriores" e que "qualquer relação com terceiros países que impliquem um conflito internacional, tem que estar à margem da ação do Governo [andaluz]".

Suzana Diaz

A experiência tem-nos mostrado que os governos socialistas da Andaluzia se comportam de uma forma quando se trata de censurar as atitudes dos líderes de qualquer partido político, e de forma bem diferente se se trata do líder do PSOE. Os exemplos são muitos:

A 19 de dezembro de 2001, o Secretário-Geral do PSOE, José Luis Rodríguez Zapatero, realizou uma vista desautorizada pelo Governo espanhol a Marrocos, quando Espanha estava em plena crise diplomática com Marrocos; no entanto, nesse caso, o Governo de Andaluzia não se opôs à visita de Zapatero e não foi muito "respeituoso com as posições do Governo de Espanha em matéria de Relações Exteriores". É também o caso da visita que realizou o também Secretário-Geral do PSOE Felipe Gonzales a 14 de novembro de 1975 aos mesmos Acampamentos de Refugiados Saharauis em Tindouf e a que agora o Governo de Susana Díaz, quer proibir ao Vice-presidente da Andaluzia, Diego Valderas.

Uma das principais causas das derrotas eleitorais e da perda de militantes e simpatizantes do PSOE deve-se ao facto dos dirigentes do PSOE não serem coerentes com os fins e objetivos do partido, já que se pronunciam de uma forma e atuam de outra distinta, e cada vez mais se desviam dos princípios do socialismo; e, em muitos casos, comportam-se e defendem posturas mais direitistas que a própria direita.

Se analisamos o comportamento e/o posicionamento dos principais dirigentes do PSOE em relação ao contencioso do Sahara Ocidental, constatamos que os dirigentes socialistas, quando estão na oposição, pronunciam-se e apresentam-se mais solidários e participativos nos eventos e atos públicos em defesa das resoluções da ONU, e dos legítimos direitos do povo saharaui à autodeterminação; mas esses mesmos dirigentes, ao chegarem a Moncloa [Palácio do Governo de Espanha], mudam de postura e convertem-se em assíduos defensores da ocupação do Sahara Ocidental; ao ponto de um governo socialista ter chegado a excluir a F.Polisario na proposta de negociação quadripartida para solucionar o contencioso saharaui entre Marrocos, Argélia, Espanha e França; esta proposta não foi avante porque o Presidente argelino, Bouteflika, disse que a Argélia "não negociará em nome dos saharauis"; e, pior ainda, se possível, um ministro de Negócios Estrangeiros de Espanha, o Sr. Moratinos, se prestou a fazer alguns serviços extras e oferecendo-se para assessorar Marrocos na elaboração de uma proposta de autonomia para o Sahara Ocidental.

Também o comportamento do ex-presidente do governo socialista, Felipe Gonzales, uma vez fora da Moncloa, é claramente censurável, uma vez que se prestou a realizar iniciativas especiais, ao serviço de Hassan II e Mohamed VI, ao ser enviado junto do Governo da Colômbia para convencer as autoridades desse país de retirar o seu reconhecimento da RASD e também viajado ao Chile para impedir que este país reconhecesse a RASD.

Todos estes comportamentos nos revelam que alguns dirigentes e pesos pesados do PSOE, como o ex-presidente do governo, o Sr. Felipe Gonzales, o Sr. Moratinos, a Sra. Trinidad Gimenez [MNE do Governo Zapatero de 7 de abril de 2009 a 20 de outubro de 2010] e o Sr. Zapatero, não foram coerentes com as posições do seu partido em relação à defesa das resoluções da ONU relativas à descolonização do Sahara Ocidental e dos legítimos direitos do povo saharaui à autodeterminação; estes dirigentes aparentam publicamente manter uma posição equidistante no contencioso saharaui mas, na prática, apoiam o Makhzen na sua ocupação do Sahara Ocidental.

A posição dos governos do PSOE foi muito bem caracterizada pelo presidente argelino Abdelaziz Bouteflika em agosto de 2005, ao dizer que "Os socialistas espanhóis não foram honestos com os saharauis".

Atualmente a posição do PSOE em relação ao contencioso do Sahara Ocidental é dúbia, já que, até ao momento, o atual Secretário-Geral do PSOE, Pedro Sánchez, ainda não se pronunciou quanto à sua posição perante o conflito.


Por Honesto Hosein

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