As declarações da Presidente da Junta da
Andaluzia, Susana Díaz [PSOE], desautorizando a visita que o seu
Vice-Presidente, Diego Valderas [Esquerda Unida] tem programado aos acampamentos
de refugiados Saharauis em Tindouf, são dececionantes e estão suscitando uma
controvérsia no seio da opinião pública em geral, especialmente na Andaluzia, já
que segundo a presidente a viagem constitui uma afronta "ao único aliado
estável de Espanha e da Europa" na região.
Susana Díaz também afirmou que o seu governo tem
de ser "respeituoso em relação à posição que tem o Governo de Espanha em
matéria de Relações Exteriores" e que "qualquer relação com terceiros
países que impliquem um conflito internacional, tem que estar à margem da ação do
Governo [andaluz]".
Suzana Diaz |
A experiência tem-nos mostrado que os
governos socialistas da Andaluzia se comportam de uma forma quando se trata de
censurar as atitudes dos líderes de qualquer partido político, e de forma bem
diferente se se trata do líder do PSOE. Os exemplos são muitos:
A 19 de dezembro de 2001, o Secretário-Geral
do PSOE, José Luis Rodríguez Zapatero, realizou uma vista desautorizada pelo Governo
espanhol a Marrocos, quando Espanha estava em plena crise diplomática com Marrocos;
no entanto, nesse caso, o Governo de Andaluzia não se opôs à visita de Zapatero
e não foi muito "respeituoso com as posições do Governo de Espanha em matéria
de Relações Exteriores". É também o caso da visita que realizou o também Secretário-Geral
do PSOE Felipe Gonzales a 14 de novembro de 1975 aos mesmos Acampamentos de
Refugiados Saharauis em Tindouf e a que agora o Governo de Susana Díaz, quer
proibir ao Vice-presidente da Andaluzia, Diego Valderas.
Uma das principais causas das derrotas eleitorais
e da perda de militantes e simpatizantes do PSOE deve-se ao facto dos
dirigentes do PSOE não serem coerentes com os fins e objetivos do partido, já
que se pronunciam de uma forma e atuam de outra distinta, e cada vez mais se
desviam dos princípios do socialismo; e, em muitos casos, comportam-se e
defendem posturas mais direitistas que a própria direita.
Se analisamos o comportamento e/o
posicionamento dos principais dirigentes do PSOE em relação ao contencioso do
Sahara Ocidental, constatamos que os dirigentes socialistas, quando estão na
oposição, pronunciam-se e apresentam-se mais solidários e participativos nos eventos
e atos públicos em defesa das resoluções da ONU, e dos legítimos direitos do
povo saharaui à autodeterminação; mas esses mesmos dirigentes, ao chegarem a Moncloa
[Palácio do Governo de Espanha], mudam de postura e convertem-se em assíduos
defensores da ocupação do Sahara Ocidental; ao ponto de um governo socialista ter
chegado a excluir a F.Polisario na proposta de negociação quadripartida para
solucionar o contencioso saharaui entre Marrocos, Argélia, Espanha e França;
esta proposta não foi avante porque o Presidente argelino, Bouteflika, disse que
a Argélia "não negociará em nome dos saharauis"; e, pior ainda, se
possível, um ministro de Negócios Estrangeiros de Espanha, o Sr. Moratinos, se
prestou a fazer alguns serviços extras e oferecendo-se para assessorar Marrocos
na elaboração de uma proposta de autonomia para o Sahara Ocidental.
Também o comportamento do ex-presidente do governo
socialista, Felipe Gonzales, uma vez fora da Moncloa, é claramente censurável,
uma vez que se prestou a realizar iniciativas especiais, ao serviço de Hassan
II e Mohamed VI, ao ser enviado junto do Governo da Colômbia para convencer as
autoridades desse país de retirar o seu reconhecimento da RASD e também viajado
ao Chile para impedir que este país reconhecesse a RASD.
Todos estes comportamentos nos revelam que
alguns dirigentes e pesos pesados do PSOE, como o ex-presidente do governo, o Sr.
Felipe Gonzales, o Sr. Moratinos, a Sra. Trinidad Gimenez [MNE do Governo
Zapatero de 7 de abril de 2009 a 20 de outubro de 2010] e o Sr. Zapatero, não foram
coerentes com as posições do seu partido em relação à defesa das resoluções da
ONU relativas à descolonização do Sahara Ocidental e dos legítimos direitos do
povo saharaui à autodeterminação; estes dirigentes aparentam publicamente
manter uma posição equidistante no contencioso saharaui mas, na prática, apoiam
o Makhzen na sua ocupação do Sahara Ocidental.
A posição dos governos do PSOE foi muito bem caracterizada
pelo presidente argelino Abdelaziz Bouteflika em agosto de 2005, ao dizer que
"Os socialistas espanhóis não foram honestos com os saharauis".
Atualmente a posição do PSOE em relação ao contencioso
do Sahara Ocidental é dúbia, já que, até ao momento, o atual Secretário-Geral do
PSOE, Pedro Sánchez, ainda não se pronunciou quanto à sua posição perante o
conflito.
Por Honesto Hosein
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