terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Quem tenta desestabilizar Marrocos?


Todos os documentos em ARSO

Ainda as revelações da documentação secreta da diplomacia e dos serviços de contra-espionagem marroquinos divulgados pelo misterioso twittero @chris_coleman24.

Artigo do jornalista Ignacio Cembrero, do "El Mundo", no seu blog 'Orilla Sur'

O twittero que sob um falso perfil revela desde há mais de três meses centenas de documentos e telegramas eletrónicos da diplomacia e do serviço de inteligência exterior (DGED) marroquinos afirmou em outubro que o seu objetivo era "desestabilizar" Marrocos. Não o conseguiu, mas muitos dos seus tweets constituem um verdadeiro quebra-cabeças para as autoridades de Rabat.

O anónimo twittero não dissimula, em alguns comentários, as suas simpatias pelo independentismo saharaui ainda que tenha divulgado um ou outro telegrama diplomático prejudicial para os interesses da Frente Polisario. Publica os seus documentos de forma desordenada. Não conseguiu impedir que, provavelmente graças às iniciativas de Rabat, lhe fechem as suas contas em algumas das webs em que aloja os seus arquivos, mas conseguiu mantê-las em outras.

Salahedin Mezzouar, ministro dos Negócios Estrangeiros marroquino

Os megadados que acompanham os tweets do falso Chris Coleman — o autêntico é treinador da seleção de futebol de Gales — indicam que está dentro de Marrocos, mas um hábil hacker pode muito bem enganar a rede social. Expressa-se num francês muito correto, o idioma em que está redigido quase todo o material que difunde.

Quem se esconde por detrás de @chris_coleman24? Os poucos responsáveis marroquinos que até agora se pronunciaram publicamente sobre o tema, como a ministra-adjunta dos Negócios Estrangeiros, Mbarka Bouaida, o porta-voz do Governo, Mustafa el Khalfi, ou uma das vítimas do pirateio, o jornalista Ahmed Charai que aparenta ter uma estreita relação com a DGED, acusaram em uníssono os serviços secretos argelinos.

Na primeira entrevista em que aborda o tema, com o semanário francês “Jeune Afrique”, o chefe da diplomacia marroquina, Salahedin Mezzouar, denunciou também, a semana passada, a "pirataria" cujos "autores e padrinhos só podem ser elementos hostis a Marrocos". Tem então em mente o regime argelino? " Não afirmei isso de maneira tão direta ", respondeu.

Potência estrangeira ou grupo de jovens?

Nos círculos diplomáticos e jornalísticos de Rabat julga-se que o Governo marroquino já não aponta à Argélia e reativam-se as especulações sobre quem se oculta por detrás do twittero. Alguns afirmam que um punhado de jovens saharauis independentistas terão conseguido piratear computadores marroquinos com papéis confidenciais. Não são profissionais da comunicação. Assim se explicaria o caos que caracteriza a sua publicação.

Outros, em Rabat, falam de um ajuste de contas no seio do regime e sublinham que, até ao momento, não foi divulgado nenhum documento prejudicial para a Direção da Supervisão do Território (DST), ou seja a polícia secreta marroquina. Há diplomatas que se questionam sobre quem beneficia com o delito perpetrado por twittero e respondem que a secretaria-geral da ONU, com quem Marrocos mantem tensas relações, sai muito bem da leitura dos telegramas assim como a diplomacia dos EUA.

Abdellatif Hammouchi, chefe da DST

Há uma última hipótese que ganha força. Refere nada menos que a França e os seus serviços secretos. As autoridades marroquinas cortaram há já mais de dez meses a cooperação judicial e policial com a antiga metrópole depois de um juiz instrutor francês ter tentado interrogar em Paris o chefe da DST, Abdellatif Hammouchi. Contra ele foram apresentadas em França três ações por torturas, duas delas apoiadas pela Associação de Cristãos pela Abolição da Tortura. "Marrocos era uma das nossas principais fontes de informação" na luta antiterrorista, lamentava-se há dias o ex-ministro do Interior francês, Charles Pasqua.


A imprensa oficialista marroquina também revelou, em maio, o nome da chefe dos serviços secretos franceses (DGSE) em Marrocos, Agnès Féline, que se viu obrigada a abandonar rapidamente o país. Quem soprou à imprensa que por detrás dessa mulher acreditada como diplomata havia um agente secreto? Provavelmente aqueles mesmos que a acreditaram. Daí que na capital marroquina alguns cogitem que @chris_coleman24 é a vingança francesa por esses golpes baixos.

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